Magazine Luiza (MGLU3): resultado decepciona e margens seguem sendo questão, apesar de progresso estratégico; ação fecha em queda de 8,6%

Vendas nas lojas físicas seguem sendo pressionadas, assim como margens registraram queda; BBI reduziu preço-alvo para ação após o balanço

Lara Rizério André Cabette Fábio

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Os analistas de mercado já esperavam um quarto trimestre de 2021 sem grande brilho para o Magazine Luiza (MGLU3), com queda das lojas físicas, baixa de margens e desaceleração das vendas em meio ao cenário competitivo mais forte, além do cenário macroeconômico mais desafiador com inflação alta, enquanto a Selic em elevação pressiona o resultado financeiro.

Contudo, alguns números vieram ainda pior do que o esperado pelos analistas, com destaque principalmente para as vendas nas lojas, levando a revisão de números para baixo por algumas casas, como o Bradesco BBI, que reduziu o preço-alvo da ação após o balanço. Do lado positivo, o marketplace, ou 3P, que foi destacado como o foco da companhia, teve um forte desempenho, enquanto analistas saudaram a maior diversificação de produtos nas plataformas da empresa, mostrando também os resultados das aquisições feitas recentemente.

Porém, apesar do progresso estratégico que foi feito até 2021 e maior diferenciação de categorias de produtos, conforme apontou Eduardo Galanternick, vice-presidente de negócios, em entrevista ao InfoMoney após o balanço, as margens em queda devem seguir como uma preocupação para os analistas que cobrem a companhia, em linha com outras do setor.

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Com essa visão pós-resultado, as ações do Magalu abriram em forte queda, chegando à mínima de R$ 4,65, baixa de 12,76%. Os papéis amenizaram as perdas, mas ainda fecharam com desvalorizações expressivas, de 8,63%, a R$ 4,87.

A XP destaca que o Magazine Luiza reportou resultados abaixo das suas estimativas, que já incorporavam um cenário desafiador. A dinâmica de crescimento de receita continua impactada pela fraca performance das lojas físicas frente ao cenário macro e seu impacto na demanda de bens duráveis, com volume bruto de mercadorias (GMV, na sigla em inglês)  Total em alta de 4%.

Houve uma queda de 18% do GMV das lojas físicas totais (versus projeção da XP de queda de 14%, enquanto Via teve baixa de 24% e Americanas teve alta de 11%); já o canal online cresceu 17%, impulsionado pelo 3P (com alta de 60% na base anual).

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Quanto à rentabilidade, a margem bruta apresentou expansão de 0,6 ponto devido à maior participação de serviços nas vendas, enquanto a margem Ebitda (Ebitda, ou lucro antes juros, impostos, depreciações e amortizações, sobre receita líquida) ajustada contraiu 2,6 pontos na base anual, para 2,6%, resultado da desalavancagem operacional por conta da fraca performance das lojas físicas.

A companhia encerrou o trimestre com um prejuízo líquido ajustado de R$ 79 milhões, versus projeção da XP de perdas de R$ 58 milhões, e reportou uma queima de caixa de R$300 milhões.

A varejista ainda teve uma despesa não recorrente de R$ 249 milhões no trimestre, enquanto a provisão de estoques feita no terceiro trimestre, de R$ 395 milhões, acabou antecipando contabilmente um efeito futuro de pressão de margem (inclusive deste trimestre).

Por outro lado, o Magalu deu uma maior abertura da diversificação de produtos em sua plataforma, com as novas categorias representando 45% das vendas do e-commerce em 2021, com destaque para: i) R$ 4 bilhões de GMV do KaBuM!; ii) R$ 1 bilhão de GMV da Época Cosméticos; iii) R$ 1,3 bilhão do AiQFome; e iv) R$ 5 bilhões em Netshoes/Moda.

“Além disso, destacamos o avanço da penetração do Magalu Entregas e Agências Magalu, que reduzem os custos de frete e tempo de entrega, enquanto a companhia sinalizou uma tendência positiva para capital de giro com mais de R$ 1 bilhão de redução em estoques no primeiro trimestre de 2022”, aponta.

A recomendação da XP segue neutra para o papel MGLU3, por esperar uma continuidade de resultados pressionados pelo macro no curto prazo, ainda com um preço-alvo de R$ 12, uma alta de 125% frente o fechamento de segunda-feira.

