Ibovespa chega a cair 1,90% após IPCA de junho, mas fecha em queda de apenas 0,33%: o que explica movimento?

Inflação de serviços segue resiliente e esfriou apostas de corte de 0,5 ponto dos juros em agosto, afetando Bolsa, mas Vale "segura" Ibovespa

Lara Rizério Vitor Azevedo

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O Ibovespa chegou a operar com fortes perdas de 1,90%, durante a manhã desta terça-feira (11), mesmo após uma deflação medida pelo Índice Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de junho, a primeira observação de inflação negativa desde setembro de 2022, com baixa de 0,08% frente maio. No fechamento, contudo, a baixa foi bem menor, de 0,33%, mantendo os 117 mil pontos, a 117.555 pontos.

Apesar do dado ter apontando deflação, abrindo portas para o início do corte de juros e que impulsionaria a Bolsa, o Ibovespa passou a ter fortes perdas uma vez que, na abertura inicial do número, chamou a atenção a alta de 0,62% na inflação de serviços, após variação negativa de 0,06% em maio. Essa é uma métrica bastante acompanhada pelo Banco Central.

Assim, se no fim da semana passada, logo após a aprovação da reforma tributária na Câmara, havia uma divisão maior do mercado sobre um corte de 0,25 ponto percentual ou 0,5 ponto em agosto, as apostas de um corte menor voltaram a prevalecer, levando a uma alta dos juros futuros.

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Para a equipe de economia da XP, em síntese, a composição do IPCA e suas medidas agregadas reforçam o ‘primeiro estágio’ da desinflação no Brasil, puxado por alimentos e bens industriais. No entanto, as métricas de serviços seguem rodando muito acima da meta de inflação e reforçam a visão da casa de que o Banco Central iniciará o ciclo de flexibilização cautelosamente com um corte de 0,25 ponto percentual em agosto, seguido de cortes de 0,50 ponto a partir de setembro, encerrando o ano em 12,0%. “Mantemos nossa projeção de 4,7% para o IPCA de 2023 e de 4,1% para o IPCA de 2024”, avalia a XP.

No entanto, ao longo da tarde desta terça-feira, as baixas foram amenizadas ao tempo em que especialistas iam aprofundando suas interpretações sobre o IPCA.

Conforme avalia Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, num primeiro momento, a leitura do IPCA ficou concentrada no setor de serviços, que acelerou. “Mas, na verdade, o indicador nem foi ruim, mostrou difusão em queda, renovou patamar mais baixo e foi bem em linha com o que o mercado esperava”, afirma.

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Cabe ressaltar ainda que, de acordo com Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, a aceleração dos serviços ocorreu por um movimento sazonal. “No mês de junho, as famílias organizam suas férias, compram passagens aéreas, pacotes de viagens e reservam hotéis. Esse movimento sazonal foi o grande responsável pela forte aceleração inflacionária que vimos no grupo. Além disso, itens que são reajustados com base na inflação passada continuaram impactando negativamente o indicador. É o caso de aluguel residencial e condomínio”, avalia.

A curva de juros, após operar durante boa parte do dia em alta, fechou majoritariamente no vermelho. As taxas dos DIs para 2024 ganharam 2,25 pontos-base, a 12,85%, mas foram as únicos no verde. Os contratos para 2025 ficaram estáveis a 10,77% e os para 2027 perderam três pontos, a 10,13%. Os DIs para 2029 e 2031 perderam, na sequência, quatro e três pontos, a 10,46% e 10,63%.

Outro ponto apontado para Cruz para a queda menos forte do mercado brasileiro é que as bolsas americanas também começaram a melhorar às vésperas dos dados de inflação dos EUA, com expectativa para dados um pouco melhores, o que foi acompanhado parcialmente pela Bolsa doméstica.

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Em Nova York, Dow Jones S&P 500 e Nasdaq subiram, respectivamente, 0,93%, 0,67% e 0,55%.

“O pregão é positivo nos Estados Unidos, apesar da alta ser bastante modesta. Amanhã temos dados de inflação chave por lá amanhã, com o CPI de junho, que pode acabar ajudando os investidores a calibrarem expectativas para as decisões do Fomc [Comitê Federal de Mercado Aberto, na sigla em inglês] não com a decisão de julho, que já está praticamente definida e precificada em uma alta de 0,25% da taxa, mas olhando para as decisões de setembro e de novembro”, expõe Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos.

“Acho que haverá mais evidências de que a inflação continua em desaceleração. Mas isso não é bom o suficiente para o Fed. O Fed se preocupa com a existência de uma espiral de salários”, disse à CNBC Brent Schutte, diretor de investimentos da Northwestern Mutual Wealth Management Company.

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Conforme destaca a Ágora Investimentos, a sessão desta terça trouxe também sinais positivos do exterior a partir de notícias de um avanço além do esperado em novos empréstimos da China e sinalização de restrições à oferta de petróleo por parte da Opep+.

O banco central da China estendeu um pacote de resgate para o setor imobiliário do país e, com isso, na Bolsa de Cingapura, o minério de ferro de referência em agosto subiu 1,8% para US$ 105,5 por tonelada métrica, recuperando algumas perdas da sessão anterior.

Neste ambiente, as bolsas da Europa encerraram o dia com ganhos, favorecidas por empresas de energia, enquanto em Nova York, os índices também operavam em alta.

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O apetite por risco e o dólar enfraquecido ante moedas rivais também apoiavam a alta do petróleo Brent desde o início da tarde, com o contrato para setembro fechando em alta de 2,2% cotado a US$ 79,40 o barril. As ações da PRIO (PRIO3) subiram cerca de 3% e os ativos da Vale (VALE3), empresa com maior fatia do Ibovespa, fecharam com alta de 3,29%, o que ajudou a amenizar as perdas do índice.

Reforma tributária também no radar

O noticiário sobre a reforma tributária também ganhou destaque durante a sessão. Após a aprovação no fim da semana passada pelo Senado, aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva cogitam fatiar a PEC da reforma tributária. Sabendo de prováveis alterações por parte dos senadores, o projeto seria dividido em duas partes. Com a medida, o que for consenso entre as Casas segue para a promulgação e os pontos sem um acordo continuarão sendo debatidos no Congresso.

Para Gabriel Bassotto, analista chefe de ações do Simpla Club, fatiar a reforma pode ser um risco, porque o Senado pode aprovar o que for de consenso e adiar a tramitação de pontos até mais importantes da reforma.

Já no fim da manhã, a Reuters informou, citando fontes, que o líder do MDB do Senado, Eduardo Braga (AM), será o relator da reforma tributária na Casa. A notícia foi confirmada posteriormente pelo próprio Braga no Twitter.

A expectativa é que as discussões sobre a reforma tributária na CCJ, colegiado pelo qual a reforma já aprovada pela Câmara iniciará sua tramitação no Senado, só comecem após o recesso parlamentar, em agosto, segundo a agência.

O governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), declarou-se favorável à reforma, mas cobrou medidas para a manutenção da Zona Franca de Manaus.

Apesar da queda na sessão, Bassotto avalia que a baixa do Ibovespa é pontual, não devendo afetar a tendência positiva para o mercado como um todo.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.