Magalu e Petz desabam; Alpargatas, Assaí e Renner sobem: o que indicam reações ao 1T?

Desaceleração no crescimento das lojas físicas preocupa analistas com Magalu, enquanto Renner registrou crescimento forte

Lara Rizério

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A temporada de resultados do primeiro trimestre de 2025 (1T25) ganha força, com diversas empresas do setor de consumo e varejo divulgando seus números do período e com diferentes reações do mercado.

Se, de um lado, Magazine Luiza (MGLU3, R$ 8,39, -6,98%) e Petz (PETZ3, R$ 4,04, -8,80%) registraram fortes perdas, Lojas Renner (LREN3, R$ 16,20, +4,92%), Alpargatas (ALPA4, R$ 8,79, +8,38%) e Assaí (ASAI3, R$ 9,73, +3,51%) tiveram disparada na sessão desta sexta-feira (9).

Em linhas gerais, o Morgan Stanley destaca, para a Renner, que a receita do varejo ficou 5% acima da sua previsão e o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) ficou 6% além da projeção. Do lado positivo, as bases de comparação continuaram a ficar abaixo da inflação, mas, apesar da desaceleração nas vendas, a administração conseguiu expandir a margem, com o Ebitda 3,5% acima da nossa estimativa.

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Já entre as quedas, o Magalu viu um GMV (Valor Bruto de Mercadorias) estável ano a ano, ficando abaixo da previsão do banco, enquanto, em meio a um foco em rentabilidade incremental, as margens superaram a sua estimativa e impulsionaram um aumento de 7% no Ebitda. Já para a Petz, os resultados estiveram alinhados com o consenso em diversas linhas do balanço, com uma variação de +/-1% para cada uma das comparações (+6,0%), receita (+8% ano a ano) e Ebitda (estável ano a ano).

Confira as análises abaixo:

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Maiores baixas

Magazine Luiza (MGLU3)

O Magazine Luiza registrou lucro líquido de R$ 12,8 milhões no primeiro trimestre de 2025, o que representa uma queda de 54,3% em relação ao mesmo período do ano anterior. No resultado ajustado, que desconsidera efeitos não recorrentes, o lucro foi de R$ 11,2 milhões, recuo de 62,5% na comparação anual.

A velha questão para o Magalu continua, conforme aponta a XP Investimentos em relatório. “O Magazine Luiza reportou resultados mistos no 1T, com a desafiadora situação macroeconômica afetando a demanda, mas com uma melhoria consistente na rentabilidade”, aponta a equipe de analistas da casa.

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O GMV total permaneceu praticamente estável ao ano, com as lojas físicas (B&M) (+6% ano a ano) compensando a fraqueza online (-2%; 1P: -3% e 3P: -2%), à medida que a empresa continua a focar na rentabilidade em vez do crescimento. Como resultado, as vendas líquidas consolidadas aumentaram cerca de 2% a/a (-4% abaixo da projeção da XP), com os serviços (+4%) continuando a superar as vendas de mercadorias (+1%).

A XP também ressalta que a lucratividade continuou a melhorar, com a margem bruta subindo 0,7 p.p. anualmente, refletindo uma maior margem de mercadorias (+0,6 p.p., ou ponto percentual) e um melhor mix (penetração de serviços +0,2 p.p. ao ano), enquanto a margem Ebitda ajustada aumentou 0,6 p.p, com menores necessidades de provisão e resultados da Luiza Cred melhores do que o esperado (+56% em relação à projeção da XP) compensando amplamente os maiores investimentos em logística.

O Itaú BBA aponta que, embora a empresa tenha surpreendido positivamente na margem, permanece cauteloso, pois prevê uma desaceleração no crescimento das lojas físicas — seja devido a uma base de comparação mais robusta ou à natureza discricionária do negócio, que é inversamente correlacionada com as taxas de juros.

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“Além disso, com a expectativa de que as taxas de juros permaneçam altas ao longo do ano, a pressão sobre o lucro líquido pode ser mais forte do que nossas estimativas atuais (que ainda não refletem os últimos aumentos de juros”, avalia o BBA, mantendo assim uma postura mais conservadora por enquanto, justificando sua recomendação marketperform (desempenho em linha com a média do mercado).

Para a Genial, de forma geral, o resultado veio dentro do esperado, apresentando uma forte rentabilidade operacional, mas com alguns pontos de atenção — especialmente no desempenho digital, que frustrou as estimativas e trouxe uma leitura um pouco mais cautelosa para o crescimento no curto prazo.

Petz (PETZ3)

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A Petz registrou lucro líquido de R$ 759 mil no primeiro trimestre deste ano, revertendo o prejuízo de R$ 51 mil apurado um ano antes. Já o lucro líquido com ajustes totalizou R$ 1,056 milhão no primeiro trimestre, uma queda de 86,7% frente ao primeiro trimestre do ano passado.

