IRB (IRBR3) tem trimestre “drasticamente impactado” por seca histórica e faz plano de reenquadramento de solvência

Ressegurador planeja concluir seu plano para corrigir insuficiência de capital até 31 de outubro, disseram executivos em teleconferência após balanço

Felipe Alves

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O resultado do segundo trimestre de IRB (IRBR3) foi “drasticamente impactado” pela seca histórica que afetou a região Sul, afirmou o CEO Raphael de Carvalho, em teleconferência de resultados nesta terça-feira (16).

Segundo ele, o índice de sinistralidade 124% foi o principal detrator que levou ao prejuízo do 2T22. Se a sinistralidade fosse normalizada sem este efeito atípico, o índice teria sido de 89%.

“Vivenciamos um momento histórico negativo para o segmento de seguros e resseguros. Nunca tivemos uma sinistralidade de agro superior a 108%”, destacou Wilson Toneto, Vice-Presidente Técnico e de Operações. A diretoria do IRB citou que a seca ocorrida no Paraná foi a maior dos últimos 90 anos e o Rio Grande do Sul não via uma seca tão grande como esta há mais de 75 anos. Nestes dois Estados, há enorme concentração da safra segurada pelo IRB.

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O resultado do 2T22 foi também fortemente impactado pelas perdas da safra de verão e ultrapassou as proteções do IRB, segundo Toneto. Foram pagos ou provisionados cerca de R$ 1,5 bilhão referente às safras de inverno de 2021 e verão 2021/2022. No momento a empresa afirma que possui verba para fazer frente a este valor, mas o impacto total só será conhecido no fim de agosto.

Pode ser frustrante no meio de um processo de recuperação ter que lidar com eventos tão atípicos que prejudicam os resultados, mas a diretoria do IRB apontou que é importante não perder de vista a recuperação do trimestre desconsiderando os efeitos do clima.

Assim, na teleconferência, foram apresentados dados comparativos retirando-se o efeito ocasionado pela seca histórica. O índice de sinistralidade que ficou em 124% no 2T22 seria o já mencionado 89% sem o impacto do clima, valor que estaria melhor do que o registrado no 2T21, de 95%. “Isso mostra que as estratégias do IRB deram certo”, aponta Toneto.

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Já os indicadores de despesas de comercialização e administrativas foram melhores no 2T22 do que em igual período do ano anterior. Esse ponto foi importante para ajudar na recuperação da margem operacional, segundo o CEO Raphael de Carvalho.

No momento, a diretoria do IRB prioriza três iniciativas para reforçar sua condição financeira. Segundo Raphael de Carvalho, as ações em andamento incluem a avaliação da realização de uma oferta de ações (follow on), a venda de imóveis e ativos, e operações estruturadas de retrocessão.

Plano de recuperação

Na segunda-feira (15), mesmo dia da divulgação dos resultados, o IRB enviou à Superintendência de Seguros Privados (Susep), que regula o setor, um plano de recuperação de solvência para reenquadrar companhia. Segundo Toneto, o plano deve ser executado em até três meses. Ou seja, até o fim de outubro deve ser regularizada a questão da solvência do IRB.

A companhia registrou insuficiência do patrimônio líquido ajustado em relação ao capital mínimo requerido no montante de R$ 614 milhões, chegando a apenas 64% do capital mínimo requerido. Também houve não enquadramento da cobertura de provisões técnicas e liquidez regulatórias de R$ 730 milhões.

Cabe ressaltar que, na véspera, as ações do IRB caíram quase 10% em meio a preocupações sobre as eventuais condições de uma potencial oferta de ações que a resseguradora afirmou que avalia para captar recursos.

Carvalho apontou que a empresa já tinha uma aprovação prévia para um aumento de capital de até R$ 1,2 bilhão. Segundo o CEO, o montante do reforço de capital, que pode envolver uma oferta primária de ações, ainda em estudo – como informado na véspera – e venda de imóveis detidos pela companhia, ainda não foi definido. De acordo com o balanço mais recente, a companhia tinha no fim de junho R$ 91 milhões em imóveis destinados à renda.

O IRB encerrou o 2T22 com solvência de 194% e tem R$ 8 bilhões em ativos para fazer frente às obrigações com os clientes, segundo o CEO. Ele destaca que é fundamental manter a disciplina e a perseverança do que já foi proposto pela nova administração.

Ou seja, o foco do IRB permanece em: aumentar o percentual de negócios no Brasil, reduzir a concentração por contrato e segmento, melhorar despesas administrativas e comerciais, e contínuo ajuste de preços x riscos.

Covid-19 ainda impacta operações

Outro fator que continua a causar efeitos negativos nos indicadores do IRB é o efeito da Covid-19, que seguem afetando a indústria de seguros.

Desde o início da pandemia de Covid-19, o resultado foi impactado diretamente em R$ 240 milhões em sinistros retidos, preponderantemente no segmento de Pessoas que representou 82% deste montante. Segundo Daniel Veiga, Vice-Presidente de Danos, houve alta de 116% de sinistros relacionados à Covid no 1S22 em relação ao 1S21.

Análise dos resultados

Após o balanço do 2T22, o Citi manteve recomendação de venda para as ações do IRB, com preço-alvo de R$ 2,40, ainda uma alta de 15% frente o fechamento da véspera. Os analistas destacam que, com a insuficiência de capital da empresa, o possível aumento de capital parece ser a “única saída”.

Com os resultados do trimestre ainda no vermelho, as ações permanecem sofrendo e os investidores continuam a perder interesse em IRB, na avaliação do banco.

A Eleven Financial, que tem a recomendação do IRB sob revisão, apontou que a sinistralidade no seguro rural foi a grande detratora de performance, mas não foi um efeito isolado.

“Olhando o resultado de subscrição (underwriting) por linha de negócio, apenas o segmento de riscos especiais registrou resultado positivo. Ou seja, mesmo após todos os ajustes, as novas safras de prêmios seguem dando prejuízo e, nessa altura do campeonato, já esperávamos um nível saudável de sinistralidade, o que não aconteceu”, aponta.

De acordo com o analista Carlos Daltozo, a notícia positiva foi o resultado financeiro, que no primeiro semestre de 2022 registrou ganhos de R$ 363,9 milhões, ainda assim não compensando o fraco resultado operacional, enquanto a maior preocupação é com relação aos indicadores regulatórios.

“A queima de caixa registrada nos últimos três trimestres levou a companhia à insuficiência de capital regulatório (…) A iminente oferta subsequente, que é o principal meio da empresa se reenquadrar e que já foi autorizada na AGE [Assembleia Geral Extraordinária] de 10 de maio de 2022, traz uma forte pressão vendedora para a ação no curto prazo”, apontam os analistas.

A maior questão agora é se realmente a companhia irá conseguir levantar esse capital no mercado, uma vez que a captação de até R$ 1,2 bilhão aprovada, somada aos R$ 2,1 bilhões captados em 2020 já é superior ao valor de mercado atual da companhia. “É grande o desafio da nova gestão em reenquadrar o IRB no capital regulatório mínimo”, aponta o analista.

O JPMorgan aponta que a combinação de uma rentabilidade ainda sem brilho e um aumento de capital em potencial deve continuar impactando negativamente as ações. Além disso, vê a empresa negociando a múltiplos que não considerada baixos. A recomendação é underweight (exposição abaixo da média do mercado), sem preço-alvo definido.

Na sessão desta terça-feira (16), os papéis tiveram forte volatilidade, mas fecharam com alta de 3,85%, a R$ 2,16. No ano, a queda acumulada é de 48% (até a sessão da véspera).

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