Os temores renovados no exterior que têm abalado a Bolsa brasileira

Federal Reserve mais duro, risco de shutdown do governo americano e China têm abalado o Ibovespa nas últimas sessões

Vitor Azevedo

(Getty Images)

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Notícias provindas do exterior vêm, sucessivamente, diminuindo o ânimo dos investidores também com a Bolsa brasileira e com o Ibovespa. Sinalizações mais duras do Federal Reserve quanto ao juros nos Estados Unidos, preocupações com um shotdown do governo americano e agora preocupações com o setor imobiliário da China estão pressionando o benchmark brasileiro nas últimas semanas.

“A  aversão  ao  risco  ainda  se  faz  presente  nos  mercados  internacionais  nesta terça-feira (26),  ainda  sob  a perspectiva de que os juros americanos permanecerão em níveis elevados por mais tempo  do que se imaginava antes”, aponta a Ágora Investimentos, em relatório de abertura do mercado desta sessão.

Nesta terça, por sinal, por volta das 14h30 (horário de Brasília), o Ibovespa caía 1,22%, a 114.514 pontos.

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Abaixo, estão listados os principais motivos para o maior temor dos mercados e os possíveis impactos para o mercado brasileiro:

1) Federal Reserve

O maior pessimismo se estende desde a última semana – quando, na quarta-feira, o Federal Reserve deu o recado de que vai manter os juros mais altos por mais tempo, estendendo sua batalha contra a inflação.

Juros mais altos nos Estados Unidos tendem a minguar a liquidez mundial. Pelo fato de os títulos do tesouro americano serem considerados “os ativos mais seguros do mundo”, quando seus rendimentos estão altos há um fluxo de capital para eles

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“Tal ambiente, aliado à errática ‘recuperação’ da economia chinesa – que voltou ao radar, após novos  sinais  de  problemas  no  setor  imobiliário – e  a  possível  paralisação  (conhecida  como  shutdown)  do Governo  americano  impedem  uma  visão  mais  construtiva  dos  investidores”, completa o time da Ágora.

2) Shutdown nos EUA

Já no começo desta semana, a possibilidade de que o governo americano “trave” ganhou força. Políticos da Câmara e do Senado dos Estados Unidos têm estratégias divergentes para aprovarem legislações de curto prazo sobre o orçamento federal que impeçam a paralisação do governo por falta de recursos. Eles correm contra o tempo porque à meia-noite do próximo sábado o governo terá de interromper vários serviços públicos e orientar que servidores fiquem em suas casas caso nada seja feito.

A questão, contudo, é que agentes do mercado vêm apontando que um shutdown é possível, visto a enorme polaridade pela qual os Estados Unidos passa.

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Apesar de outras paralisações do tipo terem acontecido recentemente, a agência de classificação de risco Moody’s alertou que um “shutdown” desta vez teria implicações negativas para a classificação de crédito Aaa do governo dos EUA. O motivo é que há polarização política acentuada, há pouco mais de um ano da próxima eleição presidencial.

Isso, por sua vez, não facilitaria o trabalho do Federal Reserve quando o assunto é juros. Com o maior risco para a economia americana, investidores pedem maiores recompensas e os treasuries yields continuam a avançar.

3) China

Por fim, outra questão que voltou ao radar dos investidores, alimentando maior pessimismo, foi a China.

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A crise vivida pela indústria de construção chinesa teve nesta segunda um novo capítulo, intensificando as preocupações com a desaceleração da segunda maior economia mundial.

Dificuldades de grandes companhias, em especial a gigante Evergrande, em honrar seus compromissos junto a credores expõem a fragilidade da estratégia de crescimento da atividade adotada pela China desde o pós-crise de 2008 e, dessa forma, elevam o receio de que esteja se formando uma crise financeira de maiores proporções.

Ontem, a notícia que ampliou as preocupações foi de um novo calote da gigante Evergrande. Segundo a agência de notícias Bloomberg, a empresa informou que sua subsidiária Hengda Real Estate Group Co. deixou de pagar 4 bilhões de yuans (US$ 547 milhões) de principal mais juros devidos em 25 de setembro.

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O risco que a Evergrande corre agora é de enfrentar uma liquidação, caso não seja capaz de reorganizar a sua situação financeira.

“Os problemas de insolvência no setor imobiliário ameaçam abrir uma crise de grandes proporções nesta economia. Portanto, os riscos para novas quedas do Ibovespa são muito reais”, fala  Celso Grisi, professor da FIA Business School.

“A principal implicação para o mercado brasileiro é que o crescimento econômico global menor leva a uma demanda menor por commodities, principalmente pelo minério de ferro, que tem sido o mais pressionado. Isso puxa a Vale (VALE3), a empresa com o maior peso no Ibovespa. A China crescendo menos, o que tem um impacto para a economia global como um todo, mas pesa especificamente na Bolsa Brasileira”, diz Jennie Li, estrategista de ações da XP.

Li, no entanto, ainda tem uma visão que considera “razoavelmente construtiva” para a Bolsa brasileira.

“No primeiro motivo, a Bolsa brasileira, apesar do cenário lá fora, continua bastante descontada em relação à nossa própria média histórica e também em comparação com as Bolsas globais”, diz.

“No segundo, que é o dado que a gente está de olho, é o retorno dos fluxos de investidores. Fluxo de investidores estrangeiros continua com saldo positivo no ano, mas a gente está de olho no fluxo do investidor doméstico. O institucional tende a voltar com mais força com os cortes de juros. O fluxo do investidor pessoa física também está começando a voltar”, fala a especialista da casa. A XP tem atualmente projeção de Ibovespa a 133 mil pontos ao fim de 2023.