Ibovespa tem 2º pior pregão do mês antes do Copom e dólar cai quase 1% após Fomc

Índice chegou a amenizar as perdas após o anúncio do Fomc, mas voltou a acentuar a queda em seguida

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – O Ibovespa acentuou as perdas na tarde desta quarta-feira (26) pouco antes do anúncio da decisão do Fomc e se manteve assim após a autoridade americana seguir o que já era esperado pelo mercado. Enquanto isso, o dólar, que até então tinha leve queda, acentuou as perdas e voltou para a casa de R$ 3,14. Os investidores ainda ficam de olho à decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) após o fechamento do mercado.

O benchmark da bolsa brasileira recuava 1,00%, aos 65.010 pontos – no pior pregão desde o dia 6 de julho. O volume financeiro ficou em R$ 6,864 bilhões. No radar do mercado, destaque também para a temporada de balanços corporativos e as especulações sobre uma possível redução na meta fiscal deste ano e o revés do governo com o aumento de impostos sobre os combustíveis.

“Comportamento das commodities minerais no mercado internacional e safra de resultados de empresas no segundo trimestre, acabaram motivando incursões de investidores nos ativos de risco. Junto com isso, passou a crescer a posição de analistas que acreditam que ainda demorará algum tempo para bancos centrais iniciarem elevações de juros e/ou começarem a redução dos estímulos monetários (QE)”, observou Alvaro Bandeira, economista-chefe do home broker Modalmais.

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O Federal Reserve deu um passo em direção à redução de seu balanço de US$ 4,5 trilhões, com o Fomc declarando que o programa de retirada anunciado anteriormente deve começar “relativamente em breve”, em vez de usar a expressão apenas “este ano” como fez anteriormente. O banco central pretende reduzir seus títulos nos próximos anos, embora tenha dito que é improvável que restabeleça seu balanço para níveis de pré-recessão de cerca de US$ 800 bilhões.

Em uma decisão unânime, o Fed, como esperado, manteve sua taxa de juros na faixa entre 1% e 1,25%. O Fed fez algumas mudanças menores em sua declaração, alterando sua descrição da inflação como “funcionando abaixo de 2%” em vez de “ficar um pouco abaixo de 2%”, como usado em junho. A autoridade acredita que a inflação irá se estabilizar em torno da meta no médio prazo.

Os contratos de juros futuros com vencimento em janeiro de 2018 caíram 2 pontos-base, a 8,50%, ao passo que os DIs com vencimento em janeiro de 2021 recuaram 3 ponto-base, a 9,49%. Os investidores apostam que a reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) deve se encerrar com um anúncio de corte de 100 pontos-base na Selic, para 9,25% ao ano.

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Os contratos de dólar futuro com vencimento em agosto deste ano caíram 0,96%, sinalizando cotação de R$ 3,144. O dólar comercial, por sua vez, afundou 0,73% ante o real, a R$ 3,1426 na compra e R$ 3,1442 na venda, próximo da mínima do dia.

Ainda no radar, o governo central registrou um déficit primário de R$ 19,798 bilhões em junho, o pior desempenho para o mês em toda a série histórica, que tem início em 1997. O resultado, que reúne as contas do Tesouro Nacional, da Previdência Social e do Banco Central, também foi o pior da série para o primeiro semestre, com déficit de R$ 56,092 bilhões.

Destaques da Bolsa

Do lado acionário, os papéis da JBS lideraram os ganhos dentro do índice, após a companhia anunciar que fechou acordo com instituições financeiras para adiar o pagamento de R$ 21,7 bilhões em dívidas. “A JBS Brasil efetuará o pagamento integral dos juros incorridos nos termos dos contratos originais, bem como o pagamento de quatro parcelas de 2,5% do montante principal do endividamento em questão”, informou em nota.

Junto com a Caixa na renegociação estão ainda Bradesco, Santander, Banco do Brasil, HSBC, BNP Paribas e Bank of China e mais 7 instituições. Segundo a empresa, as instituições correspondem a 93% do montante principal das dívidas da JBS Brasil. Em uma negociação paralela, a JBS também fechou uma renegociação de dívidas de R$ 1,2 bilhão com o Itaú Unibanco.

Entre os resultados do dia, o Grupo Pão de Açúcar teve lucro líquido consolidado de R$ 169 milhões no segundo trimestre, ante prejuízo de R$ 583 milhões. O resultado foi apoiado em desempenho da bandeira de atacarejo Assaí e contabilização de créditos fiscais. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês) ajustado consolidado do segundo trimestre saltou 73,4% sobre um ano antes, para R$ 967 milhões.

A área de multivarejo, que abriga as bandeiras de supermercados Pão de Açúcar e Extra, teve alta de 94,5% no Ebitda ajustado, a R$ 758 milhões, enquanto a divisão o Assaí teve crescimento de 42,7% no período, para R$ 239 milhões. Segundo o balanço, o GPA registrou no segundo trimestre ganhos tributários decorrentes de ressarcimento de ICMS que tiveram impacto positivo de R$ 447 milhões na margem bruta da divisão multivarejo, que encerrou junho em 34,4% ante 29,3% no mesmo período de 2016.

Já a Lojas Renner registrou lucro líquido de R$ 193,6 milhões no segundo trimestre de 2017, o que representa uma alta de 10,7% em relação ao mesmo período do ano passado. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês), por sua vez, fechou em R$ 374,4 milhões, expansão de 7,2% em um ano.

A companhia informou também um Ebitda ajustado ao plano de opções de compra de ações, participações estatutárias e o resultado baixa de ativos fixos, que chegou a R$ 382,7 milhões no segundo trimestre, aumento de 7,5% ante igual intervalo do ano passado.

