Lula no STF, Fed e Previdência: o que fez o Ibovespa cair 2% e o dólar subir 0,7%

Mercado deixa para trás euforia dos 102 mil pontos e se desanima com menor chance de queda de juros do Fed, possível soltura de Lula e possível atraso para votar a Previdência no Congresso Nacional

Ricardo Bomfim

Bolsa em queda (Crédito: Shutterstock)

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SÃO PAULO – O Ibovespa fechou em sua maior queda desde maio nesta terça-feira (25) com os investidores preocupados por conta das notícias de que o “Centrão” pode atrasar a votação da reforma da Previdência na Comissão Especial da Câmara dos Deputados, que era esperada para esta semana.

Também ajuda a trazer pessimismo para os investidores a notícia de que o Supremo Tribunal Federal (STF) julgará hoje pedidos de soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 

O principal índice acionário da B3 registrou baixa de 1,93%, a 100.092 pontos. O volume financeiro negociado no mercado foi de R$ 15,039 bilhões. A última vez em que o Ibovespa teve uma queda deste nível foi em 13 de maio deste ano, quando recuou 2,69%. 

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Já o dólar comercial subiu 0,69% a R$ 3,851 na compra e a R$ 3,8528 na venda. O dólar futuro com vencimento em julho avança 0,67% a R$ 3,8505.

Segundo Gabriel Fonseca, analista da XP Investimentos, a possível soltura de Lula é algo que adiciona ruído ao cenário, apesar de não ter qualquer impacto sobre a reforma da Previdência. “Também há notícias de que o centrão vai atuar para atrasar a reforma na Câmara. Acho que este é o principal ponto hoje, mas adiciona incerteza”, avalia. 

Depois de reunião com o relator da reforma da Previdência, Samuel Moreira (PSDB-SP), o líder da maioria na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), afirmou que a votação da proposta na comissão especial pode ficar para a próxima semana, destacou a Folha de S. Paulo.

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Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, tinha a intenção de aprovar a proposta na comissão especial até quinta-feira (27) e, até meados de julho, no plenário. 

Além disso, em vídeo publicado no Twitter da Câmara dos Deputados, o líder do PP Arthur Lira defendeu o adiamento da votação do texto da Previdência na Comissão.

Ele apontou que ainda há itens que o partido, com a terceira maior bancada da Câmara, pediu para serem retirados, mas ainda estão no documento e que há questões relativas a estados que não estão resolvidas. 

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No mercado de juros futuros com vencimento em janeiro de 2021 subiam cinco pontos-base, a 5,95%. Já os papéis com vencimento em janeiro de 2023 saltavam na mesma magnitude, a 6,77%, intensificando a alta já registrada mais cedo.

Destaques da Bolsa

Em meio a esse ambiente de aversão ao risco, apenas as ações da JBS (JBSS3) fecharam no positivo entre as ações que compõem o Ibovespa, enquanto B3 (B3SA3), Cyrela (CYRE3) e Smiles (SMLS3) registraram fortes quedas.

Os papéis da Petrobras (PETR3; PETR4) terminaram o pregão em queda superior a 2% em uma sessão de quase estabilidade do petróleo, enquanto Vale (VALE3) e siderúrgicas tiveram baixa com a queda do preço do minério. 

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As maiores baixas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 B3SA3 B3 ON 37,66 -5,14 +41,29 686,62M
 ESTC3 ESTACIO PARTON 28,49 -3,91 +22,77 65,88M
 CVCB3 CVC BRASIL ON 51,51 -3,79 -15,77 61,94M
 ELET3 ELETROBRAS ON 33,03 -3,79 +36,32 96,56M
 MRVE3 MRV ON 18,77 -3,74 +55,13 62,63M

As maiores altas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 JBSS3 JBS ON 21,90 +0,50 +88,98 280,16M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o Índice Bovespa, foram :