Os ventos contrários macro e uma base de comparação difícil levaram a um trimestre fraco para a varejista, conforme previsto, apontam os analistas do BBA. Embora a receita líquida (de R$ 9,4 bilhões no quarto trimestre, baixa de 6,6% na comparação anual) tenha ficado em linha com a estimativa do banco, as lojas físicas tiveram desempenho pior do que o esperado, parcialmente compensado por um melhor desempenho digital.

O Itaú BBA ressalta que, nos últimos dois anos, o Magazine Luiza foi favorecido por um cenário atípico que impulsionou seus números de crescimento e resultados. Agora que esse cenário se normalizou, vê a empresa sofrendo os impactos de uma base de comparação difícil e a necessidade de readequar sua estrutura para um cenário mais normalizado de operação – o que acarretaram algumas despesas pontuais durante o quarto trimestre de 2021 que não foram contabilizadas.

“Apesar da recente pressão sobre o desempenho das ações, não vemos gatilhos de curto prazo para uma recuperação neste momento”, apontam os analistas. A recomendação da casa para a ação, contudo, segue outperform (desempenho acima da média do mercado) para o papel, com preço-alvo de R$ 12.

Em breve nota, o Credit Suisse destacou a baixa de 22,8% das vendas das lojas físicas no conceito vendas nas mesmas lojas (SSS, na sigla em inglês), 2,8 pontos percentuais abaixo do número esperado pelo banco, números estes que já tinham sido revisados para baixo.  O desempenho do 1P (estoque próprio) também foi fraco (alta de cerca de 1% na base anual), enquanto o 3P (marketplace) cresceu 60%. Destaque negativo do banco suíço ainda para a rentabilidade, com margem Ebitda negativa (sem ser em termos ajustados) de 0,1%, e para o importante aumento das despesas com juros.

Questão de margens

Para o Bradesco BBI, no geral, os resultados foram fracos e claramente decepcionantes, com o Ebitda ajustado mais de 20% inferior ao consenso da Bloomberg e o esperado pelo BBI, caindo mais de 50% na comparação anual, a R$ 243,5 milhões.  O GMV total também ficou abaixo do esperado pelos analistas do banco, que apontavam alta de 6%.

O capital de giro também foi um ponto fraco, com aumento significativo no estoque no final do exercício, em parte relacionado à aquisição da KabuM! (estoque completo registrado no balanço, com apenas algumas semanas de vendas no demonstrativo de lucros e perdas e em parte relacionado a uma deterioração subjacente, que já está sendo tratada, de acordo com a gestão.

Olhando para 2022, o BBI espera ver uma perda líquida considerável como resultado da maior taxa Selic e um nível mais alto de dívida bruta, o que pode potencialmente arrastar perdas também para 2023. A projeção do BBI para 2022 passou de prejuízo ajustado de R$ 305 milhões para perdas de R$ 677 milhões, enquanto que, para 2023, a projeção passou de lucro de R$ 135 milhões para prejuízo de R$ 181 milhões.

Dito isto, o BBI também ressalta que o Magalu fez um progresso estratégico com R$ 5 bilhões de GMV na categoria Moda e artigos esportivos, equivalente a 10-15% do GMV de comércio eletrônico, enquanto as verticais de Beleza, Mercearia e Entrega de Alimentos também aumentaram. Os pedidos de marketplace estão tendo um aumento de 50% na conversão à medida que os prazos de entrega melhoram, e 30% do GMV vindo do 3P agora está sendo entregue em 48 horas.

“Esperamos que este seja o foco principal da empresa em 2022, uma vez que as categorias de 1P e lojas físicas continuam fracas, pelo menos no primeiro semestre do ano”, apontam.

O BBI destaca que, apesar do progresso estratégico que foi feito até 2021, acredita que o mercado provavelmente se preocupará com as margens. A questão não é necessariamente a pressão no curto prazo, dado o forte balanço da empresa, mas até que ponto as margens se recuperarão nos próximos dois anos e onde elas devem se estabelecer no longo prazo.