Nos três primeiros meses do ano, o Ebitda somou R$ 47,097 milhões, contração de 10,3% ante um ano antes. Segundo a companhia, o Ebitda e margem Ebitda tiveram impacto de desafios operacionais enfrentados no Centro de Distribuição (CD), que operou com alta ocupação de estoque e acima de sua capacidade ideal ao longo do trimestre – e durante obra de expansão de sua área de armazenagem.

Na avaliação da XP, a Petz reportou resultados fracos no 1T, com um crescimento ainda moderado da receita e deterioração da rentabilidade, devido a desalavancagem operacional e também destacando os desafios temporários no CD

A margem bruta ficou praticamente estável ano a ano (-0,1 p.p.), refletindo um crescimento mais equilibrado entre os canais e uma maior participação de vendas de alimentos (+0,2 p.p.), potencialmente compensando a maior penetração de marcas próprias (+1,8 p.p.). Além disso, o aumento das despesas de vendas, gerais e administrativas (SG&A) devido à necessidade pontual de pessoal devido a desafios no centro de distribuição (-0,4 p.p.) e os custos de frete mais altos levaram a uma queda de 0.9 p.p. na margem EBITDA ajustada (ex-IFRS).

Como resultado, o lucro líquido foi praticamente zero (R$ 1 milhão), enquanto o fluxo de caixa livre foi negativo em -R$ 11 milhões devido a maiores necessidades de capital de giro, principalmente em estoques (-R$ 12 milhões), que também foram impactados pelos desafios mencionados no (CD).

Maiores altas

Lojas Renner (LREN3)

A Lojas Renner teve lucro líquido de R$ 221 milhões no primeiro trimestre, expansão de 58,7% sobre o desempenho de um ano antes, em um resultado bem acima do esperado pelo mercado, conforme divulgado nesta quinta-feira.

A rede de varejo teve desempenho operacional medido pelo Ebitda total ajustado de R$ 585,2 milhões, crescimento de quase 55% sobre o primeiro trimestre de 2024. Os números ficaram acima do esperado: analistas, em média, esperavam lucro líquido de R$103,7 milhões para a Lojas Renner no primeiro trimestre, com Ebitda de R$ 383,4 milhões, segundo dados da LSEG.

Para a Genial Investimentos, a Renner abriu 2025 com um trimestre forte, mostrando que a operação segue sólida e capaz de responder rápido às pressões que vinham pesando sobre o papel desde o 4T24. Na época, havia uma preocupação relevante no mercado: a margem bruta tinha decepcionado e surgiram dúvidas sobre o potencial impacto estrutural do câmbio elevado e do ajuste a valor presente (AVP) nas margens ao longo de 2025.

Assim, a projeção da Genial para o 1T25, por isso, veio conservadora, especialmente para a margem bruta do vestuário, onde estimava uma leve alta de 20 pontos-base anualmente – muito pautada pelo discurso da companhia de que repasses moderados de preço sustentariam algum ganho. “O que vimos, no entanto, foi bem mais forte: a margem bruta de vestuário subiu 61 bps a/a, um avanço robusto que praticamente elimina o temor de que o 4T24 teria sido o início de uma nova tendência negativa”, aponta.

O ganho se somou ainda a uma diluição de despesas operacionais mais acentuada do que o esperado, reforçada por um fluxo de vendas aquecido. O SSS (Same Store Sales) bateu 10,8% no trimestre, bem acima da estimativa da casa de 7,3%. Em termos sequenciais, também houve uma forte aceleração: o indicador, que estava próximo a 7,0% em trimestres anteriores, avançou para os dois dígitos, reforçando o ritmo.

Comparando com os pares, a Renner ficou próxima (ainda que abaixo) das demais: a C&A (CEAB3) reportou SSS de apenas 13,0% ano a ano, enquanto a Guararapes (GUAR3), dona da Riachuelo, apresentou 10,7% para mercadorias.

Já a receita por metro quadrado alcançou R$ 3,4 mil, bem acima dos níveis de Guararapes e C&A, ambos em R$ 2,2 mil/m², uma vantagem competitiva que, segundo a Genial, segue consolidada – ainda que seja louvável a melhora de produtividade de lojas desses dois players ao longo dos últimos trimestres.

A casa ressalta que, atualmente, a Renner está negociando a 11,5 vezes o preço sobre lucro (P/L) projetado para 2025, praticamente em linha com a média do setor, que gira em torno de 11,9 vezes (x). “Embora esteja dentro do patamar médio do mercado, vale lembrar que historicamente a Renner foi precificada a um múltiplo bem mais elevado – cerca de 20,6x em média (últimos 5 anos)”, aponta.

A Genial não espera que a ação volte a esse nível de valuation, mas, considerando a execução consistente que a companhia vem entregando, entende que ela merece sim um prêmio de negociação sobre os pares. “Dada a sua eficiência operacional e resiliência de resultados, um múltiplo superior seria não só justificável, mas até esperado”, aponta a equipe de análise.

