Mais uma temporada positiva, mas atenção à concorrência: o que esperar dos balanços de Via Varejo, B2W e Magalu

Via Varejo divulga seus resultados hoje após o fechamento do mercado; ações tiveram forte queda em fevereiro, em meio ao alerta sobre maior concorrência

Lara Rizério

(William_Potter/ Getty Images)

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SÃO PAULO – Na esteira de resultados fortes divulgados pelo Mercado Livre na véspera e a notícia de que a companhia argentina vai investir R$ 10 bilhões no Brasil apenas em 2021, as empresas com exposição ao e-commerce que tem ações listadas na B3 começam a divulgar os seus resultados.

A expectativa é de bons números para o quarto trimestre, coroando um 2020 marcante para o setor, positivamente impactado com as restrições de mobilidade por conta da pandemia do coronavírus. Ao mesmo tempo, o possível impacto nas vendas com menor auxílio do governo e de antecipação do consumo em outros períodos seguem no radar, além das iniciativas para enfrentar o ano de 2021 em meio aos sinais de maior concorrência.

Quem inaugura a temporada de resultados para as ações pertencentes ao Ibovespa nesta terça-feira (2) após o fechamento do mercado é a Via Varejo (VVAR3), dona das Casas Bahia e do Ponto Frio. Vale ressaltar que os ativos VVAR3 estiveram entre as maiores baixas do Ibovespa em fevereiro, com baixa de cerca de 19%. Isso justamente em meio ao sinais de que a competição entre as varejistas está aumentando, o que foi perceptível com o acordo para a fusão entre B2W (BTOW3 ) e Lojas Americanas (LAME4) (veja mais clicando aqui).

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Assim, além dos números do quarto trimestre, a serem divulgados nesta terça, as iniciativas para lidar com as rivais serão acompanhados de perto pelos investidores.

De acordo com os analistas do Bradesco BBI, o e-commerce seguirá sendo o destaque dentro do setor varejista, esperando que a Via Varejo registre uma alta de 94% no seu GMV (‘gross merchandise value’, ou venda bruta de mercadorias) online no quarto trimestre na comparação com o igual período de 2019, ante alta de 120% do Magazine Luiza (MGLU3) e alta mais modesta de B2W, de 51%.

“As empresas deram algumas indicações de seu desempenho na Black Friday, então não esperamos ver grandes surpresas no dia dos resultados. O principal problema enfrentado por elas agora é o quanto o crescimento do GMV desacelerará em 2021. A expectativa é de que a gestão de cada uma delas esteja relativamente otimista sobre o primeiro trimestre deste ano (já que há uma menor base de comparação frente o primeiro trimestre de 2020), sendo provável que só tenhamos uma ideia melhor de desaceleração em abril”, avaliam.

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Já a XP Investimentos espera uma desaceleração do ritmo de crescimento do canal online, possivelmente decorrente de uma antecipação de algumas compras pelos consumidores ao longo do ano, levando a uma Black Friday com um mix atípico no trimestre (menor ticket médio). “Além disso, continuamos a ver margens brutas pressionadas por um impacto de mix (maior participação do segmento online) enquanto a diluição de despesas operacionais deve compensar parte desse impacto”, avaliam os analistas Danniela Eiger, Thiago Suedt e Marcos Nardini.

A Via Varejo é vista como um destaque positivo no segmento nessa temporada por entregar crescimento de vendas mesmas lojas positivo no varejo físico e um crescimento ainda forte no e-commerce, mantendo sua margem Ebitda (Ebitda sobre receita líquida) praticamente estável em relação ao ano anterior. Do outro lado, com resultados menos inspiradores, estão a B2W e Lojas Americanas, uma vez que devem entregar um crescimento abaixo dos seus pares no online combinado com uma pressão de margem de bruta, enquanto o varejo físico deve ter uma performance fraca impactada pelo aumento das restrições.

