Ibovespa sobe seguindo Wall Street sem perder de vista o fiscal; dólar cai 2% com Fed

Mercado mostra ganhos em dia de foco nos programas do governo

Ricardo Bomfim

SÃO PAULO – O Ibovespa opera em alta nesta sexta-feira (28) seguindo o desempenho das bolsas internacionais e com investidores atentos às novidades no front fiscal. A expectativa é que o ministro da Economia, Paulo Guedes, leve ao presidente Jair Bolsonaro apenas a prorrogação do auxílio emergencial e deixe para depois o polêmico Renda Brasil.

Uma fonte ouvida pela Bloomberg disse que Guedes vem alertando Bolsonaro sobre os riscos em abandonar a austeridade fiscal e os dois, a princípio, concordam com a ideia. O ministro da Economia não sairia do governo enquanto este ponto estiver em entendimento entre os dois.

Lá fora, continua animando o mercado a nova diretriz de política monetária do Federal Reserve anunciada pelo presidente da instituição, Jerome Powell, na véspera. No entanto, no Japão, o índice Nikkei caiu forte com a renúncia do primeiro-ministro, Shinzo Abe.

Às 12h43 (horário de Brasília) o Ibovespa tinha alta de 1,4%, aos 102.032 pontos.

Enquanto isso, o dólar comercial cai 2,32% a R$ 5,4481 na compra e a R$ 5,4494 na venda. O dólar futuro para setembro tinha baixa de 2,13%, a R$ 5,452.

Ontem, enquanto o Ibovespa terminou estável, a moeda dos EUA recuou em relação ao real, devido à sinalização de que o Fed manterá as taxas de juros em patamares próximos de zero por muito tempo e que está mais tolerante com a inflação.

De acordo com Bruno Lavieri, economista e sócio da 4E consultoria, a declaração de Powell de que não tem problema a inflação ficar acima da meta por algum tempo desde que nos anos seguintes isso seja compensado faz com que, no curto prazo, o dólar perca valor em relação a todas as moedas.

“O valor da divisa derrete um pouco com essa informação, mas no longo prazo os impactos não devem ser tão fortes”, avalia. Para ele, o nível do real frente ao dólar depende mais de quanto tempo demorará para que a pandemia do coronavírus seja superada e como será enfrentada pelo governo a questão fiscal.

“Hoje os riscos são assimétricos no plano fiscal. O Paulo Guedes está enfraquecido e os planos que saem são de aumento de gastos e não de contenção. No entanto, essas notícias já saíram e o mercado já as precificou, então não vejo mais tanta força na depreciação do real”, explica.

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No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 opera estável a 2,85%, o DI para janeiro de 2023 recua três pontos, a 4,05%, o DI para janeiro de 2025 registra queda de três pontos-base a 5,91% e o DI para janeiro de 2027 cai dois pontos-base a 6,89%

Entre os indicadores locais, a taxa de desocupação do país no 2º trimestre de 2020 foi de 13,3%, aumento de 1,1 ponto percentual em relação ao 1º trimestre de 2020 (12,2%). Na comparação com o mesmo trimestre de 2019 (12,0%), houve acréscimo de 1,3 ponto, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Hoje, foi divulgado o Produto Interno Bruto da França do segundo trimestre, com queda de 13,8%. Ao mesmo tempo, o consumo doméstico avançou 0,5% em julho sobre o mês anterior. Na Espanha, as vendas do varejo caíram 3,9% em julho ante o ano anterior, uma pequena melhora ante o resultado anterior.

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Japão

Shinzo Abe, no cargo de primeiro-ministro desde 2012 de maneira ininterrupta, anunciou que renunciará ao cargo por motivos de saúde.

“Decidi renunciar do cargo de primeiro-ministro”, afirmou Abe, 65 anos, em uma entrevista coletiva na qual explicou que voltou a sofrer de colite ulcerosa, uma doença intestinal inflamatória crônica, que o forçou a deixar o poder em 2007. “Vou continuar cumprindo as minhas funções até que um novo primeiro-ministro seja nomeado”, completou.

