Ibovespa Futuro tem leve queda com investidores atentos a indicadores e ruídos na política brasileira

Pré-market mostra desempenho negativo conforme as notícias sobre supostas irregularidades na compra de vacinas se avolumam

Ricardo Bomfim

(Getty Images)

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SÃO PAULO – O Ibovespa Futuro abre em leve queda nesta quarta-feira (30) enquanto os investidores repercutem dados de emprego aqui e nos Estados Unidos. No noticiário político, o representante de uma empresa vendedora de vacinas disse à Folha de S. Paulo que recebeu o pedido de propina de US$ 1 por vacina de um funcionário do Ministério da Saúde.

A CPI da Covid hoje terá o depoimento do empresário Carlos Wizard, que supostamente seria um dos membros do “gabinete paralelo” que aconselhou o presidente Jair Bolsonaro durante a pandemia. A comissão também deve votar a convocação do líder do governo na Câmara, o deputado Ricardo Barros (PP-PR), suspeito de envolvimento em irregularidades na negociação de compra de vacinas da Covaxin pelo governo federal.

Entre os indicadores, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad Contínua), a taxa de desemprego no Brasil ficou em 14,7% no trimestre móvel de fevereiro a abril, mantendo-se no recorde da série histórica iniciada em 2012. O número veio totalmente em linha com a média das projeções dos economistas compilada pela Refinitiv.

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Já nos EUA, foram criadas 692 mil vagas no setor privado em junho, segundo o Relatório de Emprego ADP. O número veio acima da geração de 600 mil empregos esperada pelos economistas de acordo com a Refinitiv. O dado de maio foi revisado de 978 mil para 886 mil novos empregos.

Também no radar dos investidores, com o agravamento da crise hídrica e o pior cenário dos últimos 91 anos, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) poderá aumentar ainda mais a bandeira vermelha nível dois nas contas de luz nos próximos meses. O órgão regulador irá receber contribuições sobre a proposta de 1º a 30 de julho. O projeto em discussão prevê que a bandeira possa ser elevada para até R$ 11,50 a cada 100 quilowatts-hora consumidos a partir de agosto.

Às 9h26 (horário de Brasília), o contrato futuro do Ibovespa com vencimento em agosto de 2021 tinha queda de 0,37%, a 127.300 pontos.

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Já o dólar futuro com vencimento em julho avança 0,24% a R$ 4,968.

No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 sobe dois pontos-base a 5,62%, o DI para janeiro de 2023 tem alta de três pontos-base a 6,97%, o DI para janeiro de 2025 avança cinco pontos-base a 8,00% e o DI para janeiro de 2027 registra variação positiva de quatro pontos-base a 8,46%.

Voltando ao exterior, o Índice do Gerente de Compras (PMI, na sigla em inglês) oficial relativo ao setor de manufatura na China desacelerou, pontuando 50,9 em junho, levemente abaixo em relação a 51 pontuados em maio. Qualquer valor acima de 50 indica expansão; abaixo, retração. O desempenho no país vem sendo afetado pela ressurgência de casos de Covid na província de Guangdong, que afetou o funcionamento portuário.

As bolsas europeias recuam nesta quarta, a chegada da variante Delta na Europa preocupa os líderes que contavam com tal retomada nas projeções de crescimento econômico. Indonésia, Malásia, Tailândia e Austrália estão enfrentando surtos e apertando as restrições, enquanto Espanha e Portugal anunciaram restrições para turistas britânicos não vacinados.

Na quarta, o Escritório para Estatísticas Nacionais do Reino Unido confirmou a queda de 1,6% no PIB do país relativo ao primeiro trimestre, levemente abaixo da expectativa. O investimento em negócios caiu 10,7% na comparação trimestral, prejudicado por medidas de distanciamento social.

A agência governamental também afirma que as economias das famílias britânicas teve forte alta no período, o que alimenta a expectativa de que haja gastos por conta da demanda reprimida, conforme a economia reabre.

Covid no Brasil e denúncias

Na terça (29), a média móvel de mortes por Covid em 7 dias no Brasil ficou em 1.603, queda de 20% em comparação com o patamar de 14 dias antes. Em apenas um dia, foram registradas 1.917 mortes. As informações são do consórcio de veículos de imprensa que sistematiza dados sobre Covid coletados por secretarias de Saúde no Brasil, que divulgou, às 20h, o avanço da pandemia em 24 h.

A média móvel de novos casos em sete dias foi de 65.070, queda de 10% em relação ao patamar de 14 dias antes. Em apenas um dia foram registrados 64.706 casos.

Chegou a 72.534.656 o número de pessoas que receberam a primeira dose da vacina contra a Covid no Brasil, o equivalente a 34,25% da população. A segunda dose ou a vacina de dose única foi aplicada em 25.987.646 pessoas, ou 12,27% da população.

Em entrevista publicada em reportagem de capa nesta quarta na Folha de S. Paulo, Luiz Paulo Dominguetti Pereira, representante da Davati Medical Supply, afirma que o diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, teria pedido em 25 de fevereiro propina no valor de US$ 1 por dose de imunizante em troca de fechar um grande contrato para compra de 400 milhões de vacinas da AstraZeneca. O suposto pedido teria ocorrido um dia após o Brasil bater a marca de 250 mil mortes por Covid.

