Ibovespa interrompe sequência de 6 altas e cai em meio a correção e ruídos políticos locais; dólar sobe

Mercado encerra o pregão na contramão das bolsas internacionais por conta das declarações polêmicas de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes

Ricardo Bomfim

(Shutterstock)

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SÃO PAULO – O Ibovespa fechou em leve queda nesta quarta-feira (11) com as fortes altas das bolsas internacionais ofuscadas pelos ruídos políticos internos e por uma correção depois de seis pregões consecutivos de valorização do índice.

Na véspera, o presidente Jair Bolsonaro fez menções à situação dos trabalhadores informais quando acabar o prazo do Auxílio Emergencial, o que levou investidores a temerem uma maior pressão por gastos públicos em programas sociais.

Já o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o Brasil pode voltar a ter um quadro de hiperinflação caso não consiga rolar a dívida satisfatoriamente.

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“Estou bastante frustrado com o fato de estarmos aqui há dois anos e não termos conseguido ainda vender nenhuma estatal”, afirmou, destacando que sem a venda de ativos públicos o governo carrega empresas “ineficientes” enquanto a dívida cresce “como uma bola de neve”.

Bolsonaro ainda voltou a tumultuar o ambiente e proporcionar manchetes polêmicas após declarações sobre a vacina chinesa coronavac e sobre o presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden.

Bolsonaro, um dos poucos líderes que ainda não parabenizou Biden pela vitória nas urnas, disse que quando acaba a diplomacia é preciso usar “pólvora”, em alusão à ameaça do democrata de impor barreiras comerciais ao Brasil caso não cessem os incêndios na Amazônia.

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Já sobre o coronavírus, Bolsonaro afirmou que o Brasil “não pode ser um País de maricas” ao comentar a morte de mais de 160 mil pessoas por conta da doença. Ontem, o presidente foi às redes sociais dizer que estava com razão após morte de paciente no grupo de testes da vacina chinesa coronavac.

Lá fora, as bolsas internacionais repercutiram positivamente por mais um dia o sucesso dos testes da vacina contra o coronavírus desenvolvida pelas farmacêuticas Pfizer e BioNTech. As bolsas americanas tiveram altas, em especial os índices que caíram no dia anterior com a rotação de capital entre papéis de empresas de tecnologia (menos afetados pela pandemia) e de companhias tradicionais.

O Dow Jones teve leve variação negativa de 0,08% a 29.397 pontos, o S&P 500 subiu 0,77% a 3.572 pontos e o Nasdaq teve alta de 2,01% a 11.786 pontos.

Mantendo o rali que começou com o resultado de 90% de eficácia da profilaxia, o petróleo subiu mais uma vez hoje. O barril do Brent – usado como referência pela Petrobras – teve alta de 0,55% a US$ 43,85 e o barril do WTI avançou 0,36% a US$ 41,51.

O Ibovespa teve leve queda 0,25%, aos 104.808 pontos com volume financeiro negociado de R$ 32,404 bilhões.

Enquanto isso, o dólar comercial teve alta de 0,43% a R$ 5,415 na compra e a R$ 5,416 na venda. O dólar futuro com vencimento em dezembro registrava perdas de 0,43%, a R$ 5,397 no after-market.

No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 subiu sete pontos-base a 3,39%, o DI para janeiro de 2023 teve alta de oito pontos-base a 4,95%, o DI para janeiro de 2025 avançou nove pontos-base a 6,67% e o DI para janeiro de 2027 registrou variação positiva de 10 pontos-base a 7,46%.

De acordo com Sérgio Vale, sócio e economista-chefe da MB Associados, o período com Bolsonaro mais tranquilo acabou por causa das investigações contra seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), a derrota do presidente americano, Donald Trump, a disputa com o governo de São Paulo em torno da vacina chinesa e a organização do Centrão em torno de uma chapa do ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, com o apresentador Luciano Huck.

“Mais complicado nesse momento porque temos uma discussão fiscal daqui pra frente que precisa de esforço conjunto de Executivo e Legislativo. Com o Bolsonaro agindo dessa forma, continuidade do que sempre foi, vai ter aumento do estresse político”, avalia.

Para Vale, o câmbio deve se depreciar mais e subir até o final do ano que vem. Já a Bolsa, na opinião do economista, provavelmente não voltará a patamares anteriores à crise no curto e médio prazo. “Ruídos só atrapalham e a tendência é nos descolarmos do exterior daqui para frente”, explica.

Voltando ao cenário doméstico, em outra confusão sobre a vacina em teste Coronavac, o Supremo Tribunal Federal (STF) pede informações sobre suspensão dos testes pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e comissão da Câmara dos Deputados pode votar pedido de esclarecimentos.

