Magazine Luiza (MGLU3) abaixo de R$ 4: é hora de comprar a ação?

Apesar de destacarem qualidade de execução da varejista, analistas avaliam que não, tanto em meio ao cenário macro mais desafiador quanto pela concorrência

Lara Rizério

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Dos tempos “áureos” em novembro de 2020, quando chegou a bater os R$ 27 – em meio aos bons números do e-commerce com a mudança de hábitos do consumidor diante da pandemia –  até este mês de maio de 2022, quando foi para abaixo de R$ 4, a ação do Magazine Luiza (MGLU3) registra uma baixa de cerca de 87%.

Muitos fatores podem explicar a queda recente das ações após o forte desempenho passado: cabe destacar que, apenas em 2020, as ações saltaram 109%. Naquele ano, o primeiro marcado pela pandemia de Covid-19, mais pessoas passaram a adotar o home office, também tendo maior necessidade de equiparem seus lares com artigos que trouxessem mais praticidade, conforto e qualidade de vida.

Os recursos antes destinados a serviços e consumo discricionário, foram boa parte alocados em móveis e eletrodomésticos. Segundo a Pesquisa Mensal do Comércio realizada pelo IBGE, as atividades relacionadas a móveis e eletrodomésticos cresceram 11,9% e 10%, respectivamente. As aquisições desses bens beneficiaram varejistas que focavam na venda desses produtos de maior tíquete, caso do Magalu.

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Contudo, “passado o período mais turbulento da pandemia e com a retomada do fluxo de pessoas, já conseguimos observar uma volta à normalidade do trabalho presencial. Aliado a isso, reforçamos a característica intrínseca dos móveis, linha branca e eletrônicos: bens duráveis. Ou seja, seu ciclo de vida e uso é maior e dispensa reposição regular. Então, devido ao fato das pessoas já terem consumido essas categorias de produtos nos últimos meses, acreditamos que os recursos, a curto prazo, serão direcionados ao setor de serviços e mais ligados à vida social”, destaca a equipe de research do banco Inter em análise sobre a empresa. Essa menor procura pelos produtos do segmento acaba afetando as vendas da varejista.

Além disso, conforme destaca a Nord Research, apesar de a companhia ter uma excelente estratégia e comprovada capacidade (financeira e operacional) de execução, suas ações não param de cair pelo combo de situação fiscal frágil, efeitos da Covid-19 na economia e incertezas relacionadas às eleições, além da expectativa para a inflação e consequentemente para os juros brasileiros, que já não era positiva.

“Depois da guerra declarada pela Rússia contra a Ucrânia, a situação ficou ainda mais complicada”, avalia, uma vez que pressionou ainda mais os preços, aumentando as indicações de prolongamento do aperto monetário e, desta forma, reduzindo as perspectivas de consumo.

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Além disso, aspectos intrínsecos ao seu negócio, como o elevado nível de competição no varejo generalista brasileiro, principalmente no online, com a entrada das companhias asiáticas no mercado, e também o erro pontual na gestão de estoques (que está obrigando a empresa a realizar relevantes liquidações), elevam os gastos com marketing e têm pressionado a receita da empresa, aponta a análise.

Assim, nos últimos trimestres, os papéis já vinham sofrendo na esteira de resultados pressionados com a queda de margens da companhia, com o menor consumo de produtos de maiores tíquetes médios, como eletrodomésticos. Ao mesmo tempo, o cenário de alta de juros não só no Brasil, como em outras partes do globo, em meio à persistente alta dos preços, pressiona o consumo mundial, afetando as ações de empresas do setor, o que também influencia as cotações por aqui.

Margens voltaram a subir, hora de comprar as ações? Analistas avaliam que não

No primeiro trimestre de 2022, depois de diversos resultados mostrando queda de suas margens, uma boa notícia para o Magalu: a companhia conseguiu reverter as quedas de rentabilidade. Destaque para a expansão de margem bruta em 2,7 pontos percentuais (p.p.) na base anual, para 27,8%, beneficiada pelo repasse de preços e crescimento das receitas de serviços. As ações até chegaram a abrir com ganhos na sessão pós-balanço, em 17 de maio, mas fecharam em queda de cerca de 11%, abaixo de R$ 4 e sem conseguir sair deste patamar até o momento.

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Alguns motivos contribuíram para esta virada nas ações apesar da rentabilidade ter apresentado sinais de melhora. Entre eles, a leitura pós-resultado de que o crescimento seguirá pressionado pelo cenário macro, além de ter havido uma forte queima de caixa de R$ 3,6 bilhões.

