Inflação dá o tom em balanços de varejo de alimentos; Assaí é o primeiro a divulgar

Atacadista publica os resultados nesta quarta-feira, após o fechamento

Ana Paula Ribeiro

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A temporada de balanço das varejistas de alimentos começa nesta quarta-feira, com a divulgação dos resultados do Assaí (ASAI3). O que as projeções indicam é que a inflação de alimentos terá um efeito diferente sobre os resultados das empresas, beneficiando mais os “atacarejos”.

Os preços dos alimentos voltaram a subir nos últimos meses, o que reduz o poder de compra das famílias. O IPCA subiu 0,16% em março e acumula uma alta de 1,42% no primeiro trimestre. Ao olhar apenas para o grupo de alimentos e bebidos, no entanto, a alta é maior, de 0,53% e 2,88%, respectivamente. Em 12 meses, a inflação de alimentos está em 3,10%, abaixo do IPCA, que ficou em 3,93% nos 12 meses encerrados em março.

“A inflação alimentar deverá continuar a ganhar dinamismo, mas é provável que se torne favorável às margens apenas no segundo semestre. E, ao olhar para o ano de 2024, esperamos que a inflação de alimento feche o ano próximo a 4%, ante 3% no ano passado. No segundo semestre, a expectativa é que a alimentação alimentar atinja o pico entre setembro e outubro para níveis perto de 7%, principalmente pela base de comparação muito favorável do ano passado”, avaliaram os analistas do JP Morgan.

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Já Caroline Sanchez, analista de varejo da Levante, afirma que a inflação terá um efeito diferente sobre as varejistas. Os atacarejos, como Assaí e Grupo Mateus, vendem mais em períodos de preços em alta, puxado pela necessidade de estoque de empreendedores e pessoas físicas que passam a buscar mais esse canal. A Páscoa é outro fator que deve contribuir, assim como o processo de redução da taxa Selic.

“Projetamos um crescimento importante de receita nesse primeiro trimestre, principalmente porque a gente teve um impacto da Páscoa, que neste ano caiu no primeiro trimestre. Em contrapartida, o aumento do ICMS em alguns estados pode ter um impacto na margem bruta”, disse.


Confira as projeções para as companhias de varejo/atacarejo de alimentos:

EmpresaReceitasEbitdaLucro líquido
Assaí (ASAI3)R$ 17,4 bilhõesR$ 1,2 bilhãoR$ 54,3 milhões
Carrefour (CFRB3)R$ 25,9 bilhõesR$ 1,3 bilhãoR$ 137,4 milhões
Grupo Mateus (GMAT3)R$ 7,2 bilhõesR$ 472,1 milhõesR$ 214,8 milhões
Pão de Açúcar (PCAR3)R$ 4,9 bilhõesR$ 365,7 milhões-R$ 120,2 milhões
Consenso LSEG


Assaí


O JP Morgan espera que o Assaí (ASAI3) registre receitas de R$ 17,2 bilhões no primeiro trimestre do ano, um crescimento de 14,2% na comparação com o mesmo período do ano passado. O Ebitda (Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) deve crescer um pouco mais, 25,3%, para R$ 776 milhões. Já o lucro líquido deve cair 8,2%, para R$ 66 milhões. A margem Ebitda deve cair de 5,4% para 5,3% e o Ebitda cair 1%, para R$ 1,377 bilhão.

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Já a Ágora vê um lucro líquido de R$ 55 milhões, o que representaria um recuo de 24,3%. Esse resultado é esperado mesmo com o crescimento de receita previsto de 15,7%, chegando a R$ 17,471 bilhões e um Ebitda de R$ 1,188 bilhão, alta de 24,9%. Na visão dos analistas, o Assaí deve ter um desempenho superior ao concorrente Atacadão nos próximos três ou quatro trimestres. “O Assaí está em posição sólida para aproveitar a recuperação da inflação alimentar em 2024. A empresa apresentou maturação mais rápida de lojas convertidas vs. seu principal concorrente, pois as lojas já atingiram a meta de 3 vezes a receita do hipermercado por loja.”


O Santander prevê uma queda no lucro ainda maior, de 48,8%, para R$ 37 milhões. No caso do Ebitda, a previsão é e um aumento de 27,4%, para R$ 1,211 bilhão, e a margem Ebtida subindo de 6,3% para 6,9%. Já a Levante espera um lucro líquido de R$ 65 milhões.


