M.Dias Branco (MDIA3) tem forte queda de 8,47% após resultado do 3º tri: reação do mercado foi exagerada?

Mesmo com números dentro das expectativas de analistas, reação do mercado aos números foi negativa, com queda da receita chamando a atenção

Camille Bocanegra

Publicidade

Números considerados fortes, mas mesmo assim, as ações reagiram em forte baixa.

Foi o que aconteceu com a M.Dias Branco (MDIA3) nesta segunda-feira (13). Os seus papéis fecharam em baixa de 8,47%, a R$ 32,10, mesmo apresentando números que ficaram no geral dentro das expectativas do mercado para o nome, com lucro líquido de R$ 259 milhões, avanço de 32% em relação ao mesmo período do ano passado.

Mas o que levou a esse movimento?

Ebook Gratuito

Como analisar ações

Cadastre-se e receba um ebook que explica o que todo investidor precisa saber para fazer suas próprias análises

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

“Volumes fracos devido a uma venda mais fraca e aumento da concorrência”, resumiu o Bank of America (BofA) sobre os números divulgados, considerados “ligeiramente mais fracos”. Na análise, o banco destacou a queda da receita total, 6% abaixo das expectativas do BofA, ainda que tenha ocorrido aumento das margens com redução de custos.

A queda dos volumes é explicado pela compra mais fraca por varejistas, que operam com estoques mais baixos. O banco destaca, no entanto, que houve compensação parcial pelos preços melhores de biscoitos e massas. Ainda assim, os números levaram a um reajuste do preço-alvo que o banco estabelece para o nome, saindo dos R$ 45,00 anteriores para R$ 39,00, com recomendação “neutra” para os papéis.

“Ajustamos nosso Lucro por Ação (EPS) esperado para 2024 de R$ 3,74 para R$ 3,81. Reduzimos nosso preço-alvo, à medida que elevamos nosso WACC (custo médio ponderado de capital) para 11,3% de 10,8%, dado que a taxa livre de risco agora está em 4% em comparação com 3,25%, e uma redução na relação valor da companhia sobre o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) de 10 vezes para 8,5 vezes”, analisa.

Continua depois da publicidade

Para o analista Ricardo Schweitzer, os números foram bons, mas ligeiramente abaixo das projeções. Ou seja: “esperava-se mais”. Em sua visão, a companhia demonstrou crescimento de receita fraco e perda de market share. O analista destaca também a melhora das margens, causada pela queda de preços de trigo e óleo de palma.

“Acho que a leitura geral é de que, embora o lado dos custos esteja melhorando, há um acirramento de competição no setor que pode fazer com que margens voltem a retrair em função da maior agressividade necessária em preços. Como resultado, há espaço de revisão (para baixo) nas expectativas futuras da companhia”, explica Schweitzer.

O BTG Pactual, assim como o BofA, cortou estimativas para MDIA3 após o balanço, com recomendação neutra e diminuindo o preço-alvo de R$ 44 para R$ 39.

Continua depois da publicidade

O banco apontou já ter destacado há algum tempo o desempenho cada vez mais volátil da empresa como uma preocupação fundamental, sendo que no 3T23 isso aconteceu novamente.

A receita de R$ 2,7 bilhões foi 8% ante o 3T22 e abaixo da sua estimativa, com volumes caindo 7% na base anual. A receita líquida também foi 4% menor no trimestre, apesar da sazonalidade historicamente favorável.

” O trimestre não foi de todo ruim, já que os ventos favoráveis de custos aceleraram e levaram a uma recuperação anual de 700 pontos-base na margem bruta que atingiu 35,6% (140 pontos-base acima do estimado). A desalavancagem operacional significou um aumento de 200 pontos base na base anual nas despesas gerais/administrativas/vendas como porcentagem das vendas, mas o Ebitda ainda atingiu R$ 438 milhões, um aumento de 38% e apenas 3% abaixo do estimado”, avalia.

