Manifestações contra Bolsonaro têm baixa adesão popular: o que isso indica para a política e para os mercados?

Avaliação de analistas é que protestos fracassaram, com oposição dividida; projeção é de que reformas possam ser retomadas, também após declaração à Nação

Lara Rizério

Manifestações 12 de setembro (Foto: Roberto Parizotti)

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SÃO PAULO – Ao contrário do ocorrido após as manifestações do dia 7 de setembro a favor do governo, quando o Ibovespa caiu 3,78%, o dia depois das manifestações contra Jair Bolsonaro e a favor do impeachment do presidente é de alta expressiva para a Bolsa brasileira. Às 15h15 (horário de Brasília) desta segunda-feira (13), o Ibovespa avançava 1,74%, a 116.277 pontos.

Há outros fatores, como a alta das Bolsas no exterior, que ajudam a explicar esse movimento. Contudo, a leitura dos investidores sobre os protestos do último domingo (12) também impulsionam a alta da Bolsa brasileira. A visão é de que os protestos esvaziados ajudam a afastar a pauta sobre impeachment, diminuindo a crise institucional e voltando o foco para a pauta de reformas.

Na avaliação da consultoria política Arko Advice, os protestos realizados em 17 capitais e convocados pelo MBL e pelo Vem Pra Rua com o objetivo de unir a oposição em favor do impeachment do presidente Jair Bolsonaro, fracassaram.

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A XP ressalta a visão de governistas de que a redução na temperatura contribuiu para o esvaziamento das manifestações convocadas para ontem pelas oposições – rachadas – ao governo. Isso após o aceno do presidente Bolsonaro na última quinta-feira (9) para os demais poderes em Declaração à Nação, após uma fala bastante incisiva de ameaça às instituições nos atos registrados no último dia 7.

As manifestações contaram com o apoio de PSDB, Cidadania, PSB, Rede, PDT, PSD, PCdoB e Novo. Também estiveram presentes os movimentos Acredito e Livres.

A Central Única dos Trabalhadores (CUT), ligada ao PT, não participou da manifestação, enquanto Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), a Força Sindical e a União Geral dos Trabalhadores (UGT) marcaram presença do ato.

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“Embora partidos de esquerda tenham participado, não houve a mobilização de suas máquinas partidárias em favor do movimento. Além disso, as siglas de esquerda com maior capacidade de mobilizar as ruas – PT e PSOL – não apenas não aderiram às manifestações como trabalharam contra elas nos bastidores”, ressalta a Arko.

Isso porque, cabe lembrar, os protestos foram convocados pelo MBL e pelo Vem pra Rua. Eles também foram protagonistas do processo de impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Assim, com a resistência do PT e do PSOL, foi esvaziada uma tentativa de construir uma frente ampla antibolsonarista.

“Soma-se a isso as sinalizações de que, apesar de líderes do PT declararem ser favoráveis ao impeachment de Bolsonaro, na prática o partido, sobretudo o ex-presidente Lula (PT), tem pouco interesse nisso, já que Lula deseja enfrentar Bolsonaro nas eleições de 2022”, aponta a Arko.

A avaliação é de que a baixa adesão mostra as dificuldades que a chama terceira via encontrará para conseguir o respaldo das ruas, aponta a Arko. “Nem mesmo a participação dos presidenciáveis João Doria (PSDB), Ciro Gomes (PDT) e Luiz Henrique Mandetta (DEM) foram suficientes para aumentar a mobilização”, apontam.

Os analistas da casa ressaltam que, como parte da direita liberal se associou aos setores mais conservadores e hoje apoia o bolsonarismo, a capacidade da
centro-direita que rompeu com Bolsonaro levar a população para as ruas é baixa.

Reformas podem ganhar ímpeto?

No curto prazo, antes de 2022, a falta de mobilização nas ruas mostra que o impeachment, que já era complicado por conta do seu curto espaço de tempo, conforme destacou João Villaverde, consultor da Medley Global Advisors, em live no InfoMoney na última semana, ficou ainda mais distante.

Na avaliação de Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, a baixa mobilização nos protestos do dia 12 é mais um ponto de sobrevida política do incumbente, que necessita agora de alguns fatores importantes, entre eles: o cumprimento da pacificação descrita na carta e especialmente; o avanço das reformas estruturantes arrastadas no congresso.

A equipe de análise da Levante Ideias de Investimentos aponta que, com o arrefecimento dos ânimos após a divulgação da Declaração à Nação, o governo tenta recolocar nos trilhos a agenda econômica – principalmente na Casa Legislativa onde há diversos projetos em banho-maria, o Senado Federal.

Os analistas lembram que o Planalto se reuniu com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), nos últimos dias para firmar um compromisso com o avanço de pautas de interesse do governo nas próximas semanas.

Na lista, estão ao menos cinco matérias: a reforma do Imposto de Renda, o novo marco legal das ferrovias, o novo marco legal do câmbio, a BR do Mar (apelido dado ao novo marco legal da cabotagem) e o projeto de privatização dos Correios.

“Enxergamos a pacificação entre Poderes como necessária para que a possibilidade de avanço de pautas econômicas no Congresso se concretize. Sendo assim, a segunda quinzena de setembro deve trazer um fluxo de notícias mais positivo vindo de Brasília, principalmente por conta dos esforços do governo – que agora corre atrás do prejuízo para entregar seus projetos”, avaliam os analistas da Levante.

Vieira, da Infinity, também aponta que, se tudo se consolidar sem os tradicionais e incômodos ruídos políticos, a tendência para os ativos de mercado financeiro seria de maior estabilidade. Porém, faz um alerta: “ao estarmos inseridos no imponderável da política, tudo não passa de conjecturas, afinal, sempre existe o elemento humano”.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.