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Durante a tarde desta segunda-feira, 19 de maio de 2025, mais precisamente às 13h05 (horário de Brasília), o Ibovespa ultrapassou o importante patamar psicológico dos 140 mil pontos pela primeira vez. O índice chegou a atingir uma máxima de 140.203 pontos no intraday, recuou para abaixo desse patamar depois, mas ainda assim renovou máximas de fechamento, a 139.636 pontos.
Conforme destaca a Rico Investimentos, vários fatores contribuíram para a recuperação da Bolsa brasileira em 2025, resultando na nova máxima histórica do índice.
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A entrada de capital estrangeiro foi o principal motor desse movimento de retomada da tendência de alta. Os investidores internacionais representam mais de 50% do volume de negociações no mercado à vista de ações.
Bruna Sene, analista da Rico que assina o relatório, aponta que o movimento de entrada de capital estrangeiro foi impulsionado por diversos fatores, incluindo:
– Fluxo de capital saindo dos EUA: houve rotação de carteiras globais, com investidores buscando oportunidades em outros países e mercados emergentes, como o Brasil, especialmente em um contexto de crescente incerteza nos Estados Unidos;
– Preços Atrativos: muitas empresas brasileiras estão sendo negociadas a preços em níveis atrativos, com múltiplos abaixo da média histórica, mas com fundamentos sólidos. Essa combinação chamou a atenção dos investidores; e
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– Expectativas de Juros: expectativa de que o ciclo de alta de juros no Brasil tenha sido finalizado em maio, ou esteja muito próximo do fim. “E como o mercado reage muito às expectativas, esse movimento já vem atraindo fluxo de capital para renda variável”, reforça a Rico.
À medida que os investidores antecipam essa mudança, setores mais cíclicos, como varejo e construção civil, voltaram a ganhar protagonismo. Além disso, outros setores têm demonstrado resiliência e capacidade de se destacar em diferentes cenários, como os de comunicação, utilidade pública e financeiro. Esses setores têm oscilado em uma tendência de alta, contribuindo significativamente para a valorização do índice, aponta a Rico.
Mas o que esperar daqui para frente?
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Para o economista e sócio da Cimo Family Office, Juan Schiavo, embora esteja negociando em sua máxima histórica nominal, o Ibovespa ainda apresenta um múltiplo Preço/Lucro (P/L) relativamente baixo em comparação à média histórica. Esse múltiplo, que indica quantas vezes o lucro projetado das empresas está embutido no preço das ações, sugere que os investidores ainda estão dispostos a pagar menos por cada unidade de lucro futuro, refletindo incertezas persistentes no mercado, mesmo após a alta recente.
Schiavo observa que o movimento de resgate do mercado acionário dos últimos 24 meses parece ter perdido força em 2025, à medida que o mercado começa a antecipar o fim do ciclo de aperto monetário, com a possibilidade de cortes nas taxas de juros.
Ele reforça que o mercado financeiro tende a se antecipar aos movimentos da economia real, e com os investidores locais ainda subalocados em ações, qualquer novo fluxo de capital direcionado à bolsa pode ter um impacto relevante na valorização dos ativos. A combinação de múltiplos ainda descontados e a expectativa de uma recuperação nos fluxos de investimentos pode abrir espaço para um desempenho mais consistente da bolsa brasileira nos próximos 18 meses.
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Assim, apesar das incertezas, o cenário atual pode ser favorável para os investidores que buscam oportunidades na renda variável.
Também olhando para frente, em relatório de maio, a XP ressaltou manter visão otimista para a Bolsa brasileira, mesmo diante de riscos macroeconômicos relevantes. A corretora reiterou sua avaliação de que as ações locais seguem subvalorizadas e apontou um valor justo de 149 mil pontos para o Ibovespa ao final de 2025.
Para a equipe de estratégia do banco, há otimismo com o mercado brasileiro, destacando que o país segue como um “vencedor relativo” entre os emergentes. A percepção foi, inclusive, confirmada em conversas da XP com investidores institucionais em Londres.