Publicidade

Os volumes de biscoitos e massas caíram 15% e 12% ano a ano e foram os menores para um terceiro trimestre em mais de uma década. A participação de mercado caiu 70 pontos-base e 20 pontos-base tri/tri, respectivamente, para 31,3% e 27,9%, também uma das menores já registradas, destaca o banco. “A redução dos estoques no varejo foi apontada como a principal razão para isso”, ressaltou, reforçando o ponto do BofA.

Para os analistas do banco, os desempenhos negativos de volume e participação de mercado no segmento de massas chamaram a atenção. “O tamanho reduzido da embalagem sem dúvida contribuiu, mas, se isso fosse tudo, o preço médio teria sido melhor e não foi o que aconteceu. A queda média de 1,5% no preço trimestralmente sugere que uma competição mais promocional já pode estar em andamento”, aponta.

Outra prova de mais concorrência foi o aumento da participação das vendas nas lojas cash & carry, que saltaram para a máxima histórica de 25,8%, avalia. “Em termos de desempenho da marca, a empresa divulgou que a receita da Piraquê cresceu 78% desde a aquisição. Curiosamente, foi justamente nesse período que as vendas ex-Piraquê da M.Dias Branco cresceram, sugerindo que a marca não está superando significativamente o restante do portfólio, apesar dos investimentos em construção e inovação da marca”, aponta.

Continua depois da publicidade

O banco reforça cautela, avaliando ter preocupações sobre a estratégia comercial e a evolução da porcentagem de mercado a médio prazo, agora que os ventos a favor dos custos estão soprando para toda a indústria.

O Itaú BBA considerou resultados como “neutros”, dentro das estimativas do banco.

” Apesar de uma margem Ebitda mais fraca do que o esperado em relação às nossas expectativas imediatamente após os resultados do 2T23, acreditamos que o consenso se ajustou um pouco às cifras reportadas ao longo dos últimos dois meses”, analisa o BBA.

Publicidade

Na análise, há menção sobre necessidade de monitoramento de perda de participação de mercado nas divisões de Massas e Biscoitos, assim como as expectativas em relação ao impulso sólido nas aquisições de trigo russo. O BBA considera o nome como market perform (desempenho de mercado, similar à neutro), com preço-alvo em R$ 50,00.

Os que estão otimistas

Já para a XP, os resultados demonstraram “sólida recuperação na margem bruta e geração de FCF (fluxo de caixa)”. A corretora considera que os números não são apenas decorrentes de melhorias no cenário macro e estimulam otimismo na análise.

“Apesar das preocupações dos investidores, a companhia conseguiu manter o repasse de preços nas suas principais categorias (Biscoitos e Massas). O lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado foi de R$ 441 milhões (+32% ano a ano), um pouco abaixo da nossa estimativa por conta de despesas com vendas acima do esperado (algo que tentaremos abordar na teleconferência de resultados de amanhã) – margem de 16,1% (versus projeção da XP de 15,8 % e consenso de 15,6%)”, considera.

A análise também destacou a corte desalavancagem observada, com lucro líquido 9% superior às expectativas da casa. A margem bruta também se apresentou acima das projeções da corretora, com custos de trigo e óleo de palma abaixo do esperado. Apesar dos subsídios fiscais também abaixo do projetado pela XP, a M.Dias Branco manteve forte geração de FCF (fluxo de caixa livre).

“Continuamos otimistas dado valuation atrativo e à sólida dinâmica de lucros no futuro”, afirma a XP, que recomenda o papel com compra, considerando preço-alvo de R$ 48,40.

O JPMorgan considerou os números “decentes”, com Ebitda superando as expectativas do banco em 2%, ainda que a receita total tenha se apresentado mais fraca que o esperado.

“Vale destacar que outro ponto positivo no trimestre foi a geração de caixa recorde da empresa a partir das atividades operacionais, que cresceu +90,2% na comparação anual, refletindo a liberação de capital de giro decorrente do gerenciamento de estoques e da queda nos preços dos insumos. Isso apoiou o terceiro trimestre consecutivo de redução na alavancagem para 0,3x (1,2x no 2T23)”, analisa.

O banco entende que os efeitos negativos da receita, provenientes do desabastecimento pelos varejistas, deverá ser corrigido nos próximos meses.