Contudo, vale ressaltar, BTOW3 e LAME4 têm se movimentado depois de um 2020 em que elas ficaram para trás de Via Varejo e Magalu. Em comunicado sobre o estudo para a fusão entre elas, as companhias citaram que a união poderá criar um “poderoso negócio” de publicidade integrado, reunindo fornecedores, vendedores e outros parceiros. A XP Investimentos destacou na ocasião ver a potencial transação como positiva, por eventualmente garantir uma melhor gestão estratégica, agilidade e uma “precificação mais justa das ações”. Os analistas acreditam que a tendência do setor de e-commerce é oferecer um ecossistema mais amplo, abarcando todas as etapas de compra pelos clientes (veja mais clicando aqui). Assim, mais do que o resultado passado, as expectativas para o futuro serão observadas de perto pelos investidores.

Confira o que esperar para as companhias no quarto trimestre de 2020:

Via Varejo (VVAR3)

Divulgação do resultado: 2 de março, após o fechamento do mercado
Teleconferência: 3 de março, às 14h (horário de Brasília)

A XP Investimentos aponta que, apesar de um cenário mais desafiador para o varejo físico principalmente em dezembro com o aumento das restrições, a expectativa é de que a companhia apresente um crescimento de vendas no conceito mesmas lojas de 4,2% na comparação anual (em linha com o terceiro trimestre de 2020 versus queda de 0,9% no quarto trimestre de 2019).

Em relação ao e-commerce, a estimativa é de um crescimento do GMV em 92,6% na comparação anual, com vendas de estoque próprio (1P) em alta de 95% (versus 294% no terceiro trimestre) e um crescimento de 85% no marketplace (3P) (versus  83,4% no terceiro trimestre).

“Em relação à rentabilidade, esperamos uma pressão de margem bruta de 0,7 ponto percentual na base anual decorrente de um impacto de mix de canal (maior participação do online) enquanto a margem Ebitda ajustada deve ficar levemente abaixo do quarto trimestre de 2019, em 7,8%, por conta da diluição de despesas operacionais. Finalmente, estimamos o lucro líquido em R$ 147 milhões, versus um prejuízo de R$ 25 milhões no quarto trimestre de 2019”, apontam os analistas da XP.

A Eleven Financial, por sua vez, aponta que, no quarto trimestre de 2020, a Via Varejo realizou a maioria de suas vendas através do e-commerce. Por conta disso, terá um impacto negativo em sua margem bruta e também na margem Ebitda em
decorrência do aumento das despesas de manuseio e frete. Já o lucro não deve ser impactado, uma vez que a Via Varejo passará a se beneficiar de benefícios fiscais: a previsão é de um lucro líquido ajustado de 149 milhões.

B2W (BTOW3 ) e Lojas Americanas (LAME4)

Divulgação do resultado: 4 de março, após o fechamento do mercado
Teleconferência: 5 de março, às 12h para B2W, 14h30 para Americanas

Para a XP, a B2W deve apresentar um crescimento de GMV de 40,4% na base anual, desacelerando em relação ao terceiro trimestre, quando teve avanço de 56,1% na comparação com igual período de 2019, sendo alta de 52% anual na operação própria (1P) e de 34% no marketplace (3P).

“Com isso, a companhia deve continuar a apresentar um crescimento inferior aos seus pares, muito explicado pelo fato dos vendedores do marketplace terem enfrentados problema de estoque, dado o desequilíbrio da oferta da indústria decorrente da Covid-19”, avaliam Danniela, Suedt e Nardini.

Em relação à rentabilidade, é esperada uma contração de margem bruta de 2,1 pontos percentuais na base anual por conta da maior participação da operação própria, mas a margem Ebitda deve ficar estável em relação ao quarto trimestre do ano passado, em 11,3%. A estimativa é de um lucro líquido de R$ 9 milhões, uma melhora em relação ao prejuízo de R$ 22 milhões do quarto trimestre de 2019.

Na avaliação da Eleven Financial, a reabertura do comércio e parte de seus vendedores sofrendo com dificuldades em repor
estoques devem impactar o ritmo de crescimento da B2W, com o 3P avançando cerca de 35% na base anual, enquanto o 1P deve crescer 50%, abaixo dos números de VVAR3 e MGLU3. “Mesmo com uma maior participação do 1P no mix, tanto a margem bruta quanto a margem Ebitda devem permanecer virtualmente estáveis na comparação anual”, avaliam os analistas. O destaque fica para o lucro líquido de cerca de R$ 10 milhões, mesmo ainda pressionado pela equivalência patrimonial negativa da AME.

