Itaú: por que as ações caíram mais de 4% mesmo após o salto de 64% do lucro no 1º tri?

Qualidade fraca com diversos itens não recorrentes e preocupação com inadimplência são fatores que fizeram analistas não olharem balanço com bons olhos

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Quem olhar apenas para o lucro do Itaú Unibanco (ITUB4, R$ 26,71 -4,27%) do primeiro trimestre pode avaliar que o resultado foi bastante positivo. Porém, há detalhes no balanço que não foram avaliados tão bem pelos analistas.

Essa avaliação, por sinal, ajuda a explicar o movimento dos ativos na sessão desta terça-feira (4). Os papéis ITUB4 abriram com ganhos, chegando a ter alta de 1,61%, mas viraram para baixo logo depois, intensificaram as perdas durante a tarde seguindo também o exterior e fecharam em queda de 4,27%, a R$ 26,71, em um dia de perdas para as demais ações do setor.

O maior banco privado do país superou as estimativas ao registrar um lucro líquido recorrente de R$ 6,398 bilhões no primeiro trimestre deste ano, uma alta de 18,7% ante os R$ 5,388 bilhões apresentados no quarto trimestre de 2020 e com avanço de 63,5% sobre os R$ 3,912 bilhões de um ano antes. O consenso Bloomberg apontava para um lucro de R$ 5,7 bilhões no período.

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Vale destacar que, no primeiro trimestre do ano passado, o balanço foi afetado por uma provisão de R$ 10 bilhões para perdas por conta da pandemia do coronavírus. No primeiro trimestre de 2021, por sua vez, houve uma forte queda de 59,2% no custo de crédito, que inclui as despesas com provisões, a R$ 4,1 bilhões.

O retorno recorrente sobre o patrimônio líquido (indicador que mede como os bancos investem os recursos de seus acionistas, chamado de ROE) foi de 18,5%, alta de 2,4 pontos percentuais ante o fim do ano passado e avanço de 5,7 pontos sobre o período entre janeiro e março de 2020.

Para Marcel Campos e Matheus Odaguil, analistas da XP, apesar dos dados fortes, os investidores devem manter uma atenção especial à sua qualidade menos inspiradora destes resultados (confira o relatório).

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“O Itaú divulgou diversos itens não sustentáveis, que ajudaram no resultado, enquanto áreas relevantes como rendas de tarifas, margem financeira com clientes e custos apresentaram desempenho abaixo do esperado. À medida que a concorrência aumenta e os reguladores se tornam mais agressivos, acreditamos que o consumo de cobertura [para perdas] e os resultados de tesouraria sejam menos relevantes para as perspectivas do setor”, apontam.

Os analistas destacam que as provisões menores contribuíram para o resultado, com o custo do crédito bancário ficando R$ 1,2 bilhão abaixo das estimativas. Como resultado, o Itaú consumiu 20 pontos percentuais do índice de cobertura – relação entre empréstimos inadimplentes e provisões – no trimestre, embora a inadimplência ainda esteja artificialmente baixa.

Já a margem financeira (NII, na sigla em inglês) com o mercado saltou 224% anualmente, para R$ 2,4 bilhões, ficando R$ 1,3 bilhão acima das estimativas da XP, impulsionado principalmente pelos resultados de trading e margens de overhedge. Porém, são dois segmentos que os analistas veem sendo menos sustentáveis ​​do que o de crédito.

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Os empréstimos renegociados do Itaú, por sua vez, tiveram um desempenho ruim no período, com saldo aumentando 3% no trimestre, para R$ 36,9 bilhões. O crédito vencido entre 31-90 dias apresentou a principal preocupação, já que o segmento cresceu 8% no trimestre, para R$ 9,1 bilhões, ressaltam os analistas.

Com relação às receitas de serviços, as tarifas desapontaram, com um crescimento de 1% anualmente, para R$ 9,6 bilhões, abaixo do guidance de 2,5% a 6,5% de crescimento em 2021. As tarifas de conta corrente continuaram a ser pressionadas ao caírem 8% anualmente, para R$ 1,8 bilhão. Já a gestão de ativos teve um desempenho abaixo das expectativas e caiu 13% anualmente, a R$ 1,15 bilhão, enquanto cartões caíram 5% anualmente para R$ 2,9 bilhões, principalmente devido ao negócio competitivo de adquirência.

