Ibovespa: os três fatores que fizeram o índice cair 0,85% e voltar para o negativo nesta segunda-feira

Após ter encerrado na última sexta sua maior sequência de baixas da história, principal índice brasileiro voltou a cair nesta segunda-feira

Vitor Azevedo

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Após ter interrompido no último pregão da semana passada a sua maior sequência de baixas da história, de 13 pregões, com uma leve alta de 0,37%, o Ibovespa voltou nesta segunda-feira (21) a cair, recuando 0,85%, aos 114.429 pontos.

O índice, hoje, foi impactado tanto por notícias do cenário interno quanto do externo.

Por aqui, analistas destacam que monitoram os impasses no Congresso quanto à votação do arcabouço fiscal. O Governo tem até o dia 31 deste mês para passar a medida ou terá de fazer valer as regras do antigo teto de gastos e cortar R$ 200 bilhões do orçamento.

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“Ao mesmo tempo que temos hoje uma reunião do Arthur Lira [presidente da Câmara] com outros líderes do Congresso, surge a notícia de que eles poderiam postergar para a semana que vem a votação, o que deixaria as coisas no limite”, explica Gustavo Cruz, Estrategista Chefe da RB Investimentos.

Esse cenário também ajudou a puxar a curva de juros brasileira para cima. Os DIs para 2025 ganharam 6,5 pontos-base, a 10,60%, e os para 2027, 10,5 pontos, a 10,74%. As taxas dos contratos para 20299 foram a 10,95%, com mais dez pontos, e os para 2031, a 11,26%, também com mais dez pontos.

Companhias ligadas ao consumo e ao mercado interno ficaram entre as maiores quedas do Ibovespa. As ações ordinárias da Yduqs (YDUQ3) recuaram 3,86%, as do Grupo Soma (SOMA3), 2,82%, e as preferencias da Alpargatas (ALPA4), 2,57%. As ON da Arezzo (ARZZ3) tiveram baixa de 3,26%.

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Boa parte da pressão altista da curva de juros, no entanto, também veio do exterior. Nos Estados Unidos, os treasuries yields para dez anos ganharam 9,3 pontos-base, a 4,344%, isso após ter tocado, no meio do dia, o 4,35%, no seu maior nível desde 2007. O para dois anos subiu 6,7 pontos, a 5,003%.

Por lá, no entanto, S&P 500 e Nasdaq fecharam em altas de 0,69% e 1,56%, corrigindo das quedas dos últimos dias. O Dow Jones caiu 0,11%.

“O motivo dessa queda de hoje do Ibovespa principalmente, é a alta grande dos juros nos Estados Unidos, dos treasuries, ou seja, temos o Ibovespa seguindo o exterior”, fala Rodrigo Cohen, co-fundador da Escola de Investimentos. “O mercado vai ficar em compasso de espera até sexta, quando Jerome Powell vai falar em Jackson Hole. Espera-se alguma novidade em relação à próximas decisões em relação aos juros. E justamente a imprevisibilidade, a indecisão, a incerteza geram medo para o mercado e faz com que os juros subam, o dólar suba e as bolsas caiam no mundo”.

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O dólar subiu 0,21% frente ao real, a R$ 4,978 na compra e a R$ 4,979 na venda, na esteira da alta dos treasuries. 

Por fim, a China também foi um peso para o Ibovespa. “Tivemos um anúncio de novas medidas de afrouxamento monetário na China, que tem sustentado ultimamente um temor de recessão global. De certa forma, as notícias não foram suficientes para manter as ações de commodities em alta por muito tempo durante o pregão de hoje”, explica Luccas Fiorelli, sócio da HCI Invest.

Ele ainda menciona o fato de o UBS ter revisado para baixo suas projeções para China. “Eles acabaram reduzindo a projeção para o crescimento do PIB [produto interno bruto] chinês, deixando de 5,2% para 4,8% neste ano e de de 5% para 4,2% no ano que vem. De certa forma isso também acabou puxando o mercado chinês lá, tendo um resquício aqui para a gente em relação ao Brasil”.