Orçamento

O governo aumentou o valor que será previsto no Orçamento para a realização de obras de infraestrutura. Em vez dos R$ 5 bilhões que vinham sendo cogitados, o presidente Jair Bolsonaro optou pelo valor de R$ 6,5 bilhões, segundo O Globo. A decisão teria sido influenciada por pressão do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).

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Dos R$ 6,5 bilhões, R$ 3,3 bilhões terão o destino indicado por parlamentares aliados ao governo, pavimentando o caminho para a reeleição presidencial. Os ministérios do Desenvolvimento Regional e da Infraestrutura devem receber R$ 1,6 bilhão cada.

A divergência sobre o valor destinado a obras públicas foi um dos motivos que causaram o adiamento do Pró-Brasil, que estava previsto para a última terça-feira. Embora o valor tenha ficado acima do que o ministro da Economia queria, o montante ficou dentro do teto de gastos.

Hoje, o mercado aguarda novas definições sobre o novo programa social do governo, chamado de Renda Brasil. Os atritos em torno deste assunto têm desgastado a relação entre Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes.

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De acordo com a Folha, o impasse na elaboração do programa pode levar o governo a prorrogar o auxílio emergencial não apenas até dezembro, mas também nos primeiros meses de 2021.

Já segundo reportagem do Estado de S.Paulo, integrantes do governo de Jair Bolsonaro admitem que o Renda Brasil pode ficar abaixo dos R$ 300 almejados pelo presidente. O programa social, que deve substituir o Bolsa Família, iria, de acordo com essas fontes, alcançar 17 milhões de famílias e não as 21 milhões previstas inicialmente.

O blog de Gerson Camarotti, do G1, por sua vez, aponta que a equipe econômica do governo chegou ao valor de R$ 300. Com isso, o anúncio do programa Renda Brasil ficaria para um segundo momento, já que a equipe econômica deve apresentar novos cálculos para que o presidente tome a decisão.

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No entanto, o ministério da Economia avalia que o governo não tem os recursos para fazer esses pagamentos. Isso porque as regras fiscais seriam desrespeitadas, ou seria necessário fazer cortes em programas sociais existentes, algo que o presidente vetou.

Bolsonaro e os ministros envolvidos no assunto devem se reunir no Palácio do Planalto. A proposta de Orçamento para 2021 deve chegar à Câmara na próxima segunda-feira (31), prazo final para a entrega.

Repasse ao Tesouro

O Conselho Monetário Nacional (CMN) autorizou o Banco Central a repassar R$ 325 bilhões das reservas de resultado cambial ao Tesouro Nacional para o pagamento da dívida pública.

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De acordo com o Estado de S.Paulo, o valor ficou abaixo do que foi pedido pelo Ministério da Economia porque o BC se mostrou resistente à operação. Em nota divulgada nesta quinta, o conselho informou ainda que o valor a ser repassado pelo BC ao Tesouro poderá ser ampliado “caso haja necessidade”

O repasse é considerado necessário para garantir ao Tesouro maior conforto na gestão da dívida pública num momento de aumento de gastos e maior dificuldade para o País se financiar no mercado.

Com a crise, o colchão de liquidez do Tesouro, que é o caixa do governo para financiar a dívida pública, chegou ao mínimo recomendado. A secretaria, no entanto, não divulga o valor.

Radar corporativo

No ambiente empresarial, os investidores aguardam hoje os resultados do segundo trimestre da EDP Energias do Brasil e do IRB Brasil, após o fechamento do mercado.

Chama atenção também o pedido de abertura de capital da varejista Havan, que pode captar até R$ 10 bilhões para expandir seus negócios. A Cury Construtora, controlada pela Cyrela, também protocolou seu prospecto preliminar.

Já a Petrobras fechou a venda de campos terrestres no ES por US$ 155 milhões.

(Com Bloomberg e Agência Estado)

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.