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O dia começou com Ibovespa em alta, dólar em queda, apesar movimento contrário observado nos índices de Nova York. Enquanto lá fora investidores observavam com cautela e sem saber o que esperar da economia após o “shutdown” (termo que indica o impasse fiscal dos Estados Unidos, que, sem acordo entre os partidos, tem funções de governo “congeladas), por aqui, os ativos pareciam reagir com otimismo.
Por fim, o Ibovespa fechou em queda o primeiro pregão de outubro nesta quarta-feira, refletindo ajustes de posições, após uma performance positiva em setembro, marcada por novas máximas. Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa recuou 0,49%, a 145.517,35 pontos, após avançar a 146.879,33 pontos na máxima e marcar 145.193,28 pontos na mínima do dia. O volume financeiro somou R$20,7 bilhões.
Uma das razões da alta, mais cedo, era a expectativa de fluxo vindo dos EUA. “Em geral, não é uma situação que causa grandes efeitos no mercado, durando apenas alguns dias e rapidamente retornando à normalidade”, explica Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad, que ressalta a previsão de não haver divulgação do payroll na sexta-feira (3).
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“Uma menor visibilidade da situação econômica americana poderia motivar fluxos para outras economias, incluindo emergentes e o Brasil”, avalia.
Em paralelo, a probabilidade de o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) realizar um corte de 25 pontos-base (pb) nos juros dos EUA em outubro, o que indicaria mais fraqueza do dólar, ganhou força no mercado após a pesquisa ADP mostrar cortes de emprego no setor privado americano.
Situação se inverte no Brasil
No início da tarde, no entanto, a situação se inverteu no Brasil. O dólar inverteu sinais e passou a subir, enquanto o Ibovespa passou a ceder, em meio à reversão da expectativa de fluxo estrangeiro, aliada a realização de lucros e com a Weg pesando após “downgrade” do Citi.
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Já os índices de Wall Street viraram para o campo positivo, refletindo expectativas de curta duração no shutdown. O site de apostas Polymarket, que ficou famoso por prever o resultado das eleições nos EUA e que apontava 90% de chance de uma paralisação, estima agora que a interrupção durará até o dia 15 de outubro – muito menos do que o episódio de 35 dias no primeiro mandato de Trump.
O S&P 500 subiu 0,4% e atingiu um novo recorde intradiário, enquanto o Nasdaq Composite subiu 0,5%. O Dow Jones negocia em alta de 62 pontos, ou 0,1%. No ponto mais baixo do dia, o S&P 500 chegou a cair 0,5%.
O fator payroll
Para Zoghbi, da Nomad, acabou tomando forma a impressão de que a falta do payroll, o principal dado que sustentou corte de juros pelo Fed, tende a estressar um mercado cujos movimentos recentes estão fortemente apoiados na expectativa pela continuidade do afrouxamento da política monetária. Com isso, o dólar se fortalece.
Ainda que o shutdown se prolongue, o que não é cenário-base da maioria dos analistas, o JPMorgan considera possível que o payroll seja divulgado antes da reunião do Federal Open Market Comittee, no fim de outubro. Enquanto isso, as informações presentes no relatório ADP e também na divulgação de Confiança do Consumidor na terça-feira (30) seguirão mandando “sinais preocupantes”, de acordo com o banco. “Riscos no mercado de trabalho seguem aumentando”, afirma o relatório do JPMorgan.
De olho no Congresso
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Para além do impacto causado pelo cenário internacional, o mercado também redobra atenções para a situação fiscal brasileira, acompanhando de perto o projeto de isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil, que deve ser votado nesta quarta.
A dúvida de analistas é de onde sairão os recursos para cobrir a perda de receita, calculada em R$ 26 bilhões. “Tem muita incerteza, será preciso ter uma solução em 2027”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, indicando que não imagine uma solução fiscal de curto prazo.
“A votação do projeto de isenção do imposto de renda de até R$ 5 mil. O projeto vai passar, na minha visão. A dúvida é se vai ficar no zero a zero ou se eventualmente não terá uma compensação necessária. Então, sem dúvidas, o risco fiscal fica no pano de fundo”, afirma Marcelo Bolzan, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital.
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Mesmo com a queda dos juros dos Treasuries, as taxas de juros nos títulos locais passavam por alta em toda a curva, com o papeis de inflação voltando a pagar acima de 7% de juro real.
“No Brasil, o ainda elevado diferencial de juros mantido pela Selic em patamar restritivo segue aprofundando o diferencial de juros externo e domestico. Em contraste com a queda dos yields dos Treasuries na sessão de hoje, o diferencial de juros reforça a atratividade do real no curto prazo”, diz Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad.
(com Estadão Conteúdo)
