Publicidade
Nos últimos dias, chamou a atenção a crise global que envolve uma das maiores produtoras de semicondutores do mundo.
Uma disputa está ameaçando perturbar o setor automotivo em diversas regiões e, inclusive, afetar setores da Bolsa brasileira. Órgãos da indústria automobilística soaram o alarme sobre o possível impacto na produção depois que o governo holandês assumiu o controle da Nexperia, de propriedade chinesa, no mês passado, citando preocupações com a propriedade intelectual, enquanto a China restringiu as exportações de seus produtos acabados, necessários para as montadoras europeias.
No território nacional, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a produção de automóveis no Brasil corre o risco de ser paralisada devido à crise.
Aproveite a alta da Bolsa!
Igor Calvet, presidente da associação, afirmou ter recebido notificações sobre uma iminente interrupção no fornecimento de peças, o que pode paralisar a produção de carros nas próximas duas ou três semanas.
O Sindipeças-Abipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores), que representa toda a indústria de autopeças do Brasil, enviou uma carta diretamente ao vice-presidente e ministro do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Geraldo Alckmin, solicitando apoio governamental devido à situação crítica de abastecimento. No documento, o Sindicato Nacional também alertou que observou uma redução significativa na disponibilidade de componentes eletrônicos essenciais utilizados em veículos leves, comerciais e industriais.
O Bradesco BBI avalia que, em 2020-22, durante a pandemia de COVID-19, interrupções na cadeia de suprimentos global levaram a uma grande escassez de chips.
Continua depois da publicidade
“Durante esse período, observamos o seguinte: 1) as montadoras reduziram a produção devido à queda no fornecimento de chips; 2) a produção mudou para SUVs, pois estes têm margens maiores; 3) houve um aumento nos preços de carros novos e usados; e 4) a redução do poder de barganha das locadoras de veículos resultou em descontos menores e na compra de um mix de veículos diferente do usual (com menos veículos de entrada)”, avalia a equipe de análise.
Assim, observa algumas implicações importantes para as locadoras de veículos brasileiras, incluindo: 1) o capital investido pode se tornar mais caro se as montadoras aumentarem os preços dos carros novos; 2) por sua vez, as locadoras podem precisar aumentar os preços dos aluguéis para manter seus níveis de rentabilidade, o que seria um sinal de alerta em um setor que tem elasticidade de preço (ou seja, os consumidores reagem a mudanças no valores) e atualmente enfrenta condições macroeconômicas mais difíceis; 3) a princípio, os preços dos carros usados também podem subir, o que pode ser positivo no curto prazo e permitir menores despesas com depreciação. Mas, com o tempo, a potencial piora na combinação de preços e nas condições de compra pode, em última análise, levar a uma depreciação mais alta.
Por outro lado, considerando o último ponto, quando as locadoras de veículos efetivamente venderem esses carros adquiridos nessas condições, isso pode coincidir com taxas de juros mais baixas e um ambiente macroeconômico mais favorável, o que pode mitigar esse efeito e ajudar a estabilizar a depreciação e os preços dos carros.
O BBI vê também que, como os preços dos veículos estão caros, tendo subido 41% desde 2020 (IPCA de Veículos Novos), os aumentos de preços por parte das montadoras parecem ser atualmente mais difíceis de implementar do que em 2020-22, devido à acessibilidade muito menor e às altas taxas de juros.
“Em nossa opinião, isso pode causar um efeito menor em comparação à pandemia e pode levar as montadoras a absorverem parte dos custos mais altos, em vez de conseguirem repassá-los integralmente”, avalia.
A visão é de que, se essa escassez de semicondutores de fato se materializar e prejudicar a produção de carros novos, isso teria um impacto líquido negativo no setor de locação, pois poderia levar a: 1) piores condições de compra de carros (descontos e/ou mix); e 2) um possível aumento nos preços dos veículos, causando a necessidade de maior expansão tarifária para manter os níveis de rendimento.
Continua depois da publicidade
“Um ponto positivo a médio prazo é que a venda desses carros pode coincidir com taxas de juros mais baixas e um ambiente macroeconômico mais favorável para mitigar o efeito da depreciação. No entanto, o aumento nos preços dos carros pode ser positivo para os lucros de curto prazo, pois reduz a depreciação e melhora as margens EBITDA dos Seminovos”, resume.
O BBI segue com recomendação outperform (desempenho acima da média, equivalente à compra) para as ações da Localiza (RENT3) e Movida (MOVI3), com preços-alvo respectivos de R$ 59 e R$ 10, vendo as ações com desconto de mais de 50% em relação ao histórico.
