Mão pesada do governo dificulta a vida do investidor

<span style="font-size: 11pt">Apesar dos juros mais baixos da história recente, as constantes intervenções do governo na economia afetam a Bovespa</span>

Paula Barra

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SÃO PAULO – Durante anos perdurou no Brasil a ideia de que a queda dos juros geraria euforia na BM&FBovespa. Mas, ultimamente, parece que essa relação anda meio distorcida. A mão pesada do governo federal, que se moveu para um caminho de medidas macroprudenciais, pressionou as margens de lucro e fluxos de caixa de várias empresas abertas. Nas intervenções mais recentes, os setores de energia elétrica e bancário é que levaram o choque.

A maior gestora de fundos de renda fixa do mundo, a Pimco, mostra uma visão muito clara a respeito do momento: a combinação de retornos atraentes em negócios que assegurem a sustentabilidade de geração de caixa está cada vez mais difícil de ser encontrada no Brasil.

O governo tem realizado intervenção atrás de intervenção, em uma tentativa de “apagar o incêndio” na economia, disse o analista-chefe da Souza Barros Corretora, Clodoir Vieira. O problema é que, como se sabe, o capital é covarde. Para Clodoir, essas atitudes podem acabar afastando o investidor estrangeiro, que representa atualmente quase 40% de participação na BM&FBovespa.

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Quem compartilha da mesma ideia é o gestor da Constellation Asset Florian Bartunek. “As recentes interferências de Dilma Rousseff na economia têm machucado a imagem do mercado brasileiro.” Esse cenário de constantes intervenções gera uma maior aversão ao risco por parte dos investidores, porque não há visibilidade dos resultados econômicos no longo prazo, completa o sócio-diretor da AZ Investimentos Ricardo Zeno.

“As mudanças de política são imprevisíveis e significantes, promovendo disparadas súbitas em determinados setores e mudanças enormes em outros”, afirmam Maria Gordon, líder da equipe de ações para América Latina, e Ricardo A. Flax, analista para a região, da Pimco. “As empresas estatais estão sendo convocadas a investir contra os melhores interesses dos acionistas minoritários”, afirmam em relatório. A Petrobras (PETR3; PETR4) e o Banco do Brasil (BBAS3) seriam duas das vítimas da mão pesada do governo.

Atuação do Estado em várias frentes
A principal queixa dos investidores está relacionada a mudanças de regras no meio do jogo. É como se o ministro da Fazenda, Guido Mantega, escolhesse quais setores devem crescer mais e quais já lucram muito e têm agora a obrigação de dar uma contribuição ao Estado.

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Entre as empresas mais beneficiadas pelo governo, via redução de impostos ou concessão de empréstimos a juros camaradas, estão as montadoras, as siderúrgicas, as empresas de papel e celulose e os frigoríficos. Já os setores com mais motivos para reclamar são os de mineração, bebidas, bancos, energia e teles, assim como a Petrobras. Teme-se que as companhias de portos, rodovias, varejo e cartões sejam em breve chamadas a ajudar na redução do custo Brasil.

Fuja da área de interferência do governo
Os analistas são unânimes ao apontar que o setor elétrico é o que mais sofre com as mudanças, vivendo um pesadelo na BM&FBovespa desde o choque de Dilma. A nova regulação alterou o perfil do setor na Bolsa. Quem estava acostumado com lucros gordos e farta distribuição de dividendos vai ter de olhar para outros ativos se quiser garantir um retorno atraente.

Já as estatais também devem perder em termos de eficiência de gestão, afirma Zeno. Na hora de escolher uma empresa para investir, Bartunek avalia que é importante eliminar empresas com má governança, setores com pouquíssimas barreiras de entrada ou empresas ligadas ao governo.

Por outro lado, os analistas recomendam papéis do setor de consumo, que deve ser mais favorecido com as mexidas do governo na economia. “O perfil de retorno de negócios de consumo é mais atraente. O dilema aqui é a valorização. O consumo básico, por exemplo, negocia com múltiplos recordes quando comparado com o universo do mercado emergente, mas se você começa a eliminar as alternativas, o consumo pode ser tudo o que resta, e se o crescimento se acelera, esse setor pode ser uma boa opção ”, comenta a Pimco.

Quem também deve ganhar é o setor siderúrgico, diante do corte do preço da energia e do aumento do imposto de importação, avalia Vieira.