Entre os indicadores, as vendas no varejo brasileiro cresceram 0,6% em setembro na comparação com agosto, mostrou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A expectativa, segundo o consenso Bloomberg, era de que as vendas no varejo tivessem subido 1,4% na base de comparação mensal após alta anterior de 3,4% e 8,4% no comparativo anual.

Política e vacinas

O noticiário ainda é marcado pela politização em torno de uma das principais apostas para a vacinação no país.

Na segunda-feira, mesmo dia em que Pfizer e BioNTech anunciaram os bons resultados com sua vacina, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou que 120 mil doses da Coronavac, a vacina produzida pela chinesa Sinovac, chegariam ao Instituto Butantan até 20 de novembro.

Outras 6 milhões deveriam chegar até o dia 20 de dezembro. O estado só deve ter autonomia para produzir o produto de forma completamente autônoma em 2022.

Para que seja aplicada sobre a população, a Anvisa ainda precisaria, no entanto, aprovar a Coronavac, que passa por testes clínicos de fase 3 no estado.

Na segunda-feira, a Anvisa anunciou que determinou a paralisação do estudo clínico da Coronavac após o registro de um “evento adverso grave”. Na terça, diversos veículos reportaram que o evento se tratava da morte de um participante de 32 anos que, no entanto, havia cometido suicídio.

Autoridades de saúde do estado de São Paulo criticaram a Anvisa, afirmando que o caso não poderia ter relação com a vacina. Ainda não está claro se o participante tomava placebo ou a vacina.

O caso voltou a levantar temores de que o governo Bolsonaro esteja politizando a vacinação no Brasil, em detrimento de questões técnicas.

As disputas em torno da Coronavac têm se acentuado desde outubro. O ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, anunciou que o governo federal tinha a intenção de comprar 46 milhões de doses da Coronavac. Logo em seguida, foi desautorizado por Bolsonaro.

Na terça, Bolsonaro publicou em sua conta no Twitter uma reportagem sobre a suspensão dos testes da vacina e escreveu “esta é a vacina que o Doria queria obrigar a todos os paulistanos tomá-la. O presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”.

O diretor-presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, alegou que os documentos relatando a morte, enviados pelo Instituto Butantan, estariam “incompletos” e “insuficientes”.

“Diante de informações incompletas, a área técnica só tem uma decisão a tomar [de suspender a pesquisa]. Nos desenvolvimentos tem eventos adversos, como dor ou vermelhidão. E tem graves, que vão desde internação com risco, sequela e até mesmo ao óbito”, afirmou.

A pressão em torno do caso vem de diversas frentes. O Conselho Internacional Independente que avalia testes da vacina pelo mundo recomendou à Anvisa que autorize a retomada dos testes. A agência deve analisar o pedido.

Além disso, o ministro Ricardo Lewandowski, do STF, determinou que a Anvisa forneça, em 48 horas, explicações sobre os “critérios utilizados para proceder aos estudos e experimentos concernentes à vacina acima referida, bem como sobre o estágio de aprovação desta e demais vacinas contra a covid-19”.

E os deputados Orlando Silva (PCdoB-SP), Perpétua Almeida (PCdoB-AC) e Marcelo Ramos (PL-AM), assinam um requerimento que pede que o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, o diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antônio Barra Torres, e o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, expliquem na Câmara dos Deputados por que os testes da Coronavac foram suspensos.

Radar corporativo

O Carrefour Brasil anunciou na terça lucro líquido ajustado de R$ 757 milhões no terceiro trimestre de 2020, alta de 73,1% ante o mesmo período de 2019, com forte crescimento de vendas e controle de custos.

No período, o resultado operacional medido pelo Ebitda consolidado ajustado cresceu 18,6%, para R$ 1,34 bilhão, enquanto a margem cedeu para 7,7%, frente 8,2% um ano antes, em razão de provisões excepcionais adicionadas no banco do grupo.

Maiores altas

Ativo Variação % Valor (R$)
BPAC11 5.60895 80.21
VVAR3 5.213 18.77
MRFG3 3.44353 15.02
BTOW3 2.42233 74.84
B3SA3 2.2366 55.31

Maiores baixas

Ativo Variação % Valor (R$)
UGPA3 -5.9447 20.41
BRKM5 -5.9402 23.91
HGTX3 -4.10742 18.21
COGN3 -3.87755 4.71
HYPE3 -3.66913 29.93

A BR Distribuidora registrou lucro líquido de R$ 335 milhões no terceiro trimestre, queda de 74,9% ante o mesmo período do ano anterior, com vendas afetadas pela pandemia. Na comparação com o segundo trimestre, houve recuperação.

A operadora de concessões de infraestrutura CCR anunciou nesta terça-feira que a fabricante de equipamentos de energia solar Amerisolar se instalou no aeroporto industrial, que fica nas imediações do terminal de Confins (MG).

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.