Ibovespa sobe 1%, mas não evita pior semana desde 2011 com coronavírus; dólar bate máxima aos R$ 4,48

Mercado tem semana para esquecer apesar da forte alta desta sexta

Ricardo Bomfim

(Shutterstock)

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SÃO PAULO – O Ibovespa fechou em alta nesta sexta-feira (28), porém despencou 8,37% na semana que foi marcada pelo pânico global em relação ao coronavírus. Esta foi a pior queda semanal do índice em nove anos. A última vez em que a Bolsa caiu tanto foi na semana encerrada em 5 de agosto de 2011 quando houve a crise das dívidas soberanas de países europeus como a Itália.

No mês, o índice brasileiro recuou 8,43%, no seu pior desempenho mensal desde maio de 2018, mês em que ocorreu a greve dos caminhoneiros, que paralisou o Brasil por semanas e enfraqueceu ainda mais o governo Temer.

Segundo Júlio Erse, gestor-chefe da Constância Investimentos, o principal motivo para o sell-off que atingiu em cheio o mercado brasileiro e global nos últimos dias é a imprevisibilidade acerca do que vai acontecer com o coronavírus. Embora o número de novos casos esteja desacelerando na China, o epicentro da doença, no mundo há uma disseminação que torna o ambiente bastante incerto.

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“O impacto econômico da Covid-19 depende do alastramento e das medidas tomadas para conter a doença. Se, a exemplo da China, realizarem proibições de circulação e fechamento de fábricas na Europa e outras regiões afetadas, terá um efeito duplo na oferta e demanda”, explica o gestor.

Para ele, a volatilidade dos últimos dois pregões, em que o principal índice da B3 abriu em forte queda, chegou a virar para alta, mas depois encerrou a sessão em baixa, foi consequência dessas incertezas. “Essa volatilidade foi em linha com o que aconteceu no mundo inteiro”, aponta.

Nesta sexta, contudo, o Ibovespa registrou alta de 1,15%, aos 104.171 pontos, com volume financeiro negociado de R$ 39,759 bilhões. O movimento de ganhos veio após o índice chegar a recuar 2,95% na mínima, em 99.950 pontos. Lá fora, as bolsas americanas chegaram a cair 3%, mas terminaram o dia com quedas próximas de 1%. O Nasdaq fechou com leve alta de 0,01%.

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Ajudando tanto o benchmark da Bolsa brasileira quanto os mercados internacionais esteve a fala do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, afirmando que está “monitorando de perto” a epidemia do coronavírus e seu potencial em desacelerar o crescimento econômico dos Estados Unidos.

Com isso, aumentaram as apostas de dois cortes de juros na taxa básica dos EUA nas próximas reuniões da autoridade monetária. Se isso for confirmado, a maior economia do mundo será estimulada, ao passo que o diferencial de juros entre os títulos da dívida americana e os brasileiros diminuirá, aumentando a atratividade dos ativos brasileiros ao investidor estrangeiro.

Na quarta-feira (26), a B3 teve sua maior saída diária de capital estrangeiro da história, em R$ 3,068 bilhões. Em fevereiro, o saldo acumulado de recursos estrangeiros na Bolsa está negativo em R$ 15,750 bilhões, resultado de compras de R$ 190,150 bilhões e vendas de R$ 205,900 bilhões.

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Enquanto isso, o dólar futuro com vencimento em março teve leve alta de 0,23%, a R$ 4,499. O dólar comercial registrou ganhos de 0,13%, a R$ 4,4801 na compra e R$ 4,4811 na venda. O Banco Central atuou novamente no câmbio nessa sexta, vendendo 20 mil contratos de swap. Mesmo assim, na semana o dólar subiu 2% e no mês, 4,56%.

Já entre os juros futuros, o contrato com vencimento em janeiro de 2022 teve queda de 22 pontos-base a 4,48%, enquanto o de vencimento em janeiro de 2023 recuou 22 pontos-base a 5,12%, seguido pela baixa de 17 pontos-base do vencimento em janeiro de 2025, a 6,02%.

Vírus

Os efeitos econômicos do coronavírus são cada vez mais sentidos, a Hyundai fechou sua fábrica de carros na cidade de Ulsan, na Coreia do Sul, após um trabalhador ter o diagnóstico positivo do coronavírus. A agência de notícias Yonhap informa que o governo de Seul pediu a todas as igrejas e templos no país que suspendam cerimônias para evitar a propagação do vírus.

