JBS vira importante página após acordos nos EUA e ação sobe 14% em 2 pregões: até onde ela pode ir na Bolsa?

Analistas veem papéis agora passando a repercutir mais bons resultados do que passivos judiciais, mas ainda destacam alguns pontos de pressão no curto prazo

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Ainda com uma queda de 11,17% no ano, a ação da JBS (JBSS3) tem um desempenho melhor que o Ibovespa (-14,35%), mas registra um fraco desempenho quando comparada à Marfrig (MRFG3), par do setor, que vê seus papéis subirem mais de 50% no mesmo período. Isso apesar de ambas as companhias terem registrados fortes resultados ao longo de 2020.

Contudo, as duas últimas sessões foram de fortes ganhos para a JBSS3, com os investidores e analistas vendo um caminho mais claro para a companhia após a resolução de diversas questões judiciais nos EUA que tornavam mais nebuloso o rumo da empresa, apesar das operações irem bem. Ao resolver essas questões, os planos para listagem da empresa nos EUA podem voltar ao radar, apontam analistas.

Apenas na última quarta-feira (14) a J&F, controladora da JBS, e a Pilgrim’s, subsidiária americana da JBS, soltaram três anúncios de acordo que fizeram a ação JBSS3 saltar 9,20%, seguindo os ganhos na sessão seguinte, quando subiu 4,28%. Com isso, em apenas dois pregões, os papéis subiram 13,88%.

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O principal deles aconteceu no meio da tarde da quarta. A J&F comunicou ter celebrado acordo com o Departamento de Justiça dos EUA (DOJ) para encerrar o processo que abrange as mesmas condutas que foram alvo de investigação e acordo de leniência entre a holding e o Ministério Público Federal no Brasil.

A holding se declarou culpada por violar a Lei de Práticas de Corrupção no Exterior (FCPA) dos EUA e foi estabelecida uma multa de US$ 128 milhões (R$ 716 milhões) a ser paga pela holding para o encerramento do processo. O valor representa a metade da multa original aplicada pelo DoJ, devido ao crédito recebido pela J&F pelo valor já acordado com a Justiça brasileira. A JBS não arcará com nenhuma responsabilidade deste acordo.

No mesmo documento, foi informado que a JBS celebrou acordo civil com a Securities Exchange Comission (SEC, ou CVM norte americana) sobre violações das leis de valores mobiliários por condutas que fizeram a Pilgrim’s Pride, sua subsidiária nos EUA, falhar em manter seus livros contábeis com registros precisos. O acordo prevê uma multa de US$ 26,8 milhões (cerca de R$ 151 milhões) a serem pagos pela JBS.

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Mais cedo, a Pilgrim’s Pride havia informado que aceitou pagar multa de US$ 110,5 milhões (R$ 618 milhões) por ter criado restrições à competição que afetou três contratos de venda de produtos de frango de corte a um cliente nos EUA.

Conforme destaca a Levante Ideias de Investimentos, os acordos celebrados representam a resolução das pendências jurídicas carregadas tanto pela holding J&F como pela JBS nos EUA, tirando-se a incerteza a respeito das possíveis consequências decorrentes dos fatos divulgados no dia que ficou conhecido no mercado como ‘Joesley Day’ em maio de 2017, que acionou circuit breaker na Bolsa.

“Enxergamos esse conjunto de anúncios como sendo fortemente positivo para a empresa, principalmente pelos valores acordados serem irrisórios em relação ao balanço da JBS, com impactos positivos tanto no curto prazo como no longo prazo para as ações da empresa, que agora possui caminho livre para a listagem de seus ativos na Bolsa americana. O mercado deve precificar os resultados positivos divulgados pela empresa nos recentes balanços”, avalia a equipe de análise.

Na mesma linha, o Morgan Stanley destaca que, a partir de agora, a ação da companhia deve reagir mais ao balanço do que às preocupações com os processos que ela enfrenta.

“Superar eventuais contratempos com a SEC e o DoJ representa um passo significativo na resolução de tais questões [de governança corporativa], de forma que os investidores possam gradualmente se concentrar mais na evolução dos negócios da JBS. Além disso, embora os acordos não estejam relacionados à possível listagem nos Estados Unidos pela JBS, os investidores já nos perguntaram no passado se, por exemplo, uma aprovação do DoJ era necessária nessa frente ou se uma investigação pela entidade poderia representar um obstáculo para os planos da JBS”, avaliam os analistas do Morgan.

Com base em conversas recentes, os analistas ressaltam que o projeto de listagem dos EUA agora está de volta como uma das prioridades da empresa, mas mais como uma iniciativa para 2021.

Fatores a monitorar

Contudo, ainda há questões que podem mexer com o curto prazo da companhia.

