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SÃO PAULO – Árabes socorrendo norte-americanos. Embora pareça paradoxal, trata-se de uma nova realidade do sistema financeiro dos EUA. Em meio à enxurrada de notícias sobre perdas com a crise no mercado das hipotecas de alto risco, este tem sido o motivo de alívio aos bancos em Wall Street.
Aproveitando as dificuldades enfrentadas pelos bancos norte-americanos em virtude dos prejuízos oriundos dos títulos lastreados em hipotecas de alto risco, governos de países como Cingapura, Emirados Árabes Unidos, Kuait e Coréia do Sul compraram participações em grupos como Citigroup e Merrill Lynch.
Ávidos para recuperar os montantes perdidos com o subprime, os bancos chegaram a receber mais US$ 21 bilhões em investimentos – US$ 14,5 bilhões o Citi e US$ 6,6 bilhões a Merrill Lynch. No quarto trimestre, ambos registraram prejuízo líquido de aproximadamente US$ 10 bilhões diante da crise.
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Insegurança
A entrada triunfante dos chamados fundos de investimentos de governos estrangeiros em instituições do país evidencia uma mudança na globalização financeira: fundos de países emergentes ajudando grandes empresas dos países desenvolvidos.
Apesar de bem recebida pelas bolsas dos EUA, a injeção de capital de nações árabes e asiáticas na poderosa indústria financeira norte-americana levanta um sentimento de insegurança. Os efeitos disso permanecem obscuros, segundo analistas.
“O problema maior é o da transparência. Ninguém tem completa noção sobre qual será a estratégia [de alguns fundos soberanos] e nada impede que eles adquiram grandes parcelas de empresas que podem vir a ser estratégicas [como as do setor financeiro]”, opina Eduardo Felipe Matias, sócio do escritório L.O. Baptista Advogados.
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Invasão
Matias, que também é doutor em direito internacional, destaca que o temor intensifica quando considerado o ritmo de crescimento destes fundos. A forte valorização nos preços de commodities e o saldo positivo da balança comercial são pontos a favor destas nações em desenvolvimento. “A expectativa é que até 2015 esses fundos atinjam, juntos, US$ 12 trilhões.”
Outros analistas ressaltam que a manutenção da trajetória de expansão dos fundos soberanos deve forçar que estes se tornem mais transparentes. “Se não tiver transparência eles podem enfrentar mais problemas políticos, o que pode prejudicar em novos investimentos”, lembra Andre Delben Silva, responsável pela área de gestão da Advisor Asset Management.
Geopolítica
A geopolítica também é outro fator de risco. Ainda que contribua para tapar o buraco gerado pelos problemas do setor financeiro, “são fundos estatais comprando empresas privadas”, alerta Matias. “O problema é se a política intervier em algo que deve ser de responsabilidade do mercado”, acrescenta Silva.
O saldo final da invasão dos fundos soberanos acaba sendo favorável, na avaliação do gestor da Advisor. “Isso é muito positivo. Aumenta o interesse que os bancos dos EUA funcionem bem. Acredito que isso é um benefício para o sistema econômico mundial”, completa Silva.