“Esse debate vem ocorrendo há algum tempo, mas a incerteza aumenta quando os resultados mostram mais pressão de margem do que o esperado e achamos que isso provavelmente pesará negativamente na ação”, destaca o BBI, que mantém a preferência pelo Mercado Livre (MELI34) entre os nomes de comércio eletrônico.

Os analistas do banco mantiveram uma recomendação neutra para o Magalu, mas cortaram o preço-alvo de R$ 11 para R$ 9 (ainda um potencial e alta de 69% em relação ao fechamento da véspera), devido a revisões para baixo nas estimativas (com maiores encargos e capital de giro menos favorável).

Aquisições como destaque positivo, atenção para desafios de curto prazo

Em coletiva de apresentação de resultados, o CEO do Magalu, Frederico Trajano, ressaltou que as aquisições da empresa, cerca de 20 ao longo dos últimos anos, diversificando as categorias em que atua, com destaque para o KaBuM! em 2021, definindo o público “gamer” consumidor da plataforma como “fiel”.

“Quase 40% desses clientes nunca compraram no ambiente da Magalu”, ressaltou. O executivo destacou ainda o GMV da Netshoes.

Para o executivo, as aquisições ainda precisam ser “digeridas”. No momento, por uma questão de execução, a empresa deve se concentrar sobre os ativos que já foram comprados e parar com novas compras, focando sobre o que já está em seu ecossistema.

Questionado sobre como os desafios de curto prazo mudam a estratégia do Magalu, o CEO Frederico Trajano disse que a companhia está preparada para o que vem acontecendo, ao contrário do que ocorreu no segundo semestre de 2021. “Nem os grandes investidores de fundos estavam preparados para o que aconteceu em inflação e juros e tiveram que ajustar suas carteiras”, afirmou.

Ele disse que a estratégia de diversificação, que vem desde 2019, continua, com busca de novas fontes de receita, mas a empresa vem adequando sua capacidade para a demanda atual. Trajano ponderou que, com a pandemia, houve maior procura dos brasileiros por bens duráveis, o que não era esperado, mas disse que a empresa se fortaleceu e se tornou líder no setor. Assim, quando houver retomada da economia, o Magalu estará bem posicionado, afirmou.

Sobre os desafios de logística, o CEO afirmou que, com a alta da gasolina, o maior custo de distribuição será com transporte. Assim, produtos que percorrem grandes distâncias não têm como ser rentáveis.

Assim, o foco deve se basear em uma base de vendedores descentralizada e local, cada vez mais para fora do eixo Rio-São Paulo. Ele destacou que o Magalu ampliou de 30 cross dockings (método em que a mercadoria recebida num armazém ou centro de distribuição não é estocada, mas preparada ser entregue ao cliente ou consumidor imediatamente ou o mais rapidamente possível) para 272. E que as agências Magalu são utilizadas como pontos de redespachos de mercadorias pelos vendedores.

Do ponto de vista do usuário, ele afirmou que há uma reengenharia das categorias, de forma a facilitar que o consumidor local seja servido pelo vendedor local. Ele disse que a empresa investe em tecnologia de geolocalização para garantir esse processo.

Sobre reduções na estrutura de custo e o impacto na margem Ebitda, o CEO do Magalu, Frederico Trajano, afirmou que o volume de vendas no quarto trimestre ficou abaixo de suas próprias estimativas por conta da desaceleração econômica inesperada, o que motivou ajustes.

“Tínhamos um capacity dimensionado no quarto trimestre que não aconteceu”, disse. Assim, houve um ajuste para adequar a estrutura ao volume que o mercado está suportando no momento. Isso inclui produtividade do pessoal, frete, otimização logística e marketing. “Se a economia não está boa você tem que fazer a sua lição de casa na companhia”, disse.

Trajano afirmou que o público de baixa renda perdeu muito poder de compra com a inflação, já que a renda média do comprador é de R$ 2.500. “Um Brasil com impacto inflacionário é um país de poucos”, com exceção dos clientes premium, afirmou. “Esperamos que a situação se normalize rapidamente”, e que haja queda da inflação e distribuição de renda, disse.

A expectativa é de melhoras mais expressivas no cenário macroeconômico no segundo semestre de 2022. Ele ponderou que “pode acontecer de tudo”, mas disse que não espera “grandes surpresas”.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.