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Após turbulência no início do governo, Ibovespa se recupera e dólar recua com “arrumação”: movimento continua?

Benchmark da Bolsa fechou semana com queda de 0,7%, bem abaixo dos 5% dos primeiros dois pregões de 2023; investidores aguardam novas sinalizações

Vitor Azevedo

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O Ibovespa fechou em alta de 1,23% nesta sexta-feira (6), aos 108.964 pontos. Com a ajuda do pregão de hoje, as fortes quedas que o principal índice da Bolsa brasileira registrou nos dois primeiros pregões do ano – e também do governo do petista Luiz Inácio Lula da Silva – foram praticamente apagadas, mas o benchmark ainda fechou a semana recuando 0,70%.

Em grande parte, a recuperação se deu após o novo presidente ter sinalizado que quer colocar “ordem na casa”. Em reunião com seus ministros realizada hoje, Lula falou que o Governo “não é de pensamento único” e que haverá esforços para chegar a pontos comuns.

“O Ibovespa começou a semana sofrendo bastante, após declarações de ministros e do futuro presidente da Petrobras PETR4 serem mal recebidas por investidores”, abre Ubirajara Silva, gestor da Galapagos Capital. “Hoje, porém, tivemos a reunião ministerial do Lula. A impressão que fica é que, dadas as primeiras impressões do mercado, o governo achou melhor calibrar as falas”.

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Se no começo da semana Carlos Lupi, ministro da Previdência, mencionou uma revisão da Reforma da Previdência, Rui Costa, ministro da Casa Civil, veio a público falar que o governo não está trabalhando nesta frente. Já no caso da Petrobras (PETR3;PETR4), foi o próprio “possível futuro presidente”, Jean Paul Prates, que colocou panos quentes em suas falas e disse que não haverá interferência na política de preço.

“Mercado está volátil. As falas iniciais foram tortas, mas foram perdendo força. Hoje a reunião ministerial trouxe a ideia que eles ainda estão trabalhando e que é muito cedo para declarações”, acrescenta Silva.

Fabiano Vaz, sócio e analista da Nord Research, vai na mesma linha: “Hoje todos estavam atentos para o que seria a reunião ministerial. Tivemos membros fazendo sinalizações e comentários que desagradam o mercado. Colocando em pauta alguns retrocessos na parte econômica. Isso ajudou a termos quedas fortes no começo da semana”, diz. “Tivemos agora a recuperação dos ativos, principalmente dos ligados à economia doméstica, não exatamente por falas super positivas, mas sim pela tentativa de controle da equipe”.

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Ainda no campo político, houve outros fatores que ajudaram a melhorar o sentimento do mercado com o novo governo. A ministra do Planejamento, Simone Tebet, falou que buscará atender as demandas sociais, mas com responsabilidade fiscal.

Por conta de tudo isso, é que a semana foi volátil.

O dólar fechou em queda de 2,16% nesta sexta, a R$ 5,235 na compra e a R$ 5,236 na venda, com recuo de 0,83% na semana. Na quarta-feira, contudo, a moeda norte americana era negociada, no fechamento, a R$ 5,4521.

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A mesma coisa aconteceu com a curva de juros. Os DIs para 2027, por exemplo, chegaram a ser negociados a 13,40% na quarta, para hoje fecharem a 12,79%, com queda de 28,5 pontos-base no dia. Os DIs para 2024 fecharam a 13,59%, com menos 10,5 pontos, e os para 2025, a 12,85%, com menos 28,5 pontos. Os DIs para 2029 e 2031 perderam, ambos, 26 pontos, a 12,84% e 12,83%, respectivamente.

Além das mudanças no discurso político, por fim, o Ibovespa e os demais ativos brasileiros também foram beneficiados pelo otimismo do cenário externo.

Estados Unidos também ajudou Ibovespa

Nesta sexta, em Nova York, Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq subiram, respectivamente, 2,13%, 2,28% e 2,56%, após a publicação de dados macroeconômicos referentes à economia norte americana.

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Apesar de o relatório de emprego Payroll ter trazido a criação de 223 mil vagas em dezembro, acima do consenso de 200 mil, houve menor pressão altista nos salários. Além disso, o PMI de serviços dos EUA em dezembro ficou em 49,6, contra consenso de 55, e as encomendas à indústria em novembro caíram 1,8%, contra projeção de queda de 0,8%.

“Payroll veio aquecido, mas, na comparação com dados anteriores, é possível entender que a atividade econômica americana está arrefecendo”, diz Ariane Benedito, economista especialista em mercado de capitais. “Há a esperança de investidores de que a economia dos Estados Unidos conseguirá superar o quadro inflacionário sem impacto significativo sobre o mercado de trabalho, depois do relatório apontar para um arrefecimento das pressões salariais”, acrescenta Mariane Vas, analista da Gorila Invest.

Para alguns investidores, a questão da inflação no exterior continua sendo um dos principais drivers do ano – e a próxima semana conta com publicações importantes lá fora nesta frente.

“A temática para 2023 lá fora segue, por enquanto, a mesma dinâmica do fim de 2022. É necessário entender se a inflação irá ceder e se os impactos da subida brusca de juros e em patamares elevados promovidos pelos bancos centrais serão suficientes para segurar a inflação e se causarão recessões”, pontua Fernando Donnay, sócio e gestor de carteiras da G5 Partners.

Investidores continuam cautelosos apesar de alta

Apesar da recuperação do Ibovespa, parte das casas ainda preferem manter a cautela quanto aos aportes em ativos brasileiros.

Em relatório divulgado hoje, a equipe de análise do Morgan Stanley, por exemplo, afirma que “continua na defensiva” quando o assunto é recomendação de alocação em ações brasileiras.

“Fortes impulsos fiscais e falta de clareza sobre a nova regra nesta frente podem levar as taxas de juros a ficarem mais altas por ainda mais tempo”, aponta o time, liderado por Andre Lopes. “Os movimentos do novo governo até agora apontam para uma deterioração fiscal acima de dois pontos percentuais do PIB”.

A Ibiuna, em carta divulgada a cotistas, também afirmou que prefere se manter cautelosa e com baixo envolvimento em ativos brasileiros.

“Novo governo, velhas ideias. Tudo o que vimos na área econômica durante o período de transição aponta para uma diretriz similar ao implementado pelo governo do PT no período 2011-2015 com resultados amplamente conhecidos”, defende a gestora, que tem em sua equipe ex-diretores do Banco Central. “”Difícil ver como essa agenda elevará a produtividade da economia e resultará em maior crescimento sustentado”.