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 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 PETR4 PETROBRAS PN N2 27,51 -2,62 1,56B 1,25B 57.977 
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN 35,65 -1,25 850,39M 670,79M 34.357 
 BBAS3 BRASIL ON 52,55 -0,92 828,37M 508,55M 36.004 
 B3SA3 B3 ON 37,66 -5,14 686,62M 453,92M 34.698 
 VALE3 VALE ON 51,38 -1,95 639,81M 984,94M 26.516 
 ITSA4 ITAUSA PN 12,58 -0,55 618,75M 244,80M 29.864 
 BBDC4 BRADESCO PN 37,61 -0,84 573,68M 584,08M 30.596 
 PETR3 PETROBRAS ON N2 30,70 -3,03 470,45M 265,11M 17.104 
 ABEV3 AMBEV S/A ON 18,17 -0,71 349,24M 304,64M 29.617 
 JBSS3 JBS ON 21,90 +0,50 280,16M 260,59M 27.119 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
IBOVESPA

Fed

A bolsa brasileira intensificou as perdas também seguindo o noticiário internacional, após a fala de James Bullard, presidente do Federal Reserve de Saint Louis, de que um corte nos juros dos EUA em meio ponto seria injustificado.

Vale ressaltar que ele foi o único membro do Federal Open Market Committee (Fomc) que votou na semana passada por um corte de juro, de 0,25 ponto percentual. 

Com essa fala, os índices americanos intensificaram as perdas já registradas em boa parte da sessão com os dados de confiança do consumidor abaixo do esperado. O Dow Jones fechou em baixa de 0,67%, o S&P 500 registrou queda de 0,95% e o Nasdaq caiu 1,51%. 

Jerome Powell, chairman do Fed, falou minutos depois, e não ajudou a animar o mercado. Ele apontou que um corte nos juros americanos amplamente esperado por investidores e economistas na próxima reunião, que acontece no fim de julho, não é algo “definido”. 

“A questão com a qual eu e meus colegas estamos lidando é se essas incertezas continuarão a pesar sobre as perspectivas e, portanto, exigirão acomodação adicional”, afirmou o presidente do Fed. 

Mesmo reconhecendo que “muitos” dirigentes do Fed acreditam que o argumento a favor dos cortes se fortaleceu, ele acrescentou: “Também estamos conscientes de que a política monetária não deve reagir excessivamente a nenhum ponto individual de dados ou a oscilações de curto prazo no sentimento”. 

Vale ressaltar que a sessão desta terça-feira já era de cautela para o mercado em meio à tensão entre EUA e Irã. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou retaliar militarmente o Irã por um eventual ataque iraniano a qualquer alvo americano.

Isso após a República Islâmica afirmar que novas sanções norte-americanas impedem qualquer diplomacia e que considera as ações da Casa Branca “mentalmente retardadas”.

Ata do Copom

Durante a manhã, foi divulgada a ata do Comitê de Política Monetária (Copom), que na semana passada manteve a Selic a 6,5% ao ano, mas deixou a porta aberta para futuros cortes na taxa básica de juros.

No documento de hoje, foi destacado que a evolução dos riscos inflacionários melhorou, mas os integrantes do comitê ainda consideram que o risco preponderante diz respeito ao andamento das reformas estruturais.

“O documento não trouxe grandes novidades em relação ao comunicado divulgado. A evolução dos riscos inflacionários melhorou, devido à estagnação da economia doméstica e perspectiva de redução de juros em diversas economias, mas ainda consideram que o risco preponderante para a condução da política monetária diz respeito ao andamento das reformas estruturais da economia brasileira”, observam os analistas da XP Investimentos.

Para eles, ainda é pouco provável um corte de juros na próxima reunião do Copom, marcada para julho.

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A ata “seguiu comunicado”, dizendo “me deem reformas primeiro”, afirmou Roberto Secemski, economista para Brasil do Barclays, em entrevista à Bloomberg. Um dos destaques foi a consideração de que a taxa de juros permanece estimulativa e que isto “não é inconsistente com o desempenho da economia aquém do esperado, posto que a atividade econômica sofre influência de diversos outros fatores”, disse citando as palavras do comunicado.

Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.