JPMorgan mantém visão otimista para ações no Brasil, apesar de macro ruim; BofA vê falta de gatilhos para alta

Equipes de estratégia dos bancos destacam múltiplos deprimidos, mas têm visões diferentes sobre atratividade do mercado brasileiro

Lara Rizério

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O JPMorgan reiterou exposição overweight (exposição acima da média) para o Brasil, tanto na América Latina quanto no portfolio para os emergentes, conforme relatório de sexta-feira (14).

“Dentro de nossa alocação global de ativos, temos uma postura pró-risco, na qual as ações se sairão melhores do que outras classes de ativos, e os emergentes se sairão melhores do que o desenvolvidos”, aponta a estrategista Emy Shayo.

Enquanto a perspectiva macro é ruim, a visão da equipe de estratégia é que isso já está precificado, ao mesmo tempo que os ativos parecem atrativos, especialmente em termos de valorização.

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Há, segundo a estrategista, pouco espaço para queda e decepção, fornecendo um piso para as ações, uma vez que: 1) as taxas de juros já estarão de volta aos dois dígitos, 2) a moeda brasileira já desvalorizou muito e está barata em qualquer métrica, 3) os mercados já preveem recessão, 4) e “todo mundo” sabe que as eleições serão polarizadas.

“Isso resultou em valuations que estão nos níveis mais baixos em 20 anos, e o país hoje está em melhor forma do que estava
antes. Mesmo se remover os setores baratos no Brasil, ainda está sendo negociado abaixo da média dos últimos 10 anos. As avaliações são muito atrativas e estamos provavelmente vendo o fim das revisões negativas nos lucros”, aponta a estrategista, ressaltando que o consenso para os lucros de 2022 projeta uma queda de 10%.

Para Emy, embora seja possível ver mais algumas desvantagens com relação às ações cíclicas [mais sensíveis à macroeconomia], a maior parte das revisões provavelmente ficou para trás. Os setores que a equipe de estratégia do banco vê como os mais baratos são o de materiais básicos, petróleo e financeiro.

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“Para os cíclicos domésticos, a falta de crescimento é um impedimento; então, preferimos exposição àqueles que encontrarão crescimento por meio da consolidação, considerando que o crescimento orgânico deve estar ausente por algum tempo”, avalia a estrategista.

O relatório também aponta possíveis catalisadores de mercado.  Do ponto de vista global, destaca que um Federal Reserve que ajusta sua política monetária em um ambiente de maior crescimento normalmente é benéfico para emergentes, com América Latina e Brasil inclusos.

Os juros domésticos também são muito importantes, sendo a reprecificação da curva nos últimos seis meses o principal fator por trás do fraco desempenho das ações nos últimos seis meses. “Uma vez que houver visibilidade de que os aumentos [de juros] já forem feitos, a conversa sobre flexibilização começará”, aponta.

Além disso, uma surpresa sobre os indicadores brasileiros também poderia ser benéfica para os ativos. Na política, um importante catalisador seria uma possível mudança mais para o centro dos candidatos, com mais clareza nos planos macro
à frente. Ainda assim, as notícias de movimentação do mercado com a corrida eleitoral são improváveis ​​antes de abril, avalia.

Por outro lado, entre os riscos no radar, além de uma reversão na postura global pró-risco, a equipe de estratégia está principalmente preocupada agora com o fluxo.

“A grande rotação de ações para renda fixa que apoiou os mercados em 2019 e 2020 está sendo desfeita devido às taxas mais altas. As ações para investidores locais estão menos atrativas neste momento, especialmente pensando na volatilidade
que a política traz para o cenário. Mesmo havendo registro de entrada de estrangeiros em 2021, o mercado não teve um bom desempenho porque houve um desmonte dos fundos de hedge locais em termos de posicionamento de capital  desde setembro”, aponta Emy.

Ela avalia que, neste ponto, o movimento ainda não está totalmente terminado, pois é preciso ter um pouco de mais visibilidade à frente sobre o nível de taxa de juro.

Atenção com o fluxo

Em relatório também do fim da semana passada, o Bank of America destacou que o Ibovespa, excluindo commodities, está negociando a múltiplos no mesmo nível que entre 2015 e 2016, quando a Selic esteve em dois dígitos.

Para David Beker,  chefe de economia e estratégia do Bank of America para o Brasil, os valuations atuais devem trazer um maior “conforto” aos investidores em relação à possibilidade de novas quedas expressivas.

“Agora que o Ibovespa caiu quase 20% em relação às máximas registradas em 2021, os valuations no Brasil estão mais confortáveis. O índice ex-commodities (materiais básicos e setor de petróleo e gás) está sendo negociado ao confortável nível de 11 vezes o preço sobre o lucro futuro para os próximos 12 meses – abaixo do patamar de cerca de 15 vezes em meados de 2021 – implicando desconto de 6% em relação à média histórica”, avalia.

Porém, apesar dos múltiplos deprimidos, Beker enxerga falta de gatilhos no curto prazo para desencadear uma valorização das ações.

Destacado como um risco para o JPMorgan, o BofA vê que a rotação de ações para renda fixa continua sendo uma das principais preocupações para as ações do Brasil este ano, não vendo sinais de desaceleração dos fluxos.

O BofA calcula que os fundos de ações locais do Brasil tiveram saídas de R$ 2,3 bilhões na semana retrasada, e as saídas nos últimos 4 meses foram em média de US$ 1,2 bilhão por semana. Já o fluxo estrangeiro continua favorável e os fundos de mercados emergentes tiveram entradas de US$ 6,6 bilhões nesta semana, apontou.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.