Assim, tanto o Bradesco BBI quanto a XP, esta última após conversa com investidores institucionais, destacaram que a visão é de que o papel ainda não é visto como barato, apesar da forte queda dos ativos. A análise é compartilhada até pelos mais otimistas que, mesmo vendo um bom potencial de valorização para o papel em relação ao seu preço-alvo, não veem grandes catalisadores de curto e médio prazo para a companhia.

A XP avalia que hoje a companhia negocia a 23 vezes o múltiplo de preço sobre o lucro de acordo com as suas estimativas, versus um múltiplo visto como atrativo pelos investidores com quem os analistas conversaram em torno de 15-20 vezes. Isso implicaria um preço em torno de R$ 2,50 a R$ 3 por ação nos números da casa, ainda abaixo dos patamares atuais.

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Já o BBI aponta que, olhando para o múltiplo mais tradicional de EV (valor da firma) sobre o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações, na sigla em inglês), as ações estão sendo negociadas em cerca de 14 vezes para 2022 e cerca de 10 vezes para 2023, múltiplos que os analistas do BBI não consideram “irracionais”.

Contudo, dada a dinâmica de crescimento atual, não veem como suficientemente convincentes para mudar o debate em torno da ação e mudar a visão de que o papel está atrativo. Assim, a recomendação do BBI para o papel segue neutra, com preço-alvo de R$ 9 por ação, ainda um potencial de valorização de 142% frente o fechamento da véspera.

Também destacando as conclusões sobre a conversa com investidores institucionais, a XP destaca que, de modo geral, a grande preocupação dos investidores foi a queima de caixa no trimestre que, de acordo com a companhia, deve reverter ao longo dos próximos trimestres. Na visão de Cassio Lucin, analista de investimentos da Neo, também se tratou de uma questão pontual.

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Mas, além disso, e apesar dos resultados aparentemente terem atingido um ponto de inflexão em rentabilidade, ainda existem desafios de crescimento.

Para Lucin, as margens de rentabilidade da companhia devem seguir bastante pressionadas, ainda mais em meio aos esforços que são necessários para melhora de logística e fretes mais baixos para fazer frente a uma maior concorrência.

“A competição está muito acirrada, estamos vendo este movimento de maior concorrência desde o final de 2020. Há empresa com bolso muito grande e alto poder de investimentos, como o Mercado Livre, além das asiáticas Shopee e AliExpress, afetando a rentabilidade do setor  com frete grátis e diminuindo o take rate (taxa de comissão), de modo a manter o cliente dentro da sua própria casa”, avalia, o que torna o investimento do setor em geral menos atrativo. A menor demanda por eletrodomésticos afetou particularmente o Magalu e, mesmo ela tendo investido em maior sortimento de produtos, quando observado em termos agregados, os números de rentabilidade seguem pressionados.

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Após a conversa com agentes do mercado, a XP também destacou: “Não vimos muito apetite dos investidores institucionais em comprar o papel mesmo após a sua forte queda”.

A casa ainda complementa que, na sua visão, “o principal gatilho para mudar o humor dos investidores é uma melhora do cenário macro, como a desaceleração da inflação e perspectiva da virada do ciclo de juros – o que deve acontecer apenas no 2º semestre desse ano”. Assim, a recomendação para os ativos MGLU3 segue neutra, ainda que com preço-alvo de R$ 12 (um potencial de alta de 223%).

Após o resultado, o BB Investimentos reduziu a sua recomendação para o Magazine Luiza. O último balanço apresentado pela varejista foi misto, na visão dos analistas. “Por um lado, houve crescimento das vendas e da receita líquida, com destaque para o forte desempenho do marketplace. Por outro lado, não houve ganho de alavancagem operacional na comparação anual que, combinado com elevação das despesas financeiras líquidas e outros efeitos não recorrentes, resultou em prejuízo no trimestre”, avaliam.

Para os analistas da casa, a forte queda recente das ações vem, além do impacto negativo decorrente do cenário macroeconômico para o segmento de bens duráveis,, também da preocupação dos investidores com a capacidade de manutenção de crescimento com rentabilidade, diante da acirrada concorrência e da necessidade de investimentos em serviços para se destacar frente aos pares pressionando margem operacional.

“Nesse contexto, rebaixamos nossa recomendação de compra para neutra, enquanto mantivemos nosso preço-alvo para o final de 2022 em R$ 7,50 (potencial de alta de 103%), até incorporarmos os resultados referentes ao primeiro trimestre de 2022 e atualizarmos as premissas macroeconômicas”, avaliaram.

Após o balanço, o Morgan Stanley manteve a recomendação equalweight (exposição em linha com a média do mercado) para os papéis MGLU3, com redução do preço-alvo de R$ 7,50 para R$ 6,50 (upside de 75%)

“Somos construtivos com relação ao histórico do Magalu em novas linhas de negócios, mas vemos ventos contrários para as lojas físicas e aguardamos evidências de serviços de valor agregado elevando os resultados gerais da empresa”, apontaram os analistas do Morgan.

