LCA aponta o grande determinante para os cenários pós-eleição e como ele afetará mercado

Consultoria destaca cenário-base e cenário alternativo pós eleições, tendo como principal elemento o desfecho das eleições no final do ano sobre a credibilidade da política econômica brasileira

Lara Rizério

Publicidade

SÃO PAULO – Outubro será um mês determinante para os mercados, em meio à corrida eleitoral. E os efeitos que o pleito deve trazer é o que deve determinar os cenários para o País, conforme aponta a LCA Consultores. 

Tendo o cenário macroeconômico internacional como dado – de uma leve, mas contínua recuperação – e sem grandes perspectivas de mudança, o cenário interno deve ser o grande elemento, tanto para o bem quanto para o mal. O cenário brasileiro está cada vez mais carregado de incertezas tendo como um dos temores, por exemplo, o risco de ocorrência de um racionamento compulsório de energia elétrica.  

Desta forma, a equipe da LCA, que por um período apontava uma inflexão marcante no quadro internacional como o elemento capaz de deslocar a conjuntura econômica para um outro cenário, aponta agora que as variáveis domésticas podem fazer com que o ambiente para a economia brasileira mude. 

Continua depois da publicidade

E assim, aponta a equipe econômica da consultoria, o principal elemento passa a ser o impacto do desfecho das eleições no final do ano sobre a credibilidade da política econômica brasileira e, assim, como ele deve afetar a cotação da moeda brasileira, taxa básica de juros, entre outros. 

“Vale advertir que quando falamos do desfecho das eleições não nos referimos simplesmente ao nome do vencedor da corrida presidencial. Longe disso: pensamos no processo eleitoral como um todo e também nas sinalizações quanto ao rumo da política econômica que as principais candidaturas presidenciais emitirão, e na maneira pela qual os interesses econômicos interpretarão essas sinalizações”, apontam os consultores.

O cenário base de ceticismo..
E, no cenário-base da consultoria, com 65% de chances de acontecer, a reação ao desfecho eleitoral e/ou às sinalizações de política econômica dadas pelo presidente eleito ainda neste ano seria, ao menos em um primeiro momento, de ceticismo. Isso levaria a um aumento dos prêmios de risco dos ativos brasileiros e renovaria a pressão cambial observada no final de 2013 e começo de 2014.

Continua depois da publicidade

Nesse cenário, a cotação do dólar voltaria para o intervalo de R$ 2,40 a R$ 2,50 já no final deste ano, após se manter em torno de R$ 2,30 até as eleições. Isso geraria pressão adicional sobre a inflação – o que demandaria uma nova rodada de elevação da Selic pelo Banco Central já no começo do ano que vem – ou mesmo no final de 2014 –  de modo a reduzir o risco de que a alta do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) estoure o teto da meta neste ano e também em 2015.

Assim, a taxa Selic chegaria a 12% ao ano até meados de 2015 – passando a situar-se claramente em terreno contracionista. De acordo com a consultoria, hoje ela está mais próxima da zona de neutralidade, em termos de dinâmica inflacionária –, o que seria suficiente para que a alta do IPCA ficasse mais próxima a 6% no próximo ano, cedendo para cerca de 5,5% em 2016.

Em um quadro de aperto adicional da política monetária e de maior aversão ao risco, o crescimento da economia em 2015 se limitaria a 2,1%, taxa similar à esperada para 2014, de 1,9%, a despeito dos ventos externos mais favoráveis. Vale ressaltar que este relatório foi elaborado antes da divulgação do PIB do primeiro trimestre, que registrou uma alta de 0,2% e levou a equipe a revisar as suas perspectivas para baixo. As projeções para a atividade é de uma alta de 1,8% em 2014 e de 2% para 2015. 

Continua depois da publicidade

O presente ano, aliás, promete ser o primeiro ano de eleições “gerais” para presidente, governadores e respectivos legislativos desde 1998 no qual o crescimento do PIB será inferior ao do ano imediatamente anterior, na contramão do que sugere o ciclo político-eleitoral típico das democracias representativas.

É importante destacar que, considerando o cenário base, os ventos externos mais favoráveis (seja por uma aceleração do comércio internacional, seja por uma redução das incertezas macroeconômicas globais) ajudariam a evitar uma desaceleração pronunciada da economia brasileira em 2015, ressaltam os consultores.

… e o cenário alternativo
Já no cenário alternativo – com 35% de probabilidade -, admite-se que os prêmios de risco dos ativos brasileiros teriam descompressão relevante no final deste ano e no começo do ano que vem.

Continua depois da publicidade

“Tal evolução, além de contribuir decisivamente para a manutenção da cotação cambial em nível mais próximo do observado nos últimos dois meses, também teria efeitos benéficos sobre a confiança dos agentes, hoje bastante deteriorada, favorecendo portanto um crescimento brasileiro mais acelerado em 2015”, afirmam os consultores.

Além de contribuir para manter o câmbio em nível mais próximo do observado nos últimos dois meses, entre R$ 2,20 e 2,25, também teria efeitos benéficos sobre a confiança dos agentes, hoje bastante deteriorada. Isso favoreceria portanto o crescimento brasileiro em 2015.

Nesse caso, as simulações da consultoria apontam que a Selic nos níveis atuais, de 11% ao ano, seria suficiente para garantir um IPCA mais próximo a 5% em 2015 e abaixo disso em 2016. Isso mesmo levando em conta a pressão exercida pelos preços administrados, por conta de reajustes expressivos das tarifas de energia elétrica, que deverão levar esse grupo a registrar alta superior a 6% no próximo ano, ante 5% em 2014.

Continua depois da publicidade

“Com efeito, nesse cenário alternativo não haveria necessidade de um aperto adicional da política monetária para reforçar a trajetória de convergência da inflação em direção ao centro da meta no horizonte relevante para a política monetária”, avaliam. 

Nos dois cenários, a LCA admite que a política fiscal será adequada para garantir a obtenção de um superávit primário em torno de 2% do PIB – na medida em que esse parece ser um nível compatível com a sustentabilidade da dívida pública brasileira. Porém, a tarefa seria menos penosa no cenário alternativo, em função do crescimento mais acelerado da economia brasileira, avaliam. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.