A receita líquida da Renner ficou em R$ 1,831 bilhão entre abril e junho, uma alta de 11,1% em um ano. Considerando apenas a operação de varejo, sem os produtos de crédito ao consumidor, a receita do trimestre chegou a R$ 1,630 bilhão, crescimento de 11,3% na comparação anual.

As maiores baixas, dentre as ações que compõem o índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 GGBR4 GERDAU PN 10,55 -5,30 -2,31 142,31M
 GOAU4 GERDAU MET PN 5,22 -5,09 +8,75 107,55M
 CSNA3 SID NACIONALON 7,47 -4,48 -31,15 63,80M
 ELET3 ELETROBRAS ON 13,60 -3,34 -35,60 15,63M
 LREN3 LOJAS RENNERON 29,20 -3,31 +39,36 132,74M

As maiores altas, dentre os papéis que compõem o índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 JBSS3 JBS ON 7,47 +6,71 -34,26 165,68M
 QUAL3 QUALICORP ON 31,63 +2,90 +67,97 79,51M
 PCAR4 P.ACUCAR-CBDPN 71,49 +2,13 +30,58 141,75M
 TIMP3 TIM PART S/AON 10,62 +1,63 +36,44 89,35M
 SANB11 SANTANDER BRUNT 25,94 +1,37 -7,93 41,35M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 VALE5 VALE PNA 27,94 -2,51 581,56M 460,71M 25.676 
 BBDC4 BRADESCO PN 29,75 -0,87 424,47M 277,94M 25.362 
 PETR4 PETROBRAS PN 12,98 -1,82 379,80M 427,39M 19.717 
 VALE3 VALE ON 29,66 -3,10 318,42M 157,34M 16.982 
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN 36,92 -0,46 299,29M 329,14M 19.824 
 BRFS3 BRF SA ON 37,43 +0,43 169,57M 77,49M 10.659 
 ITSA4 ITAUSA PN 9,17 -1,19 165,74M 121,50M 21.239 
 JBSS3 JBS ON 7,47 +6,71 165,68M 78,50M 25.912 
 BBAS3 BRASIL ON 28,84 -2,44 149,84M 174,93M 10.612 
 GGBR4 GERDAU PN 10,55 -5,30 142,31M 82,16M 18.546 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
IBOVESPA

Noticiário político
As especulações sobre a meta fiscal continuam rondando o mercado, após o jornal O Globo noticiar ontem que ela poderia ser flexibilizada, mas que contava com a oposição do ministro da Fazenda Henrique Meirelles. Segundo informou a Bloomberg no final da tarde, a eventual mudança ainda é carta fora do baralho para Fazenda e o Palácio do Planalto, que preferem aumentar ou criar um novo imposto a reajustar o déficit de R$ 139 bilhões. 

Ainda sobre a questão fiscal, vale destacar que a AGU (Advocacia-Geral da União) recorreu ontem ao TRF-1 (Tribunal Regional Federal), sediado em Brasília, para anular a decisão que suspendeu ontem o aumento das alíquotas do Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) sobre a gasolina, o diesel e o etanol, anunciado pelo governo na quinta-feira (20).

A suspensão foi determinada pelo juiz Renato Borelli, da 20ª Vara Federal no Distrito Federal, a partir da motivação de uma ação popular protocolada por um cidadão. A previsão do governo é arrecadar mais R$ 10,4 bilhões com o aumento do PIS/Cofins sobre os combustíveis, de modo a conseguir cumprir a meta fiscal de déficit primário de R$ 139 bilhões para este ano.

Além disso, a polêmica sobre o anúncio de PDV (Programa de Demissão Voluntária) de servidores federais, em estudo pelo Ministério do Planejamento, segue chamando atenção. De acordo com a Folha, a viabilidade do programa gera dúvidas no Planalto.

Cálculos iniciais da Fazenda indicam que o programa preparado pelo governo Michel Temer provocaria uma despesa incompatível com as receitas, com o risco de romper o teto de gastos. O programa cortaria despesas no longo prazo, algo em torno de R$ 1 bilhão por ano. O problema é que, hoje, não há dinheiro no Orçamento para arcar com as indenizações —com prêmios— previstas pelo programa.

Em meio a esse cenário de dificuldade fiscal, o Valor Econômico informa que a equipe econômica trabalha para incluir no decreto de programação financeira, que deve ser publicado esta semana, receitas adicionais de R$ 6,9 bilhões. Mesmo com a entrada dos recursos na previsão, não há garantia de reversão de parte do contingenciamento de gastos.

Segundo fontes ouvidas pelo Valor, seria possível incluir mais R$ 2,1 bilhões referentes à concessão de aeroportos; R$ 2,1 bilhões de precatórios não sacados há mais de dois anos; entre R$ 1,1 bilhão e R$ 2,2 bilhões da renegociação de dívidas dos agricultores com o Funrural (Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural); R$ 600 milhões em devolução aos cofres públicos de depósitos feitos em bancos para pessoas que já morreram e R$ 1 bilhão da concessão das Lotex.

Por outro lado, a Folha informa que a volta do recesso parlamentar pode ser relativamente “tranquila” para Temer, de acordo com informações da coluna Painel, da Folha. Para aliados, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que, mantidas as condições atuais, haverá quórum para votar a denúncia oferecida pelo procurador-geral Rodrigo Janot contra Temer já no dia 2 de agosto. Maia prevê uma vitória de Temer com relativa folga, enquanto a oposição também reconhece que o presidente venceu o “primeiro round”. Aliados na Câmara falam em algo entre 230 e 250 votos pró-Temer, somando declarações de apoio ao peemedebista e abstenções — que, na prática, também serão favoráveis a ele.

(Com Bloomberg, Agência Estado e Agência Brasil)

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.