A Levante ressalta que, com a resolução dessas questões nos EUA, as atenções do mercado podem se voltar para a venda de participação detidas pelo BNDESPar, braço de investimento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na JBS. O BNDESPar possui uma fatia de de 21,8% da companhia e já manifestou interesse de venda, o que ainda pode pressionar os preços das ações no curto prazo.

A casa de análise também lembra que o BNDES já vendeu suas participações relevantes na Vale (VALE3), Suzano (SUZB3) e Petrobras (PETR3) neste ano, levantando R$ 42 bilhões com as operações.

Outra questão no radar é o o pedido do BNDESPar para que a JBS processe os irmãos Batista. O BNDESPar pede indenização pelos prejuízos causados à companhia pelos desdobramentos das investigações de corrupção, tema que será avaliado na Assembleia de Acionistas no dia 30 de outubro.

Soma-se a isso a notícia de que a Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou na mesma quarta-feira à Justiça o governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), os empresários Joesley Batista e Wesley Batista, donos da JBS, além de outras 21 pessoas. O grupo é acusado de corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Nos EUA, ainda há outra importante questão legal pendente envolve a companhia, conforme reforça o Morgan: a investigação pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) sobre a discrepância de preços verificada no mercado de carne bovina após um incêndio em uma unidade de processamento da Tyson Foods e a pandemia de covid-19. O relatório faz parte de uma investigação em andamento do USDA para verificar se houve práticas desleais por parte dos frigoríficos. O Departamento de Justiça dos EUA também está investigando a questão.

O DoJ já exigiu formalmente informações dos quatro maiores frigoríficos do país (incluindo a JBS) sobre o assunto. “No entanto, observamos que, em julho, e com base na análise conduzida pelo USDA, o presidente do US Meat Institute afirmou que “o USDA não encontrou nenhuma irregularidade e confirmou que o ocorrido no mercado de carne bovina foi devido a eventos devastadores e sem precedentes. Obviamente, observamos que esta é uma investigação em andamento e que o relatório e a análise do USDA baseiam-se apenas na dinâmica do mercado”, afirmam os analistas do Morgan.

Desta forma, alguns fatores ainda têm potencial de gerar pressão no curto prazo para as ações da companhia, mas a maior parte dos analistas segue positivo com o case, principalmente em meio aos bons resultados e com uma das principais questões judiciais para a empresa nos EUA saindo do radar.

Vale destacar que, no segundo trimestre, os grandes frigoríficos brasileiros tiveram resultados bastante sólidos, sendo um dos mais elogiados justamente a JBS. Na ocasião, em 13 de agosto, a equipe de análise do Credit Suisse fez a seguinte pergunta: “como alguém pode não estar otimista?”

Os analistas do banco suíço, Victor Saragiotto e Felipe Vieira, destacaram que esperavam que a empresa entregasse seus melhores dados operacionais da história, mas não podiam antecipar quão fortes eles seriam. “A receita cresceu 32,9% na comparação anual a R$ 67,6 bilhões e o Ebitda ajustado teve uma disparada impressionante de 105,9% em relação ao segundo trimestre de 2019, para R$ 10,5 bilhões”, apontaram (veja mais clicando aqui), destacando que a divisão de carne bovina do frigorífico nos EUA foi a principal responsável pelo desempenho extraordinário.

Na avaliação dos analistas, o segundo trimestre de 2020 foi histórico e dificilmente será batido, porém, o momentum deve durar por muito mais tempo. “O nível mais depreciado do real deve ajudar a ofuscar parcialmente a pressão de custos que está por vir nas marcas Seara e Friboi.”

A recomendação do Credit para os ativos na época era – e ainda é – outperform (desempenho acima da média do mercado), com preço-alvo de R$ 40, o que representava uma alta de 80,59% frente o valor de R$ 22,15 de fechamento daquele dia 13 de agosto. Contudo, desde então, a ação mal andou: apesar da forte alta das últimas duas sessões, os papéis JBSS3 ainda estão na casa dos R$ 22.

O Bradesco BBI e o Morgan Stanley também possuem recomendação equivalente à compra para a companhia, ambos possuindo preço-alvo de R$ 33 para os ativos, o que configura um potencial de valorização de 47,32% em relação ao fechamento desta quinta-feira, de R$ 22,40. De acordo com compilação feita pela Refinitiv, de 13 casas que cobrem o papel, apenas uma tem recomendação de venda, enquanto 12 recomendam a compra para o ativo. O preço-alvo médio é de R$ 34,14 – ou uma alta projetada de 52%.

Com isso, apesar do forte desempenho dos dois últimos pregões e mesmo com desafios de curto prazo no radar, os analistas ainda veem um bom potencial de ganhos para a ação da companhia – ainda mais após a “página virada” nos EUA.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.