Ibovespa sobe 4,86% em janeiro e tem melhor desempenho desde agosto; alta continuará?

Ânimo com ativos aumentou na reta final do mês, mas analistas veem fatores de risco para continuidade das altas

Lara Rizério

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O Ibovespa fechou em queda nesta sexta-feira, refletindo ajustes após disparar na véspera, com as ações da Vale (VALE3) entre as maiores pressões negativas, mas ainda assegurou uma performance positiva no mês, o que não acontecia desde agosto do ano passado.

Índice de referência da bolsa brasileira, o Ibovespa caiu 0,61%, a 126.134,94 pontos, após marcar 127.531,99 pontos na máxima — maior nível intradia desde 12 de dezembro –, e 126.057,34 pontos na mínima do pregão.

Com tal desempenho, o Ibovespa acumulou uma alta de 3,01% na semana e de 4,86% em janeiro, quebrando uma série de quatro perdas mensais, ajudado pela entrada líquida de R$ 4,1 bilhões de estrangeiros neste mês até o dia 29. Também é o melhor mês desde agosto de 2024, quando o índice encerrou com ganhos de 6,54%.

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O volume financeiro nesta sexta-feira somou R$ 21,65 bilhões.

De acordo com o analista de investimentos Gabriel Mollo, da Daycoval Corretora, o mercado teve um dia parado, com volume baixo, e, após a alta da véspera, quando o Ibovespa fechou com elevação de 2,82%, era natural alguma realização de lucros.

Ele avaliou que dados mostrando que a dívida pública bruta do Brasil fechou 2024 abaixo do esperado, caindo para 76,1% do PIB em dezembro, de 77,7% em novembro, evitaram uma correção negativa mais expressiva. “É um bom sinal”, afirmou. A expectativa em pesquisa da Reuters apontava para 77,0%.

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Declarações da Casa Branca de que os Estados Unidos vão implementar tarifas de 25% para produtos do Canadá e México e de 10% para produtos da China a partir do sábado também minaram a segunda tentativa neste ano do Ibovespa de fechar acima dos 127 mil pontos — isso não ocorre desde meados de dezembro.

Na próxima semana, a cena norte-americana tende a continuar no radar, mas a ata da última reunião do Banco Central do Brasil também estará sob os holofotes, após o Comitê de Política Monetária (Copom) sinalizar mais uma alta de 1 ponto percentual na Selic em março, mas deixar em aberto os próximos passos.

Investidores da bolsa paulista também se preparam para o começo da temporada de balanços de empresas do Ibovespa na semana que vem, quando estão previstos os resultados de Itaú (ITUB4), Santander (SANB11), Bradesco (BBDC4), CCR (CCRO3), Multiplan (MULT3) e São Martinho (SMTO3), entre outros.

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“Janeiro foi positivo após a forte correção do fim do ano passado, em que houve certo exagero. Ainda que os problemas domésticos não estejam resolvidos, os ativos brasileiros estavam muito descontados, então a recuperação se tornou natural. A perspectiva, contudo, ainda é de voo de galinha”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, mencionando as incertezas sobre a arrecadação e o fiscal ao longo deste ano, que haviam resultado em prêmios significativos sobre o câmbio e a curva de juros. “Melhora de janeiro pode ser espuma”, acrescenta. “Mas as coisas podem se ajeitar em direção melhor se o dever de casa for feito.”

Para Bruna Centeno, economista e advisor da Blue3 Investimentos, olhando para a sessão, o anúncio do aumento dos preços do diesel pela Petrobras era o ponto positivo do dia até a mudança de direção do Ibovespa, do meio para o fim da tarde. “Foi um sinal de que a governança da companhia (Petrobras) permanece sólida, em momento de margens saudáveis tanto no diesel como na gasolina o que fez com que o mercado operasse no papel durante a sessão” diz.

Apesar dos desafios no quadro mais amplo, as expectativas para o desempenho das ações no curtíssimo prazo ficaram mais otimistas no Termômetro Broadcast Bolsa desta semana. A previsão majoritária passou a ser de alta para o Ibovespa, após estimativa anterior de estabilidade. Entre os participantes, 50 0% esperam que o índice avance, enquanto as fatias que esperam estabilidade e baixa são de 37,5% e 12,5%, respectivamente. Na edição anterior, a expectativa de ganhos tinha 37,5% do universo; a de variação neutra, 50,0%; e de queda, 12,5%.

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Enquanto isso, algumas casas seguem céticas, caso do JPMorgan, que apontou que o ânimo não deve durar e que essa alta ocorreu principalmente por motivos técnicos. O banco reduziu a exposição do Brasil na América Latina em novembro do ano passado.

“Costumamos afirmar que os ciclos brasileiros estão se tornando mais breves e que não devem permanecer por muito tempo. Desde que rebaixamos as ações do Brasil, os ativos caíram 5% enquanto o México subiu 5%. Isso ocorre apesar do fato de que o Brasil está entre os melhores mercados do mundo até o momento, com o real também se destacando, responsável por 60% da valorização do MSCI Brasil. Na verdade, ao olhar para os índices locais, o Brasil está em paridade com o México até agora, e abaixo do Chile e da Colômbia. Portanto, a história é, em primeiro lugar, técnica em relação às ações e, em segundo lugar, global (e também técnica) em relação ao real. Acreditamos que já vimos o melhor deste rali e não devemos segui-lo”, avaliam Emy Shayo e equipe, estrategistas que assinam o relatório do banco americano.

Em dólar, o Ibovespa havia chegado ao fim de 2024 a 19.462,70 pontos, refletindo a perda nominal na casa de 10% para o índice e o avanço de 27% para a moeda americana em relação ao real, no ano. Agora, no encerramento de janeiro de 2025, em que o dólar acumulou perda de 5,56% frente ao real, acomodando-se abaixo dos R$ 6, a R$ 5,83, o Ibovespa, na moeda americana, foi a 21.611,03 pontos, acima do nível em que estava no fechamento de novembro passado, então a 20.940,45 pontos.

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Contudo, permanece em nível abaixo do que se encontrava no fim de outubro (22.437,48 pontos), mês em que o dólar já havia acumulado alta de 6,13% e o Ibovespa, perda nominal de 1,60% – e que se agravaria em novembro, com -3,12%, e dezembro, -4,28%.

DESTAQUES DO IBOVESPA NA SESSÃO

(com Estadão Conteúdo e Reuters)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.