A XP Investimentos ressaltou que a varejistas reportou resultados sólidos no 1T, com SSS (vendas mesmas lojas) em aceleração e um Ebitda acima do esperado em cerca de 20%, com melhores tendências em todas as linhas.

Assaí (ASAI3)

O Assaí Atacadista teve lucro líquido de R$ 162 milhões no primeiro trimestre de 2025, um avanço de 74,2% em relação ao mesmo período do ano passado, na visão pré-IFRS16. Já o lucro líquido pós-IFRS16 (que incorpora os efeitos contábeis de contratos de arrendamento, como aluguéis) foi de R$ 117 milhões, crescimento de 95% na comparação anual. O Ebitda ajustado da companhia alcançou R$ 1,02 bilhão no trimestre, alta de 13,9%, com margem de 5,5%, a maior para um primeiro trimestre desde 2021.

A receita líquida no período somou R$ 18,6 bilhões, um crescimento de 7,7% na comparação com o primeiro trimestre de 2024. Segundo a companhia, o desempenho da receita foi ajudado por uma alta de 5,5% nas vendas em mesmas lojas, além da contribuição das 11 unidades abertas nos últimos 12 meses.

Na visão da XP, o Assaí reportou resultados sólidos no 1T, com tendências de aceleração do SSS ajustado, embora mascaradas por efeitos de calendário e expansão de margens.

Os analistas ressaltam que a rentabilidade novamente foi o destaque, impulsionada pela margem bruta, que aumentou 30 pontos-base ano a ano, devido à maturação da expansão e ao lançamento de ofertas de serviços (640 unidades disponíveis no final do trimestre, +224 em relação ao 1T24). Já o lucro líquido ficou 44% acima da projeção da XP, refletindo melhores resultados operacionais, enquanto o FCF (fluxo de caixa livre) foi positivo em R$ 90 milhões (+73% ano a ano), apoiado principalmente por menores investimentos em Capex, já que a empresa não teve aberturas no trimestre (versus 4 no 1T24).

Categórico, a Genial Investimentos ressaltou que “o Assaí registrou o melhor primeiro trimestre da história” – em termos de rentabilidade.

A Genial ressalta que o destaque do trimestre foi a aceleração das vendas mesmas lojas (SSS), que cresceram +5,5% anualmente — acima da inflação geral e sinalizando uma retomada importante frente aos trimestres anteriores, quando os números estavam bem aquém da inflação alimentar.

Esse avanço, avalia a casa, ajuda a diminuir o gap histórico que o Assaí apresentava em relação ao Atacadão (que entregou SSS de 6,9% no 1T25, ex-calendário) e reforça a resiliência frente a players como o Grupo Mateus (GMAT3), cujo Mix Mateus reportou apenas +1,2% anualmente. O resultado também indica uma melhora de volume mesmo em um cenário de alta de preços, o que é positivo para a tese.

Vendo sólidos avanços operacionais e controle de despesas, entre outros fatores positivos, o Bank of America (BofA) elevou seu preço-alvo para a ação de R$ 9,60 para R$ 11, ainda que mantendo recomendação neutra.

Alpargatas (ALPA4)

A Alpargatas reportou lucro líquido consolidado de R$ 112,4 milhões no primeiro trimestre de 2025, alta de 355,8% na comparação com o mesmo período do ano passado. Segundo a empresa se desconsiderar o efeito dos itens extraordinários líquidos de IR, o lucro líquido normalizado seria de R$ 120,3 milhões.

O Ebitda ajustado, por sua vez, foi de R$ 206 milhões no trimestre, aumento de 87,3% ante o igual intervalo de 2024. A margem Ebitda ajustada avançou 7,1 pontos porcentuais (p.p.), para 18,9%. Entre janeiro e março, a companhia alcançou receita líquida de R$ 1,092 bilhão, crescimento anual de 17,3%.

A XP aponta que a Alpargatas reportou resultados sólidos no 1T, superando suas estimativas em todos os aspectos, principalmente devido a volumes mais fortes no Brasil, impulsionados por uma antecipação estratégica de vendas, enquanto ajustes nas operações internacionais ainda estão sendo realizados.

Nas operações internacionais, as vendas líquidas aumentaram 5%, principalmente devido à variação cambial (-10% ajustado pela variação cambial), com volumes (-15%) ainda pressionados por ajustes comerciais em distribuidores (-31%) e uma mudança para longe dos canais de preço reduzido nos EUA (-28%), embora parcialmente compensados pelo crescimento na Europa (+5%) em um cenário de competitividade recuperada. Contudo, a casa aponta que, por conta dessa antecipação, o resultado do 1T25 não é uma base para o futuro.

(com Estadão Conteúdo)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.