Por fim, estão as despesas com pessoal. Para Campos e Odaguil, o Itaú está ficando atrás de seus pares privados em termos de corte de custos, uma vez que o banco ainda aumentou suas despesas totais em 3,2% anualmente para R$ 12,5 bilhões. Eles avaliam que o Itaú poderia ter um melhor desempenho, especialmente nas despesas de pessoal, que cresceram 6% anualmente, para R$ 6 bilhões. Como os concorrentes digitais têm um custo de servir e de aquisição de clientes menor que o do Itaú, os participantes do mercado devem olhar para os custos com cuidado, destacam.

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“Ao todo, analisamos R$ 3 bilhões em resultados que acreditamos que os investidores devem olhar com atenção. Por outro lado, a taxa de imposto efetiva de 41% do banco também parece única, já que o banco teve que reavaliar os ativos fiscais diferidos que impactaram negativamente a linha”, avaliam.

O Bradesco BBI também aponta que a qualidade do resultado poderia ser melhor. Em relação à expectativa do banco, os principais destaques foram um custo de risco muito menor e a recuperação dos resultados de seguros. Na avaliação de Victor Schabbel, analista do banco, o lucro acima do esperado poderia até sustentar uma alta nas ações, mas que seria limitada devido à pressão que a deterioração da inadimplência pode exercer sobre as tendências de provisões daqui para frente.

Para Schabbel, a queda do custo do risco antecipa uma melhora das perspectivas para a inadimplência que o analista acreditava que ocorreria de forma mais gradual.

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Ele aponta que o índice de inadimplência do Itaú foi de fato saudável, em 2,3% (estável em relação ao quarto trimestre de 2020).

O índice de inadimplência para créditos vencidos entre 15 e 90 dias deteriorou-se apenas 20 pontos-base no trimestre, melhor do que o aumento de 40 pontos-base do sistema em geral (o Santander Brasil viu seu indicador antecedente de inadimplência subir 80 pontos-base no trimestre).

Os bancos, cabe destacar, realizaram renegociações de dívidas em meio à crise com a pandemia do coronavírus; desta forma, a expectativa é que o nível de inadimplência registre aumento nos próximos trimestres.

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Contudo, embora os indicadores atuais suportem ​​um provisionamento mais baixo (apenas 73% dos novos inadimplentes foram cobertos por despesas brutas de provisionamento), a avaliação do analista e de que a inadimplência ainda deve se deteriorar nos próximos trimestres. “À medida que a inadimplência aumenta e o índice de cobertura cai, as despesas de provisionamento não devem mais cair de forma significativa”, aponta. O analista do BBI também vê uma tendência de desaceleração da margem financeira com o mercado.

Por outro lado, Milton Maluhy, CEO do banco, destacou em teleconferência que a inadimplência em empréstimos está menor do que o maior banco brasileiro esperava, apesar da segunda onda brutal da pandemia de Covid-19. O executivo afirmou que o índice de inadimplência em 90 dias provavelmente aumentará até o final do ano, mas em níveis abaixo do previsto.

O banco deve apresentar um desempenho “muito bom” em provisões para perdas com empréstimos este ano, afirmou.

O Credit Suisse avalia que, enquanto o lucro ainda precisar ter sua sustentabilidade comprovada, principalmente nas margens de mercado e provisões, as provisões ainda estão conservadoras. Assim, eles reforçam a avaliação outperform (desempenho acima da média do mercado) para os ativos ITUB4, com preço-alvo de R$ 39 para os papéis ITUB4.

O Bradesco BBI também tem recomendação outperform para os ativos, com preço-alvo de R$ 33 (alta de 18% frente o fechamento da véspera), destacando que, apesar do momentum de alta de lucros poder desacelerar com maiores provisões e menores contribuições de margens financeiras com o mercado, o valuation dos papéis está atrativo em uma base relativa como, por exemplo, em comparação aos papéis do Santander (SANB11, R$ 38,21 -2,72%) Já a XP reitera classificação neutra e preço alvo de R$ 29 para o incumbente.

Cabe destacar que, após o fechamento, serão divulgados os números do Bradesco (BBDC3, R$ 20,60, -3,08%; BBDC4, R$ 23,80 -3,03%) referentes ao primeiro trimestre. Os ativos BBDC4 lideram a preferência dos analistas entre os bancos, de acordo com compilação feita pela Refinitiv, com quatorze recomendações de compra, zero neutra e zero de venda.

No caso do Itaú, nove recomendam compra, sete têm recomendação neutra e zero de venda. Para o Santander e Banco do Brasil (BBAS3, R$ 29,37, -1,28%), uma divisão ainda maior: cinco recomendam compra, sete têm recomendação neutra e uma recomendação é de venda para SANB11. No caso de BB, nove recomendam compra, cinco têm recomendação neutra e uma é de venda.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.