Dias melhores virão? 

O banco Inter também reduziu a sua recomendação após os resultados de compra para neutra, com o preço-alvo sendo cortado de R$ 13 para R$ 7 (ainda uma alta de 89%).

Com relação à queda das ações, os analistas da casa destacaram que também está relacionado com o ceticismo do mercado sobre a capacidade da varejista em manter sua fatia de mercado. Aliado a isso, enxergam um cenário desafiador em 2022 com: (i) aumento da inflação; (ii) elevação da taxa de juros; (iii) desemprego elevado e (iv) ano eleitoral. Essa dinâmica de curto prazo não é favorável à confiança do consumidor, apontam.

“Nesse momento acreditamos que o foco das pessoas está no consumo não discricionário (alimentos) e no discricionário de alta renda. Apesar disso, reconhecemos que o Magazine Luiza negocia muito abaixo de seu valor justo. A empresa, focada em construir um ecossistema completo em soluções, está na vanguarda de várias iniciativas entre os pares nacionais. Nossa recomendação neutra visa proteger o investidor até que a conjuntura atual dê sinais de inflexão. A falta de interesse para as empresas mais dependentes da venda de linha branca, eletrônicos e móveis impedem o trigger [catalisador] de valorização”, avaliam.

Em relatório, Rafael Ragazi, analista da Nord, aponta que, apesar das qualidades do trabalho da companhia em relação aos seus principais pilares de crescimento, ainda não é hora de entrar no papel.

“Os últimos resultados do Magalu demonstram que a companhia está entregando um excelente trabalho em relação aos seus 5 pilares fundamentais de crescimento: o crescimento exponencial do 3P (marketplace), as novas categorias (de produtos vendidos), o Super App, a Entrega mais rápida e o MaaS (Magalu as a Service, no qual a empresa vende serviços financeiros, logísticos, de marketing etc. para os sellers em sua plataforma)”, avalia, ressaltando os pontos positivos da varejista.

Além disso, após vinte aquisições em dois anos, agora a empresa está focada em integrar as comprar em sua estrutura e principalmente em seu aplicativo, capturando os ganhos com as sinergias e potencializando o crescimento dos negócios incorporados ao seu ecossistema.

Dado tudo que a empresa tem feito em relação ao seu planejamento estratégico, pensando no longo prazo, as perspectivas são positivas. Contudo, diz o analista da Nord, faz mais sentido esperar por sinalizações concretas de mudança do cenário antes de montar uma posição na empresa, mesmo que às custas de abrir mão de parte do movimento inicial de alta quando o humor do mercado em relação ao Magalu mudar.

“À medida que o preço da ação cai, essa empresa vai se tornando uma oportunidade de investimento cada vez mais interessante. Mas essa oportunidade pode ficar ainda mais interessante se o cenário [macro] atual for mantido. Veredito: fique de fora de MGLU3”, avalia o analista da Nord.

Na avaliação da Levante Ideias de Investimento, ainda há um cenário difícil para o e-commerce no curto prazo, com as principais linhas do Magalu devendo continuar pressionadas pelo macro desfavorável. Entretanto, para os próximos trimestres, os analistas da casa projetam uma melhora da margem Ebitda (relação entre o Ebitda, lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações, sobre receita líquida) dado que, segundo a companhia, em março, o dado ajustado atingiu 6,1%.

“Esperamos também uma melhora no capital de giro, visto que a empresa apresentou níveis de estoques mais saudáveis no trimestre, em decorrência da estratégia de redução de estoques e menor volume de compras”, aponta.

Lucin, da Neo, aponta não ter uma visão positiva no momento não só para as ações do Magazine Luiza, como para as empresas do segmento de e-commerce em geral, reiterando a falta de previsibilidade sobre a rentabilidade das operações, em um cenário que se desenha de cada vez mais investimentos sendo necessários para a melhora de serviços.

Soma-se a isso o atual ambiente global de juros em alta que acaba por destruir valor das empresas de crescimento e que também afeta a despesa financeira. Assim, os papéis podem se tornar mais atrativos à medida que os juros se estabilizarem e, posteriormente, começarem a cair.

Olhando para o cenário das empresas no médio e longo prazo, o analista avalia que há oportunidades de expansão em um mercado pouco penetrado e com novas categorias, como de vestuários e cosméticos, aumentando a participação no segmento online.

“Porém, também implicará em mais custos para as empresas realizarem investimentos”, destaca o analista. Olhando mais para frente, aponta, o cenário é interesse para o Brasil, mas o case ainda não é visto como atrativo ainda apesar da forte queda das ações.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.