Carrefour


A Ágora acredita que o resultado do Carrefour (CFRB3), que será divulgado em 7 de maio, será sustentado pela recuperação da inflação de alimentos e pelo desempenho do Banco Carrefour. Apesar desses fatores considerados como positivo, a expectativa é de prejuízo de R$ 55 milhões, 51,3% menor que o registrado em igual período do ano passado. A receita deve chegar a R$ 25,6 bilhões, leve queda de 0,7%. Já o Ebitda deve crescer 23,4%, para R$ 1,281 bilhão.

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“Com a conversão das lojas BIG concluída no segundo trimestre, a empresa poderá se concentrar na aceleração de sinergias e na melhoria das margens dos formatos menos rentáveis, com destaque para os supermercados. Embora acreditemos que as ações do principal concorrente do Atacadão, o Assaí, devam ser a melhor escolha no curto prazo (3 a 6 meses), no longo prazo as ações CRFB3 deverão ser negociadas com prêmio em relação aos seus principais pares devido ao seu melhor potencial de margem no longo prazo, o que deverá traduzir-se em melhores retornos.”

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As demais projeções são de lucro. O JP Morgan espera receita de R$ 26,07 bilhões, alta de 1%, e reversão de prejuízo para lucro líquido de R$ 123 milhões. O Santander calcula que o Carrefour tenha um lucro líquido de R$ 205 milhões, com a margem Ebitda chegando a 5,1%. A Levante espera um lucro líquido de R$ 130 milhões para o primeiro trimestre.

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Grupo Mateus

Nas projeções da Ágora, o Grupo Mateus (GMAT3), que divulga seu balanço no dia 8, deve registrar um lucro líquido de R$ 210 milhões, uma queda de 12,4%. A Receita líquida deve crescer 19,6% e atingir R$ 7 bilhões e o Ebitda deve ficar em R$ 463 milhões, alta de 12,7%. O destaque negativo do balanço deve ser a incidência do PIS/Cofins sobre os benefícios fiscais do ICMS, justificando parte do resultado menor.


“Continuamos cautelosos em relação ao Grupo Mateus no longo prazo, apesar de sua dinâmica de lucros de curto prazo ser mais forte do que o Carrefour Brasil e o Assaí. Na nossa opinião, o cenário competitivo poderá piorar substancialmente nos próximos dois a três anos, à medida que os dois líderes de mercado reduzirem a sua alavancagem, aumentarem as margens Ebitda das lojas inorgânicas e, em seguida, retomarem os planos de expansão orgânica, provavelmente aumentando o seu foco na região Nordeste, onde Mateus atua.” Para o Santander, o lucro da empresa deve cair 12,5%, para R$ 210 milhões no primeiro trimestre. O Ebitda, por sua vez, deve crescer 16,3%, para 478 milhões, mas com a margem caindo de 7% para 6,9%. A Levante vê que a rede atuante no Nordeste deve registrar um lucro de R$ 180 milhões.


Grupo Pão de Açúcar

O Pão de Açúcar (PCAR3), que divulgará o balanço no dia 7 de maio, deve apresentar uma melhora nas vendas devido à Páscoa e margens melhores, segundo expectativa da Ágora. No entanto, o resultado na última linha ainda deve sentir a pressão da estrutura de capital desequilibrada. A expectativa é de um prejuízo de R$ 173 milhões, 45,1% menor que em igual período do ano passado. Já as receitas devem subir 6%, para R$ 4,768 bilhões e o Ebitda avançar 55,7%, para R$ 349 milhões.

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“O GPA está focado em suas iniciativas de turnaround para aumentar a rentabilidade e desalavancar a empresa. Dito isto, o ritmo de melhoria da margem EBITDA não ajustada ainda é insuficiente para gerar caixa, excluindo a monetização de ativos não essenciais (venda de imóveis da sede e postos de gasolina)” avaliaram os analistas da instituição. Para a Levante, o prejuízo será um pouco menor, de R$ 99 milhões, com receita líquida de R$ 4,9 bilhões entre janeiro e março.

Ana Paula Ribeiro

Jornalista colaboradora do InfoMoney