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A Monte Bravo, por sua vez, revisou recentemente o preço-alvo para o Ibovespa em 2025, passando de 138 mil pontos para 150 mil pontos – com projeção de melhora na perspectiva de inflação, contribuindo para o fechamento das curvas de juros.
Também recentemente, o Bradesco BBI elevou a sua exposição para o Brasil na região da América Latina. Para a AL, por sinal, o banco aponta um “excepcionalismo” – isso porque, na média, os mercados da região tiveram a melhor performance do mundo em 2025 e que deve seguir.
“O mercado pode ignorar fundamentos por muito tempo – mas não para sempre. A ideia de que a bolsa brasileira está barata vem sendo repetido há meses. Mas ideias, como sementes, precisam de tempo certo para germinar. E os sinais mais recentes sugerem que o tempo do mercado de ações no Brasil pode finalmente estar chegando”, avalia o BBI.
Para os estrategistas, o Ibovespa segue negociando a múltiplos bastante descontados em relação à sua média histórica — uma condição que, em boa parte, reflete o elevado prêmio de risco embutido nos ativos brasileiros, consequência direta do patamar ainda restritivo da taxa de juros.
O banco destaca um aumento de apetite no mercado, ressaltando que a mudança de postura ocorre em um momento em que a taxa Selic caminha para seu possível ponto terminal, com o Copom sinalizando o fim do ciclo de aperto monetário. “Se confirmado, esse movimento pode marcar um ponto de inflexão na percepção de risco do Brasil, o que tende a reduzir o custo de oportunidade e favorecer a reprecificação dos ativos domésticos — especialmente ações”, avalia.
Como o Brasil pode ser a única grande economia a cortar significativamente os juros, isso desencadearia uma relevante rotação do fluxo de investimentos global, enquanto as expectativas com relação a eleição de outubro de 2026 começarão a entrar no radar dos investidores para apreciação/desconto em breve. “A história mostra que isso traz fortes ajustes. E isso não tem nada a ver com quem ganha a eleição, apenas com o fato de estar no calendário”, reforça.
O Bank of America também segue comprado em Brasil, com exposição overweight em América Latina.
Para o Brasil, os estrategistas do banco esperam os primeiros cortes da Selic em dezembro deste ano e acreditam que taxas de juros mais baixas no próximo ano podem impulsionar o crescimento dos lucros e os valuations de empresas nacionais (Brasil, excluindo commodities, negociando com desconto de 13% em relação ao histórico). Para 2026, projetam a Selic em 11,25% (em comparação com os mercados precificando a Selic acima de 12%).
Já pesquisa do BofA Data Analytics de maio com gestores na América Latina também mostrou um visão mais positiva para a bolsa brasileira, com 43% dos participantes enxergando o Ibovespa acima de 140 mil pontos no final de 2025, contra 18% no levantamento do mês anterior.
Riscos no radar
Apesar do entusiasmo, a XP elencou cinco alertas: queda no prêmio de risco, piora na dinâmica de lucros, dependência de fluxo estrangeiro, deterioração técnica e riscos macroeconômicos. Ainda assim, a casa mantém uma visão construtiva sobre o país.
O BBI também aponta que o prêmio de risco ainda segue elevado. O banco reforça que é bem verdade que a narrativa de arrefecimento e reancoragem das expectativas de inflação e consequente fim do ciclo de aperto monetário vem ganhando corpo desde o início de 2025 – o que é evidenciado pelo movimento de queda da taxa dos títulos públicos prefixados de 5 anos.
A Rico Investimentos vê que, apesar do otimismo que costuma ser alimentado nesses momentos de maior euforia com um marcado importante sendo atingido, é essencial que os investidores mantenham uma postura estratégica e seletiva, e continuem buscando um portfólio de investimentos equilibrado, que esteja de acordo com o perfil de risco e objetivos de cada um.
“Embora o fluxo de capital estrangeiro esteja sustentando a bolsa, ainda existem desafios econômicos no Brasil. Portanto, recomenda-se que os investidores mantenham uma carteira equilibrada, aproveitando as oportunidades, mas evitando se expor excessivamente em movimentos de otimismo exacerbado”, conclui a Rico.