“Não somos um governo de um pensamento único”, diz Lula em primeira reunião ministerial

Discurso ocorre em meio a declarações desencontradas de ministros do novo governo - o que teria precipitado a convocação do encontro no Palácio do Planalto

Marcos Mortari

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Em sua primeira reunião com todos os ministros empossados, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que seu governo não tem “um pensamento único”, mas é formado por pessoas com ideias próprias que devem se esforçar na construção de um projeto comum.

“Não somos um governo de um pensamento único. Não somos um governo de filosofia única. Não somos um governo de apenas pessoas iguais. Nós somos um governo de pessoas diferentes. E o que é importante é que, pensando diferente, tem que fazer um esforço para que, na construção do nosso processo de reconstrução desse país, a gente pense igual, a gente construa igual”, afirmou.

O discurso ocorre em meio a declarações desencontradas de integrantes do novo governo – o que teria precipitado a convocação do primeiro encontro entre Lula e seus 37 ministros no Palácio do Planalto.

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Durante sua fala, Lula disse que seu governo tem uma tarefa “árdua”, mas “nobre” de “entregar esse país melhor, mais saudável” em diversas áreas. Ele destacou a necessidade de melhorias na saúde, na educação, em ganhos da massa salarial dos trabalhadores, de oportunidades para empreendedores e produtores rurais.

“Todos nós sabemos o compromisso extraordinário que assumimos durante a campanha, com a volta do crescimento deste país, com a geração de empregos e com o crescimento da massa salarial. É possível a gente fazer a economia voltar a crescer, é possível voltarmos a crescer com muita responsabilidade, com distribuição de renda e riqueza e é possível gerarmos emprego que garanta ao trabalhador um pouco de Seguridade Social”, disse.

“Queremos investir muito no fortalecimento do sistema cooperativo deste país. Queremos investir muito no micro e pequeno empreendedor. Queremos investir muito no pequeno e médio empresário. Mas queremos que o trabalhador tenha um mínimo de Seguridade Social, que tenha garantia de Previdência, que tenha garantia de registro, que tenha a garantia de que quando, por motivo qualquer, ele estiver impossibilitado de trabalhar, o Estado garanta a ele o mínimo de segurança. Porque se não, não teremos um mundo de trabalho sadio e saudável, teremos o mundo de barbárie”, continuou.

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Na Educação, Lula disse que o país precisa, “de uma vez por todas”, “dar um salto de qualidade” no Ensino Básico e no Ensino Fundamental e destacou a necessidade de se retomar cerca de 4.000 obras paralisadas.

“Se nossa criança não for bem formada no Ensino Fundamental (…), ele terá mais dificuldade de amanhã se transformar em uma pessoa intelectualmente mais preparada, em um profissional mais preparado. E o Brasil precisa dessa gente bem formada, porque o Brasil não pode passar mais um século exportando minério de ferro, soja ou milho. Nós temos que exportar conhecimento, exportar inteligência, exportar coisa mais sofisticada, com valor agregado, para que esse país dê um salto, deixe de ser um país em desenvolvimento e passe a definitivamente a ser um país desenvolvido”, sustentou.

Na Saúde, reclamou do enfraquecimento de políticas implementadas em governos petistas, como o Farmácia Popular, o Brasil Sorridente e o Mais Médicos, e indicou que é missão do novo governo reduzir o tempo de espera por atendimento. “Todo mundo sabe que tem cidades nesse país que passa anos sem ver um médico”, disse. “Se nós não resolvermos esse problema, nós não estamos fazendo jus ao voto e a expectativa que o povo votou depositou em nós”.

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No discurso aos novos ministros, Lula repetiu não ter vergonha em montar um governo com “gente da política” e disse irá “fazer a mais importante relação com o Congresso” que já fez, em um gesto de reconhecimento da importância do Poder Legislativo para o êxito de sua gestão.

“Muitos de vocês são resultado de acordos políticos, porque não adianta a gente ter o governo tecnicamente mais formado em Harvard possível e não ter um voto na Câmara e no Senado. É preciso que a gente saiba que é o Congresso que nos ajuda. Nós não mandamos no Congresso, nós dependemos do Congresso. E, por isso, cada ministro tem que ter a paciência e a grandeza de atender e atender bem cada deputado ou cada deputada, cada senador ou cada senadora que o buscar”, disse.

O presidente salientou que sua gestão não vai “criminalizar a política”. “Todo mundo sabe da nossa responsabilidade. Todo mundo sabe que nossa obrigação é fazer as coisas corretas, é fazer as coisas da melhor forma possível”, afirmou.

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Mas deu um recado a ministros que eventualmente de envolverem em alguma ação ilícita. “Quem fizer errado sabe que só tem um jeito: a pessoa será simplesmente, da forma mais educada possível, convidada a deixar o governo. E se cometeu algo grave, a pessoa terá que se colocar diante das investigações e da própria Justiça”, disse.

A declaração ocorre no momento em que a ministra do Turismo, Daniela do Waguinho (União Brasil), é pressionada após serem revelados vínculos com ao menos três acusados de chefiar milícias no Rio.

“Eu estarei apoiando cada um de vocês, nos momentos bons e nos momentos ruins. Não deixarei nenhum de vocês no meio da estrada. Vocês foram chamados porque têm competência, vocês foram chamados porque foram indicados pelas organizações políticas que vocês pertencem – e eu respeito muito isso”, afirmou o presidente.

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“Portanto, estejam certos que terão em mim, se possível, um irmão mais velho, se possível, um pai. Tratarei vocês como uma mãe trata um filho: com muito respeito, muita educação e exigindo muito trabalho de cada um e cada uma de vocês”, concluiu.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.