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Ontem, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, alertou para a possibilidade de o avanço do coronavírus se tornar uma pandemia, mas ponderou que o surto ainda pode ser contido. “Estamos em um ponto decisivo”, afirmou durante entrevista coletiva em Genebra, na Suíça.

Entre os indicadores, hoje a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) mostrou que o desemprego ficou em 11,2% no trimestre até janeiro deste ano contra 11% no trimestre até dezembro e 12% ante o trimestre até janeiro de 2019. A estimativa mediana dos economistas de acordo com o consenso Bloomberg era de 11,3%.

Política 

Em sua live semanal na Internet, o presidente Jair Bolsonaro cobrou do Congresso a aprovação das reformas enviadas pelo governo, mas negou que tenha incitado a população a ir às ruas em manifestação contra o Legislativo. Sob críticas de parlamentares e do Judiciário, Bolsonaro é pressionado a aplacar uma crise política que ele mesmo provocou, ao compartilhar vídeos em apoio a uma manifestação contra o Congresso marcada para 15 de março.

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Ele pediu “serenidade” e “responsabilidade” e refutou informações de que estaria apoiando atos que teriam, entre as pautas anunciadas, de acordo com as notícias, pedidos de fechamento do Legislativo e do Supremo Tribunal Federal (STF).

“Eu não vi nenhum presidente de Poder falar sobre essa questão do dia 15, que eu estaria estimulando um movimento contra o Congresso e contra o Judiciário, não existe isso. Não falaram porque não existe isso. Agora, nós não podemos nos envenenar com essa mídia podre que nós temos aí, em grande parte, podre que nós temos ai. Eu apelo a todo mundo, serenidade, patriotismo, responsabilidade, verdade. Nós podemos mudar o destino do Brasil. Não vou falar bem do meu governo, você que julga na ponta da linha. Pode ter certeza que, cada vez mais, os chefes de Poderes vão se ajustando, porque a nossa união, são quatro homens, quanto mais ajustados nós tivermos, nós juntos podemos fazer um Brasil melhor para 210 milhões de pessoas”, afirmou.

Sobre a alta do dólar, Bolsonaro diz que não interfere no BC: “no Brasil, o dólar está R$ 4,44 e nós lamentamos, porque isso, mais cedo ou mais tarde, vai influenciar naquilo que nós importamos, até no pão, no trigo”.

PIB 

O Ministério da Economia deve revisar a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) até a próxima semana, informa o jornal O Estado de S. Paulo. A revisão ocorre por causa do avanço do surto do coronavírus no mundo, principalmente na China, de onde o Brasil importa grande parte dos produtos manufaturados e peças para a indústria. A falta de componentes industriais vindos da China faz com que fábricas brasileiras, principalmente de eletroeletrônicos, deem férias coletivas e adiem o lançamento de produtos.

Na véspera, o Bank of America reduziu, por conta do coronavírus, pela segunda vez no mês, a projeção de crescimento do Brasil em 2020, que passou de 2,2% para 1,9%. Na quarta, o JP Morgan cortou a estimativa para o PIB brasileiro neste ano de 1,9% para 1,8%.

Noticiário corporativo 

A Petrobras anunciou na noite de ontem uma série de desinvestimentos, o mais aguardado dos quais é a venda dos 51% restantes que possui de participação na Gaspetro. A estatal publicou o teaser para a venda da sua participação na distribuidora de gás natural, que possui mais de 10 mil quilômetros de gasodutos no Brasil. A Japonesa Mitsui é dona dos 49% restantes na Gaspetro. Em outro negócio, a Neoenergia aprovou a emissão de debêntures no valor de R$ 300 milhões e com vencimentos em 2045.

Já a Vale pediu à Petrobras cessão de navios para eventual vazamento. A mineradora divulgou comunicado sobre incidente com o navio MV Stellar Banner, de propriedade e operado pela empresa sul- coreana Polaris. A embarcação está encalhada a cerca de 100 quilômetros da costa de São Luís (MA), fora do canal de acesso do Terminal Marítimo Ponta da Madeira, de onde partiu na última segunda-feira.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.