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SÃO PAULO – O patamar da taxa de juro básica da economia, a Selic, deve ter um ajuste para baixo de 50 pontos-base, atingindo 10% ao ano, na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) que acontece entre os dias 6 e 7 de março. É o que avaliam a LCA Consultores e o BTG Pactual, que não descartam, entretanto, um corte maior – de 75 pontos-base – em resposta à desaceleração da economia doméstica e externa.
De acordo com a equipe de macroeconomia da LCA, a pressão sobre o câmbio – resultando na valorização da moeda brasileira frente ao dólar -, a desaceleração da economia da China e o enfraquecimento do crédito interno sugerem que o ajuste total da Selic pode vir maior do que o esperado. Isso levou a consultoria a rever para baixo a curva projetada para a taxa básica, com mais três cortes de 50 pontos-base nas próximas reuniões, ao invés de dois, levando a Selic para o patamar de 9% ao ano.
Os acontecimentos recentes da economia também foram consideradas determinantes pelos analistas Eduardo Loyo e Claudio Ferraz, do BTG Pactual, para a decisão do Comitê do Banco Central. “Na última semana, o Copom parecia prestes a realizar uma reunião tranquila nesse mês, com os mercados menos preocupados em relação à decisão da taxa Selic. O mercado parecia mais preocupado com o que a sinalização do comitê para as próximas reuniões”.
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Entretanto, avaliam os analistas do BTG, as coisas mudaram consideravelmente desde então, com os preços de mercado oscilando em direção a um corte de 75 pontos-base, como foi sinalizado pelo mercado de juros futuros.
Tsunami monetário
A expansão adicional da já abundante liquidez global, após expressivas injeções de liquidez promovidas pelas principais autoridades monetárias mundiais, vem intensificando a tendência de apreciação do câmbio doméstico. Isso leva a um tsunami monetário, segundo palavras da presidente Dilma Rouseff,já que o mercado internacional busca rentabilidades mais atrativas oferecidas pelas aplicações financeiras nos países emergentes, caso do Brasil, avaliam os consultores da LCA.
Assim, a chamada “guerra cambial” leva o governo brasileiro a adotar medidas voltadas a reduzir a atratividade das aplicações no País, o que levaram os consultores a reajustarem a estimativa para a Selic. As reclamações da presidente brasileira sobre a forte injeção de capital na Europa, refletindo no Brasil, foram listadas pelo BTG como uma das evidências a favor de cortes mais altos na taxa básica de juros.
Entretanto, avaliam os analistas do banco, essa situação continua em linha com as considerações apontadas pelo Copom na ata da última reunião, que indicou a intenção de trazer a Selic para o patamar de um dígito. Porém, ponderam os analistas, isso não implicaria necessariamente em um ritmo maior nos cortes.
Desaceleração da economia e da inflação
A equipe da LCA avalia ainda que os indicadores econômicos chineses, apontando para uma desaceleração maior da economia do país do que a esperada pelo mercado na virada do ano, e uma reativação mais lenta do que a esperada, também motivam uma queda na taxa de juro. Isso porque o crescimento mais baixo da segunda maior economia do mundo reflete em menor demanda pelos produtos brasileiros, impactando a economia nacional.
Os analistas do BTG Pactual destacam as declarações do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmando que a economia brasileira está se expandindo abaixo do potencial desde o terceiro trimestre de 2011. Desse modo, Loyo e Ferraz avaliam que essas declarações soaram como justificativa para indicar um corte ainda mais rápido nas taxas de juro.
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Além disso, a desaceleração mais consistente da inflação corrente, como revelado pela deflação do IPC-Fipe (Índice de Preços ao Consumidor – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), a consultoria passou a incorporar mais três cortes de 50 pontos-base. Desse modo, a LCA acredita em uma expectativa de juro básico para o patamar de 9% até a reunião de maio do Comitê.
Corte mais expressivo não está descartado
“É preciso reconhecer, ademais, que são longe de desprezíveis, embora não pareçam preponderar, as chances de que o Copom opte por acelerar o ritmo de corte da Selic já na próxima quarta-feira (7), determinando um corte de 75 pontos-base”, afirma a LCA Consultores.
No entanto, uma eventual intensificação no ritmo de redução da Selic na reunião dessa semana não implica em uma nova revisão na curva da taxa básica de juro pela LCA, já que a consultoria espera uma reativação da atividade da economia no segundo trimestre de 2012.
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A equipe de análise da LCA reitera ainda que tem como hipótese preponderante a adoção de medidas alternativas ao aumento do juro básico, caso seja necessário apertar as condições monetárias mais adiante.
“Assim, contando com uma execução fiscal cautelosa e com a adoção de medidas macroprudenciais, continuamos a avaliar que a Selic atravessará estacionada o biênio 2012-2013”, afirma a consultoria.