Impossible burger: empresas de carne vegetal encantam investidores

A americana Beyond Meat abriu capital no início de maio e, desde então, o preço das ações já saltou mais de seis vezes. Hoje, a empresa vale mais que a BRF

Rodrigo Tolotti

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NOVA YORK E SÃO PAULO – O nome é quase uma piada: Impossible Burger. Afinal de contas, parece impossível substituir um suculento hambúrguer de verdade por um produto de base vegetal. E não estamos falando daquelas invenções com grão de bico, berinjela ou cogumelos, que de parecido com o hambúrguer só têm o formato redondo.

O Impossible Burger quer ser uma alternativa ambientalmente responsável e essencialmente indistinguível do bolinho de carne que foi inventado cerca de cem anos atrás por um imigrante dinamarquês nos Estados Unidos ou então por um alemão da cidade de Hamburgo (não se sabe ao certo quem foi o responsável por uma das maiores invenções do século 20).

Ao que tudo indica, os consumidores americanos, grandes connoisseurs do assunto, estão começando a acreditar no impossível.

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Redes de fast food americanas tradicionais como Burger King, Cheesecake Factory e Hard Rock Café, entre outras, incorporaram o Impossible Burger aos seus cardápios. A “carne” é servida ao ponto ou mal passada, e o Impossible Burger até “sangra”. A textura e o sabor são convincentes – mas é claro que esse veredicto depende da boa vontade de quem estiver experimentando.

Num teste cego com um hambúrguer tradicional não deve ser difícil apontar qual é qual. Mas, para vegetarianos e veganos, para quem quer diminuir a gordura na alimentação ou para quem simplesmente quer reduzir sua pegada de carbono no planeta, a inovação cumpre seu papel com louvor. O sucesso do Impossible Burger tem sido tão grande que o produto está em falta há cerca de um mês.

Os funcionários da Impossible Foods, empresa fundada em 2011 e que tem sede no Vale do Silício, estão virando noites e trabalhando nos finais de semana para dar conta da demanda.

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O hambúrguer impossível é feito com 21 ingredientes de base vegetal, incluindo proteína de soja, gluconato de zinco e outros itens impronunciáveis. O mais importante deles é a hemoglobina vegetal da soja, chamada de heme. Segundo a empresa, o heme é o que faz “a carne ter gosto de carne”.

O heme usado no Impossible Burger, diz a companhia, vem da soja, mas é idêntico ao encontrado na carne animal. Uma das propriedades intelectuais mais valiosas da Impossible Foods é o processo para obter heme vegetal em quantidades suficientes para “evitar o impacto ambiental destrutivo da agricultura animal”.

Maior que a BRF

A Impossible Foods é uma empresa privada e não divulga publicamente suas informações financeiras. Mas estar presente em redes do tamanho do Burger King, junto com os US$ 687 milhões recebidos de investimentos de risco, dão uma ideia de que o negócio é grande, muito grande. A maior prova disso é o sucesso da sua maior concorrente, a Beyond Meat.

A Beyond Meat realizou seu IPO no início de maio e desde então o preço das ações já saltou mais de seis vezes, ou cerca de 568%. Com a precificação dos papéis em US$ 25, no primeiro dia de negócios o salto já foi de 140%. No dia 12 de julho, suas ações valiam US$ 167.

O sucesso da empresa na bolsa foi tão grande que, com um valor de mercado de US$ 10,5 bilhões de dólares, a companhia passou gigantes do fast food americano, como Wendy’s (US$ 4,5 bilhões), Jack in The Box (US$ 2,2 bilhões) e Shake Shack (US$ 1,9 bilhão).

Na comparação com empresas brasileiras, a Beyond Meat já é 1,5 vez maior que a BRF (BRFS3) – hoje a maior exportadora mundial de carne de frango -, que hoje tem valor de mercado de US$ 7,5 bilhões, e dez vezes maior que a Marfrig (MRFG3), com US$ 1,1 bilhão. Mas ainda fica atrás da JBS (JBSS3), que vale US$ 18,4 bilhões.

Seu faturamento, porém, está na casa dos milhões de dólares. No primeiro trimestre deste ano, a Beyond Meat registrou vendas de US$ 40,2 milhões, valor 214,7% superior ao obtido no mesmo período do ano passado. A projeção de receita para este ano é de US$ 210 milhões.

Potencial bilionário ou bolha?

Como qualquer rali desses, seja o fenômeno dos criptoativos, ou mesmo a cannabis, investidores e analistas começam a tentar entender se ele se justifica ou se estamos diante de só mais um hype do mercado. Apesar das opiniões divergentes, algumas das maiores instituições do mundo acreditam que este é apenas o começo de uma revolução no que entendemos por comida.

Por enquanto, a Impossible Foods vende os hambúrgueres diretamente para os restaurantes, e o plano é colocá-los nas geladeiras dos supermercados ainda este ano.

A Beyond Meat – cujo slogan é “o futuro da proteína” – também vende para restaurantes e seus hambúrgueres, almôndegas, linguiças e “carne moída” estão à venda em mais de 30.000 localidades nos Estados Unidos.

Uma pesquisa recente da consultoria global AT Kearney aponta que, até 2040, 60% da carne consumida no mundo não será proveniente de animais. Segundo o relatório, 35% da carne será produzida em laboratório e 25% terá origem vegana, com base em produtos de origem vegetal.

“A transição em direção ao vegetarianismo e veganismo é inegável, com muitos consumidores reduzindo o consumo de carne e, como resultado, ficando mais conscientes em relação ao meio ambiente e bem-estar animal”, afirma Carsten Gerhardt, sócio da AT Kearney.

Em relatório no fim de maio, analistas do JPMorgan apontaram que a “carne vegetal” é uma ruptura real e afirmaram que o potencial de crescimento da Beyond Meat é “extraordinário”.

“A Beyond Meat só precisa capturar uma fração desse mercado para ser bem sucedida”, disseram os analistas. Ou seja, pelo menos neste momento, nem a concorrência parece ser um problema, principalmente na Bolsa, onde ela é a única com ações negociadas.

Apesar de tanto otimismo, há quem veja riscos. Analistas do Goldman Sachs lembram que nos últimos anos, a Beyond Meat teve dificuldades com estoques, e isso pode se tornar um problema caso a companhia não consiga acompanhar o apetite dos consumidores.

“Ao longo de 2017 e 2018, a Beyond Meat encontrou uma variedade de problemas relacionados à oferta que inibiram o crescimento e pesaram sobre as margens”, disse o Goldman, apontando que estes problema não foram “insignificantes”, embora a empresa os tenha superado.

O mercado global de “carnes vegetais” pode superar US$ 100 bilhões na próxima década, segundo o JPMorgan, ou US$ 140 bilhões, de acordo com as projeções do Barclays. Ainda é pouco diante do US$ 1,4 trilhão movimentado mundialmente pela carne de verdade. Mas, para um negócio que parecia impossível, não é nada mau.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.