Itaúsa vê Alpargatas como “patinho feio” do portfólio e Itaú “longe do confortável”

Contudo, CEO da holding destaca que dona da Havaianas está numa boa direção de recuperação das rédeas

Ana Paula Ribeiro

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A holding Itaúsa (ITSA4) destacou, em teleconferência de balanços do quarto trimestre de 2023 (4T23), quais foram os maiores destaques – negativos ou positivos – em seu portfólio e que levaram aos seus resultados. A Itaúsa tem participações no Itaú (ITUB4), Alpargatas (ALPA4), CCR (CCRO3), Dexco (DXCO3), Aegea, Copa Energia e NTS.

Segundo apontou Alfredo Setubal, CEO da empresa, “a Alpargatas vem sendo o patinho feio do nosso portfólio”. Os fracos resultados enfrentados pela Alpargatas, controlada pela Itausa, levaram à troca de comando na companhia e a expectativa é de melhora de resultados. A dona da Havaianas registrou no quarto trimestre um prejuízo líquido de R$ 1,6 bilhão, forte ampliação ante os R$ 20,8 milhões de igual período de 2022.

O executivo lembra que a Alpargatas (ALPA4) tinha um plano de crescimento calcado em Havaianas e seus subprodutos que incluía a expansão internacional. No entanto, isso rendeu à empresa uma maior complexidade de operação, dificultando as entregas e afetando de forma negativa as vendas.

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“Não tivemos uma execução da maneira que esperamos. Criamos um portfólio muito mais complexo e gerou problemas de vendas, que gerou um problema em logística e atrapalhou os resultados. Essa má execução levou a resultados muito ruins. Tivemos aumento de estoque e vendas canceladas no exterior”, explicou.

Esse plano foi definido pelo antigo CEO, Roberto Funari, que ficou na companhia entre 2019 e abril de 2023. Ele foi substituído de forma interina por Fernando Edmond, o ex-CEO da Ambev e membro do conselho da Alpargatas. Ele ficou até fevereiro, quando assumiu Liel Miranda.

“Estamos em uma boa direção de recuperação das rédeas e otimistas que vamos reduzir bastante o capital de giro, a dívida e ter crescimento de vendas e recuperação do market share. Estamos com uma expectativa positiva para Alpargatas”, contou Setubal.

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Ele acresceu ainda que o resultado da empresa de calçados foi afetado pelo ajuste contábil (impairment) feito no valor da americana Rothy’s, na qual a Alpargatas detém 49%. Esse impacto foi de R$ 1,5 bilhão e a justificativa é que desde a aquisição, em 2021, a empresa perdeu valor. “Fizemos as compras no momento em que os valuation estavam muito elevados. Mas os juros nos Estados Unidos subiram e os valuations, caíram”, explicou.

Setubal, no entanto, que está otimista com a contribuição que a empresa americana deve começar a apresentar, dado que está se expandindo, mesmo que em ritmo abaixo do esperado no momento da aquisição.

Itaú longe do confortável

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Para Setubal, o Itaú (ITUB4) está bem posicionado em relação aos bancos tradicionais, uma vez que fez uma boa gestão do crédito e investimentos em tecnologia, mas que ainda há muito a ser feito para lidar com a concorrência estabelecida pelos bancos digitais. “O Itaú tem a intenção e a estratégia de se manter como o maior banco do país, então tem que reduzir custo, aumentar a receita e ser mais eficiente tanto em relação aos tradicionais como em relação às fintechs. A guerra não está ganha. Estamos em uma boa posição, mas longe de estar em uma posição confortável”, avaliou, afirmando que o banco deve manter a rentabilidade em torno de 20%.

O CEO da Itaúsa afirmou ainda que o banco não deve se desfazer tão logo da fatia de 7,5% que possui na XP. “O banco vai reduzir sem pressa, com preço adequado de venda. O banco não tem a mesma pressa que a Itausa tinha em reduzir dívida e despesa financeira. Vai ser uma venda cautelosa e de longo prazo, até porque a XP cresce, mostrou crescimento dos ativos. Não tem uma urgência de redução dessa participação”, explicou.

A Itaúsa fechou o ano passado com uma dívida líquida de R$ 652 milhões, queda de 83% em relação a dezembro de 2022. Esse recuo contou com a ajuda da venda de R$ 3,8 bilhões em ações que a holding detinha da XP.

Risco Brasil

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O executivo apontou o déficit fiscal do país como o grande risco do Brasil. Setubal apontou o “esforço grande” que está sendo feito pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de esse déficit ser o menor possível, mas acrescentou que há dificuldades políticas e econômicas para a execução do objetivo de déficit zero.

Questionado sobre ruídos relacionados à eventual ingerência política em empresas como Petrobras (PETR3;PETR4) e Vale (VALE3), o executivo comentou que interferências ou tentativas de influência em estatais ou empresas como a mineradora “não ajudam em nada na tomada de decisão” sobre investimentos. “É um fator inibidor da atração de investimentos estrangeiros para o Brasil”, acrescentou.

Ana Paula Ribeiro

Jornalista colaboradora do InfoMoney