Itaú BBA corta Bradesco (BBDC4) para venda, vê tempestade perfeita para lucros entre 2023 e 2024 e alerta para “efeito Americanas”

Bradesco se une ao Santander Brasil entre ações com recomendação underperform, equivalente à venda; analistas veem impacto direto e indireto da Americanas

Lara Rizério

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O Itaú BBA é mais uma casa de análise a adotar uma visão (ainda) mais cautelosa para os grandes bancos brasileiros. No caso dos analistas da casa, a cautela também se estende para 2024.

Os analistas cortaram a recomendação para o Bradesco (BBDC4) de marketperform (desempenho em linha com a média do mercado, equivalente a neutro) para underperform (desempenho abaixo da média do mercado, equivalente à venda), mesma recomendação do Santander Brasil (SANB11).

“Vemos uma tempestade perfeita para os lucros de 2023-2024. A carteira de empréstimos crescerá menos, enquanto os NIMs (Net Interest Margin, ou margem líquida de juros) dos clientes enfraquecerão e os custos de crédito irão subir”, apontam.

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Para os analistas, o evento das Lojas Americanas (AMER3), em recuperação judicial após divulgar inconsistências contábeis bilionárias e em cabo de guerra com os bancos, está tendo efeitos cascata mais amplos do que o previsto e poderia acelerar o que se esperava ser apenas um ciclo de inadimplência (NPL, ou non performing loan) corporativa normalizado, especificamente para pequenas e médias empresas (PMEs).

Os lucros mais baixos, apontam, aumentam a incerteza elevada para os bancos, e o Itaú BBA inclui o BTG Pactual (BPAC11) neste pacote.

“Nosso único outperform [perspectiva de desempenho acima da média do mercado,  equivalente à compra] em bancos continua sendo o Banco do Brasil ([ativo=BBAS2]), com uma trajetória de rentabilidade completamente diferente e assimetria positiva [ou seja, mais riscos de alta do que de baixa]”, apontam.

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Já a preferência mais ampla do BBA por empresas financeiras de grande capitalização exclui bancos e segue com B3 (B3SA3) e BB Seguridade (BBSE3).

Os analistas do banco reduziram mais uma vez as estimativas para o Bradesco, destacando que a margem financeira (NII) fraca e as despesas altas com provisões provavelmente levarão a um retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) abaixo do custo de capital em 2023 e 2024.

“Os efeitos cascata da inadimplência da Lojas Americanas provavelmente afetarão esse banco de forma mais severa, em nossa opinião”, avalia. O Bradesco tem, segundo lista de credores apresentada pela Americanas na semana passada, R$ 4,8 bilhões a receber da Americanas. 

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Isso porque, destacam os analistas, o Bradesco tem tido uma expansão agressiva em PMEs e empresas do setor de varejo,
exatamente onde condições de refinanciamento mais rígidas poderiam levar a índices de inadimplência mais altos.

Enquanto haverá aumento de provisões, um movimento de redução do risco do portfolio provavelmente comprimirá os NIMs no próximo ano. “Nós estamos agora bem abaixo do consenso, esperando lucro líquido de R$ 20,4 bilhões para 2023 e R$ 24 bilhões para 2024 (13% e 14% ROE, respectivamente)”, apontam os analistas do BBA.

O novo valor justo para a ação é de R$ 14, o que implica em um múltiplo de P/VPA (preço de uma ação dividido pelo valor patrimonial correspondente a ela) de uma vez, que agora vê como um “teto em vez de um piso”.

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“Depois de um já mal gerido e decepcionante 2022, é provável que demore um pouco até que os investidores recuperem a confiança em sua história de ações. Além dos ganhos fracos, a incerteza política permanece elevada para todo o setor, incluindo um número significativo de disputas fiscais judiciais que podem avançar mais rápido agora com a comissão especial do tesouro (CARF)”, aponta.

Assim, sem gatilhos do ponto de vista micro, qualquer reclassificação das ações do Bradesco provavelmente dependerá de questões macroeconômicas e políticas, pelas quais o BBA vê uma melhor exposição via BB ou B3.

Sobre a temporada do quarto trimestre de 2022, o Itaú BBA é categórico: “evite bancos”.  O Santander Brasil inaugura a temporada para os bancões em 2 de fevereiro e é provável que mostre as dificuldades com o NIM de uma carteira de clientes com menos rendimento e custos de financiamento mais altos, avalia.

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Confira o calendário de resultados do 4º trimestre de 2022 da Bolsa brasileira

As provisões são um tema antes mesmo antes do evento nas Lojas Americanas, com pressão sobre os lucros. Sobre o Bradesco, veem alta nas provisões e despesas operacionais, vendo lucro crescente apenas no BB. Já Nubank (NUBR33) e Inter (INBR32) devem ter pequenas altas nos lucros para o que é um trimestre sazonalmente melhor, enquanto o BB Seguridade deve novamente se destacar positivamente, embora já bem esperado. No universo de adquirência, são mais construtivos com PagSeguro (PAGS34), que devem mostrar queda do custo de financiamento neste trimestre.

Efeito Americanas: impactos diretos e indiretos 

Sobre os efeitos da Lojas Americanas, os analistas do BBA esperam que 50% dos valores sejam provisionados já no quarto trimestre de 2022 (4T22), como evento subsequente.

“Nossas estimativas para o ano fiscal de 20222 e 2023 foram alteradas para refletir também 70% de provisionamento no 4T23. Isso evoluirá de acordo com a forma como as expectativas de renegociação e recuperação se desenrolam. Isoladamente, o evento não é material para qualquer um dos rendimentos do ano fiscal ou índices de capital do banco. Tememos por maiores potenciais impactos indiretos”, avaliam.

Os analistas avaliam sentirem mais apreensão pelo crédito das empresas corporativas em geral após o evento da Americanas, da originação aos canais de distribuição (fundos de crédito, gestores de patrimônio, entre outros.).

“Isso pode levar a condições piores de novos créditos ou refinanciamentos (taxas mais altas, prazos mais baixos, limites menores, mais garantias, entre outros), o que por si só causa mais inadimplência”, avaliam.

Na semana passada, o Credit Suisse cortou a recomendação do Santander Brasil para equivalente à venda e destacou uma divergência anormal entre os bancos em 2023, com números melhores do BB e Itaú e piores de Bradesco e Santander.

No último fim de semana, a Genial Investimentos cortou a recomendação de manutenção para venda. “Depois de um ano duro onde as receitas de juros   contraíram, muito por conta de uma tesouraria no negativo e despesas com provisões crescendo fortemente por conta da piora no ciclo de inadimplência, vemos 2023 como uma continuação melhorada de 2022 com o agravante da absorção de perdas bilionárias com as Americanas”, avaliaram os analistas.

No momento, apontaram não verem catalisador (trigger) para valorização das ações em um curto/médio prazo devido a: (i) alto grau de custo de crédito continuando a pressionar a geração de lucro; (ii) tesouraria fraca devido ao cenário de juros altos; (iii) margem com clientes mais fraca por conta do mix migrando para produtos mais garantidos; (iv) despesas administrativas pressionadas pela inflação alta; e (iv) R$ 3,6 bilhões de impacto das dívidas podres de Americanas no balanço.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.