A alteração na política de dividendos da companhia foi um dos pontos destacados na análise do Bradesco BBI, que considerou os números da companhia ligeiramente abaixo das estimativas do banco. A empresa alterou sua política de distribuição de dividendos para uma meta de pagamento de 80% do lucro líquido, contra 60% anteriormente.

“Na nossa visão, isso pode resultar em um atrativo rendimento de dividendos de 5,8%, com base na nossa estimativa de lucro líquido para 2023”, considera sobre os proventos. Assim, o banco classifica o nome como desempenho acima da média (outperform, equivalente à compra), com preço-alvo em R$ 50,00.

Inclusive, em relatório durante o pregão, o BBI apontou que as ações da companhia estavam despencando devido a preocupações relacionadas à participação de mercado nos segmentos de biscoitos e massas.

“No entanto, na nossa opinião, a empresa já concluiu os repasses de preços necessários, o que significa que ela não deverá mais lutar para defender a sua participação de mercado. Além disso, vemos a ação sendo negociada com uma avaliação atrativa de 9 vezes o P/L esperado para 2024, um desconto de 47% sobre sua média histórica e, portanto, mantemos nossa classificação”, apontou.

A Genial entende que a companhia está “na direção certa”, considerando os resultados reportados no trimestre. Entre os destaques do balanço, a corretora reforça a receita “um pouco fraca”.

“Para os próximos trimestres, vemos uma expansão sequencial de margens, devido à tendência de queda nos preços do trigo e do óleo de palma, a qual, em nossa visão, deve se manter e ainda não foi refletida totalmente no 3T23. Acreditamos ainda que um mix mais positivo de marcas, caracterizado pelo avanço das marcas premium da companhia, como a Piraquê, deve contribuir para a receita voltar a crescer, e que devemos ver uma contínua recuperação do segmento de biscoitos”, considera.

A corretora reiterou sua visão de compra para o papel, com metade de preço estabelecida em R$ 50,00. A Genial espera que o nome seja impulsionado por mix mais positivo de marcas, com avanço de nomes como Piraquê, e a contínua recuperação do segmento de biscoitos.

Visão da teleconferência

A administração da M.Dias Branco realizou teleconferência para comentar os resultados apresentados. Entre os principais prontos destacados, esteve a demanda dos principais produtos da companhia, biscoito e massas.

“A demanda de biscoitos e massas está firme, seja na comparação anual ou trimestral”, afirma Fábio Cefaly, diretor de RI.

“Não estamos enxergando nenhuma situação desfavorável em relação à demanda”, comenta o diretor de RI da M.Dias Branco. O impacto desfavorável veio da diminuição de vendas para o varejo, com redução do nível de estoques dos itens no varejo. “Nenhum problema de demanda, o varejo comprou menos da indústria e isso impactou os números”, explica.

Em relação ao market share (espaço no mercado), o diretor disse que houve ganho em valor e volume de biscoitos e farinha em relação ao ano passado. Sobre a queda de receita líquida, Cefaly comenta que o recuo foi principalmente puxado pelas farinhas e margarinas, produtos que costuma ter preço menor.

“O resultado de receita por região está bem alinhado à nossa estratégia”, comenta, com áreas de defesa principalmente situadas no norte e nordeste do país e, de ataque, no resto do Brasil.

“Não há uma correlação tão direta do preço do biscoito para os preço da commodity (trigo)”, destaca o diretor de RI. “A queda de preços de biscoitos é baixa e nossos números vem na mesma linha, concentrada principalmente nas categorias com menor valor agregado”, considera.

A estratégia de expansão através de M&A também foi comentada, em especial considerando a questão do market share. “Temos capacidade produtiva e temos caixa para avançar em outros mercados”, afirma Gustavo Lopes, vice-presidente de Investimentos e Controladoria da M.Dias Branco.

O executivo não considera “um problema” a queda de market share e destaca que a companhia não vê dificuldade para recuperar o mercado. Lopes afirma, no entanto, que a M.Dias Branco tem “feito com muito cuidado” a estratégia. “Temos ainda uma capacidade grande de fazer M&A”, afirma Lopes. O diretor destacou que a companhia precisa aproveitar boas oportunidades de aquisições.