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O choque provocado pela pandemia, juntamente com as mudanças causadas pela guerra, com o aumento dos preços de energia e de alimentos, provocaram sérias mudanças na sociedade. Uma delas está ligada à reavaliação das dependências existentes entre empresas e países, segundo defendeu Larry Fink, CEO da BlackRock, maior gestora de fundos do mundo.
Em evento virtual nesta segunda-feira (4), Fink destacou agora que Países estão se questionando se entre 50% a 70% da produção de bens de uma nação, por exemplo, deve depender de outra. “Isso deve reformular toda a cadeia de suprimentos como conhecemos hoje”, defendeu o CEO.
Segundo ele, agora é o momento em que companhias estão se perguntando como diminuir qualquer tipo de dependência. Nesse sentido, ele diz que tais questionamentos podem ser positivos para a América Latina e cita exemplos como Brasil, México e Colômbia, entre outros, que podem ser beneficiados com esse movimento.
“Se Brasil, México, Colômbia e outros focarem em dizer que estão abertos aos negócios, veremos mais companhias realizando o movimento de nearshoring ou onshoring [transferindo a operação para países mais perto, ou até para dentro do próprio país], com foco em ficar mais perto da demanda”, observou Fink.
Apesar de ter falado que a América Latina como um todo pode ser beneficiada, o CEO da gestora citou o caso específico do México, ao dizer que o país possui uma proximidade geográfica muito grande com os Estados Unidos, o que poderia ajudá-lo, caso ele estivesse disposto a alcançar esse objetivo.
Para o executivo, outra consequência de tal movimento é a divisão ainda maior do mundo entre vencedores e perdedores e um avanço ainda mais expressivo da inflação. Na visão de Fink, agora as companhias estarão cada vez mais focadas nas “redundâncias das cadeias de suprimentos”. Ou seja: em manter mais recursos disponíveis para a companhia do que aqueles estritamente necessários à operação sob condições normais.
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Apesar de destacar que isso deve trazer mais pressões inflacionárias no curto prazo, Fink ponderou que esse efeito será reduzido em um intervalo de cinco a seis anos, quando elas efetivamente conseguirem aumentar a sua capacidade produtiva.
Aceleração da descarbonização
Outro ponto que deve ser acompanhado de perto agora é a aceleração do processo de descarbonização, com destaque para a Europa, segundo Fink. Na visão do gestor, a alta dos preços de energia – impulsionada pela guerra – vai exigir um movimento mais forte em torno do hidrogênio, especialmente o verde e o azul.
“Nós acreditamos que boa parte da solução vai ser trabalhar com companhias de hidrocarbonetos, e não contra elas”, diz. “Isso pode ser uma grande oportunidade para investidores”, completou o gestor.
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Capitalismo das partes interessadas
Em meio a uma série de mudanças recentes provocadas pela guerra, outro detalhe chamou a atenção de Fink nos últimos dias. Em sua avaliação, a saída rápida de grandes empresas da Rússia foi um dos maiores exemplos de capitalismo das partes interessadas (stakeholders capitalism, na expressão em inglês) registrado nos últimos tempos.
Na prática, tal conceito trata de avaliar como companhias conseguem impactar e gerar valor não apenas para seus investidores e acionistas, mas também para todas as partes que possam sentir o reflexo direto ou indireto de seu sucesso — ou fracasso.
Segundo Fink, tais companhias deixaram a Rússia porque os próprios funcionários e clientes começaram a questionar o que a empresa estava fazendo lá.
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“Você está ouvindo não só sócios, mas funcionários e clientes. Você está trabalhando com as comunidades”, disse Fink, ao destacar que as companhias não foram forçadas por nenhum governo e que isso partiu delas mesmas.
Para Fink, isso é um “sinal de alerta para todos os governos e países”. “O poder do capitalismo das partes interessadas está aumentando”, observou o gestor, ao destacar que mais companhias estão seguindo o desejo e as necessidades dos funcionários, clientes e da comunidade ao redor.
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