Mais rápido e melhor do que o esperado: o ânimo duplo do mercado com acordo EUA-China

Apesar de positivo, uma resolução estrutural continua distante, dada a complexidade e os entraves da relação bilateral entre Washington e Pequim, aponta Morgan

Felipe Moreira

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O acordo entre EUA e China concordaram em reduzir temporariamente as tarifas recíprocas, em anúncio que animou os mercados. Mas, mais do que o anúncio em si, alguns fatores levaram a uma maior euforia.

Conforme destacou o Morgan Stanley, a redução das tarifas entre EUA e China aconteceu mais rapidamente e de forma mais intensa do que o mercado esperava.

Em anúncio conjunto realizado hoje, as duas maiores economias do mundo confirmaram a reversão da escalada tarifária “olho por olho” e a suspensão, por 90 dias a partir de 14 de maio, de 24 pontos percentuais dos 34% restantes em tarifas recíprocas.

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Segundo as estimativas, o anúncio reduz a tarifa efetiva dos EUA, ponderada pelo comércio com a China, para cerca de 40%, ante os 107% anteriores — um resultado significativamente melhor do que a estimativa-base, que previa uma queda gradual para 71% até meados do ano e 45% até o fim de 2025.

Do ponto de vista macroeconômico, o Morgan Stanley aponta uma tendência de alta moderada para sua projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da China, diante da suspensão tarifária, que representa uma trégua em um cenário que já se aproximava de um embargo comercial bilateral.

Apesar de as tarifas permanecerem em níveis elevados, a janela temporária de alívio pode antecipar embarques e impulsionar a produção, elevando as chances de uma surpresa positiva no PIB do segundo trimestre, atualmente projetado em 4,5% ao ano. Para o terceiro trimestre, cuja estimativa previa uma desaceleração para cerca de 4%, há espaço para uma estabilização acima desse patamar.

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Ainda assim, o Morgan avalia que uma resolução estrutural continua distante, dada a complexidade e os entraves da relação bilateral entre Washington e Pequim.

Os analistas do Morgan destacam a mudança de postura por parte de chineses e americanos, com o comunicado conjunto sinalizando uma transição do confronto direto para uma estratégia de negociação gerida.

Como parte desse novo direcionamento, os dois países concordaram em estabelecer um mecanismo permanente de consultas, que será conduzido pelo vice-premiê chinês He Lifeng, pelo secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, e pelo representante comercial norte-americano, Jamieson Greer.

Mais analistas destacaram que o acordo foi além do que muitos analistas esperavam após semanas de retórica de confronto sobre o comércio.

“Isso é melhor do que eu esperava. Achei que as tarifas seriam reduzidas para algo em torno de 50%”, disse Zhiwei Zhang, economista-chefe da Pinpoint Asset Management em Hong Kong.

“Obviamente, essa é uma notícia muito positiva para as economias dos dois países e para a economia global, e deixa os investidores muito menos preocupados com os danos às cadeias de globais de oferta no curto prazo”, acrescentou Zhang.

As notícias ajudaram a acalmar preocupações sobre uma desaceleração desencadeada pela escalada das medidas tarifárias do presidente dos EUA, Donald Trump, com o objetivo de reduzir o déficit comercial norte-americano.

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“Ambos os países representaram muito bem seus interesses nacionais”, disse o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, após conversas com autoridades chinesas em Genebra. “Nós dois temos interesse em um comércio equilibrado, e os EUA continuarão avançando nesse sentido.”