Já para Lojas Americanas, a XP prevê um resultado fraco no varejo físico, com uma queda de 6,0% na receita líquida no trimestre na comparação anual, ou baixa de 4,7% anual no conceito mesmas lojas. A expectativa é de uma baixa de margem bruta de 0,9 ponto percentual na base anual; contudo, espera-se uma margem Ebitda relativamente estável decorrente de um bom controle de despesas operacionais.

“No resultado consolidado, estimamos uma receita líquida em R$ 7,4 bilhões (alta de 12,7% na comparação anual), puxada por um forte desempenho do canal online, enquanto a margem Ebitda deverá ter uma queda de 2,5 pontos percentuais dado o impacto de mix de canal (maior participação do online). Finalmente, estimamos um lucro consolidado de R$ 370 milhões, 14% abaixo do ano anterior, por conta de uma contribuição ainda negativa dos resultados da Ame”, projetam os analistas.

A Eleven Financial aponta ainda que, se de um lado, a receita bruta sofreu uma queda marginal por conta do desempenho
das lojas de shopping e de um Natal mais fraco que o normal em decorrência do prolongamento da Black Friday, por outro a margem Ebitda se manteve praticamente estável e o resultado financeiro incorporou benefícios fiscais de juros sobre o capital próprio distribuídos no quarto trimestre, o que acabou por equilibrar o impacto da queda de receita na margem líquida.

Magazine Luiza (MGLU3

Divulgação do resultado: 8 de março, após o fechamento do mercado
Teleconferência: 9 de março, às 11h

Mais uma vez, fortes resultados e números de crescimento para Magalu, embora com uma ligeira desaceleração em
termos trimestrais (em virtude da forte base de comparação com o quarto trimestre de 2019), na avaliação do Itaú BBA.

“Prevemos um crescimento do GMV online de 120,0% em termos anuais, para R$ 9,5 bilhões, com um crescimento das SSS [vendas nas mesmas lojas] de 8,0%, provavelmente impulsionado pelo desempenho robusto das lojas físicas”, avaliam os analistas. A projeção do banco é de uma expansão do faturamento de 55,6% em termos anuais (para R$ 9,934 bilhões), mas com uma contração da margem bruta de 310 pontos-base (para 25,5%), principalmente devido aos impactos promocionais de uma campanha da Black Friday mais prolongada.

Os analistas do BBA apontam ser provável que o Magazine Luiza enfrente alguma pressão dos custos operacionais devido à amortização de certos investimentos (tais como logística e pessoal), levando provavelmente a uma contração da margem Ebitda de 280 pontos-base em termos anuais, para 5,0%. A estimativa do banco é de um crescimento do lucro líquido de 15,1% em termos anuais, para R$ 193 milhões.

A XP Investimentos aponta ver um resultado com tendências similares ao terceiro trimestre de 2020, com crescimento de receita ainda forte, apesar de desacelerando na base trimestral, com uma pressão de margem bruta levemente compensada por uma diluição de despesas operacionais.

Os analistas também apontam que, apesar de um cenário mais desafiador para o varejo físico principalmente em dezembro com o aumento das restrições, a estimativa é por um resultado sólido do varejo físico, com crescimento de vendas no conceito mesmas lojas acelerando em relação ao terceiro trimestre para 9,7% na base anual (de alta de 7,2% no 3T20 e  +12,6% no 4T19).

Em relação ao e-commerce, a estimativa é de uma alta do GMV em 108,7% na comparação anual, com vendas de estoque próprio (1P) em alta de 110% na comparação anual (versus variação positiva de 149,5% no 3T20) e um crescimento de 105%  no marketplace (3P) (versus 145% no terceiro trimestre).  A estimativa é de um lucro líquido em R$197 milhões, subindo 17% na comparação anual.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.