Ibovespa tem melhor maio desde 2009 com maior liquidez nos mercados, correção e alívio após fala de Trump

Já o dólar comercial, que vinha em tendência de forte alta, caiu tanto na semana como no mês

Ricardo Bomfim

SÃO PAULO – O Ibovespa fechou em alta nesta sexta-feira (29), encerrando uma semana bastante positiva, com ganho acumulado de 6,36%. Assim, o principal índice da Bolsa brasileira fechou o mês de maio no azul, contrariando o ditado “sell in may and go away”, com um avanço de 8,57%, o maior para um mês de maio desde 2009, quando o índice subiu 12,49%, segundo levantamento da consultoria Economatica.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Já o dólar comercial caiu 4,19% na semana e 1,79% no mês. Segundo Bruce Barbosa, analista da Nord Research, o dólar já tinha subido demais com uma busca de proteção pelos investidores.

Analistas apontam como os principais drivers do otimismo na Bolsa em maio a correção da queda de 45% do principal índice da B3 do topo de 12 de fevereiro ao ponto mais baixo deste ano em 23 de março, dia em que o Ibovespa fechou cotado em 63.569 pontos.

Além disso, Pablo Spyer, diretor da corretora Mirae Asset, ressalta a injeção de dinheiro por bancos centrais do mundo. “Há um pouco de artificialidade nessa alta, uma vez que os BCs despejaram US$ 14 trilhões nos sistemas financeiros globais para estimular a economia. Boa parte desse capital acabou investido no mercado financeiro.”

Evandro Buccini, economista-chefe da Rio Bravo Investimentos, concorda com essa visão, ressaltando que o Ibovespa espelhou parte dos ganhos do Dow Jones e do S&P 500 no mês. Os índices americanos, segundo ele, responderam muito bem aos estímulos promovidos pelos bancos centrais.

Outro fator de alívio para o mercado foi a redução momentânea nas tensões políticas após o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril se mostrar menos prejudicial ao presidente Jair Bolsonaro do que se antecipava.

A divulgação da gravação se deu ao mesmo tempo em que o governo acenava com uma pacificação das relações com o Congresso, que já se estremeceram novamente por conta das ameaças de Bolsonaro e seus aliados ao Supremo Tribunal Federal (STF) depois de operação da Polícia Federal que teve como alvos apoiadores do presidente da República.

De acordo com o analista da Nord, o vídeo reduziu drasticamente a chance de um impeachment de Bolsonaro no curto prazo, o que permite um respiro na Bolsa. Barbosa ressalta ainda que o “sell in may” é um fenômeno estatisticamente relevante, mas não uma lei.

Olhos no Trump

No pregão desta sexta, o grande fator que levou à alta das ações foi o alívio com a coletiva de imprensa do presidente americano Donald Trump, que não indicou qualquer intensão de desistir da primeira fase do acordo comercial fechado com a China no ano passado mesmo diante do recrudescimento das tensões com o país asiático.

Trump falou apenas que estuda restringir a entrada de chineses no país, mas sem dar detalhes sobre as restrições, e criticou a diferença de governança entre empresas americanas e chinesas com ações negociadas na bolsa de Nova York.

Com isso, o Ibovespa registrou alta de 0,52%, a 87.402 pontos, após chegar a cair mais de 1,5% no intraday por causa dos temores em torno do que Trump diria na coletiva de hoje. O volume financeiro negociado no pregão foi de R$ 40,739 bilhões.

Já o dólar comercial teve queda de 0,84% nesta sexta-feira, a R$ 5,3387 na compra e R$ 5,3404 na venda. O dólar futuro para julho caía 1,25%, a R$ 5,35, no after-market da B3 em dia de fechamento da Ptax.

No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 caiu 11 pontos-base, a 3,13%, o DI para janeiro de 2023 teve queda de 14 pontos-base, a 4,22%, e o DI para janeiro de 2025 recuou também 14 pontos-base, a 5,97%.

Ontem, o Legislativo chinês aprovou uma lei de Segurança Nacional para a cidade de Hong Kong, que concentrou protestos contra Pequim no início do ano.

A medida irritou a administração de Trump, que acusa os chineses de tolher direitos e liberdade de expressão das pessoas de Hong Kong, uma ilha que possui relativa autonomia em relação a Pequim se comparado aos territórios continentais da China.

Por outro lado, o líder dos EUA causou alguma preocupação ao investir pesado contra as redes sociais. Hoje ele voltou à carga no Twitter escrevendo que a rede “não fez nada sobre as mentiras e propagandas da China ou do partido Democrata de esquerda radical”. Na opinião de Trump, o Twitter e outras plataformas de comunicação atacam apenas republicanos e conservadores.

Ele ameaça revogar a Seção 230 da “Communications Decency Act of 1996 (CDA)”, segundo a qual nenhum provedor de internet ou plataforma pode ser responsabilizado por discursos difamatórios.

Por aqui, foi divulgado o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, que registrou uma contração de 1,54%, em linha com a mediana das projeções dos economistas compilada no consenso Bloomberg. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pegam o início dos impactos do coronavírus na economia brasileira.

Câmbio

Na noite de quinta-feira, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que a autarquia estava preparada para atuar de mais intensa no mercado de câmbio, mas que o real passou a se valorizar.

“Nós fizemos intervenções maiores, até estávamos preparados em algum momento para fazer uma intervenção maior, acabou que o câmbio voltou recentemente um pouco”, disse em transmissão pela internet realizada pelo BTG Pactual.

Apesar de estar preparado para intervir, Campos Neto reforçou que o câmbio é flutuante. O presidente do BC falou ainda que mesmo com os juros baixos, em 3% ao ano, a política monetária não está esgotada.

Noticiário corporativo

O varejo segue sendo um dos setores mais afetados pelas medidas restritivas geradas pelo coronavírus. A piora dos resultados têm sido mais intensa nas empresas desse segmento.

A Lojas Marisa registrou no primeiro trimestre do ano um prejuízo líquido de R$ 107,1 milhões, antes R$ 32,4 milhões nos primeiros três meses de 2019.

A receita líquida somou entre janeiro e março R$ 571,7 milhões, uma queda de 5,4%. O desempenho do canal de venda eletrônico contribuiu para amenizar à queda das vendas nas lojas físicas a partir de meados de março. O aumento foi de 47,3%.

Já a Cia. Hering registrou no primeiro trimestre do ano um lucro líquido de R$ 5 milhões, queda de 89,2% na comparação com igual período de 2019.

A empresa informou que cerca de 30% de suas lojas estão abertas atualmente e que as operações fabris foram parcialmente retomadas.

Já a fabricante de móveis Unicasa, dona das marcas Dell Anno e Favorita, teve prejuízo de R$ 108 milhões, ante R$ 2,973 bilhões de lucro em igual período do ano passado.

No caso da Cosan Logística, prejuízo líquido foi de R$ 80 milhões no primeiro trimestre do ano, ante lucro de R$ 7 milhões em igual período do ano passado.

A Eletrobras, por fim, reportou lucro líquido de R$ 306,83 milhões no primeiro trimestre de 2020, o que representa queda de 77,23% na comparação com o lucro líquido de R$ 1,347 bilhão de igual período do ano anterior.

Como ler o mercado financeiro e aproveitar as oportunidades: conheça o curso A Grande Tacada, do Fernando Góes – de graça nos próximos dias!

Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.