Dias foi indicado ao posto pelo líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, e é citado em suspeitas sobre o acordo de compra da Covaxin. A Davati procurou o governo visando vender 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca, por US$ 3,5 por unidade.

O executivo afirma que Dias teria dito que “se quiser vender vacina no ministério tem que ser dessa forma”. Ele perguntou qual seria a forma. Como resposta, Dias teria afirmado que ele deveria adicionar US$ 1 por dose vendida. “Daria 200 milhões de doses de propina que eles queriam, com R$ 1 bilhão”, afirmou Dominguetti à Folha. Após a publicação da reportagem, a CPI da Covid no Senado afirmou que vai convocar Dominguetti para depor na sexta (2). Também foi informado que o Ministério da Saúde iria exonerar Ferreira Dias.

Na terça, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que a pasta vai suspender o contrato de compra da vacina indiana contra a Covid-19 Covaxin. Queiroga disse que a decisão foi tomada após recomendação da Controladoria-Geral da União, que iniciou uma apuração sobre as suspeitas levantadas sobre o contrato de compra.

O valor pago pelo imunizante, produzido pela indiana Bharat Biotech, e comercializado com intermédio da brasileira Precisa Medicamentos, é 1.000% superior àquele informado seis meses antes pela Bharat. O acordo de compra foi fechado sem que a vacina tivesse aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ou tivesse passado por testes de fase 3, e é o mais alto por unidade de imunizante, de US$ 15.

Na semana passada, o deputado Luís Miranda (DEM-DF) e o irmão dele, o servidor do Ministério da Saúde Luís Ricardo Miranda, disseram ter relatado suspeitas de irregularidades no contrato com a Covaxin ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o que levou o presidente para o centro da CPI. Eles dizem que alertaram o presidente sobre as suspeitas, e que Bolsonaro teria afirmado que acionaria a Polícia Federal, o que não ocorreu.

Antes do anúncio da suspensão do contrato, o governo vinha defendendo a lisura da negociação. O líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), disse mais cedo nesta terça que o então secretário-executivo da Saúde, coronel Elcio Franco, foi encarregado na ocasião de apurar os fatos citados pelos irmãos Miranda e não encontrou irregularidades.

Na semana passada, o ministro da Secretaria de Governo, Onyx Lorenzoni, não só negou qualquer tipo de irregularidade na compra da vacina como anunciou que a Polícia Federal iria investigar os irmãos Miranda, a pedido de Bolsonaro. Em notas divulgadas nos últimos dias, tanto a Bharat como a Precisa Medicamentos, que representa o laboratório indiano no Brasil, negam quaisquer irregularidades.

O ministro da CGU, Wagner Rosário, disse que a suspensão do contrato é uma decisão preventiva diante de denúncias de uma possível irregularidade que, segundo ele, “ainda não conseguiu ser bem explicada pelo denunciante”. Segundo Rosário, uma apuração da CGU em conjunto com o Ministério da Saúde deve levar no máximo 10 dias.

O anúncio de suspensão do contrato da Covaxin ocorreu no mesmo dia que a Precisa apresentou à Anvisa pedido de autorização para uso emergencial da Covaxin no Brasil, em busca de liberar o uso da vacina em grande escala no país.

Até o momento, a vacina conta com uma aprovação de importação por parte da Anvisa, mas sob diversas condicionantes, incluindo a necessidade de realização de teste no Brasil antes de qualquer aplicação e um limite de capacidade de 1% da população vacinável do país.

Com base nas afirmações dos irmãos Miranda, senadores pediram ao Supremo Tribunal Federal (STF) na segunda uma investigação sobre Bolsonaro, afirmando haver “grandes chances” de o mandatário ter cometido o crime de prevaricação ao não ter atuado sobre as suspeitas de irregularidades.

Na terça, a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que a Corte não dê andamento, por ora, a pedido de três senadores para que o Ministério Público instaure denúncia contra o presidente Jair Bolsonaro por suposto crime de prevaricação no caso envolvendo suspeitas de irregularidades na compra da Covaxin.

A manifestação da PGR, assinada pelo vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques de Medeiros, aponta ser “oportuno que o Ministério Público aguarde a conclusão das apurações pela CPI, em vez de instaurar uma investigação concorrente sobre os mesmos fatos envolvendo a vacina Covaxin”, segundo nota da procuradoria.

O vice-PGR também pede à relatora do caso, a ministra do STF Rosa Weber, que abra a possibilidade de uma nova manifestação do Ministério Público caso tenha entendimento diferente.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), afirmou na terça que só deve analisar o pedido de prorrogação da CPI da Covid por mais 90 dias no fim do atual prazo de funcionamento da comissão. Se prorrogada, a comissão, que tem o fim dos trabalhos previsto para 7 de agosto, deverá funcionar até novembro.

O pedido foi feito pelo vice-presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que comunicou ao presidente que requerimento de prorrogação já conta com 34 assinaturas, 7 além do mínimo necessário para garantir a prorrogação. Mesmo contando com as assinaturas exigidas, a comissão só foi criada a partir de determinação judicial do Supremo Tribunal Federal (STF).

Crise energética e reforma tributária

A diretoria da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) definiu na terça que o custo da bandeira tarifária vermelha patamar 2 será elevado dos atuais R$ 6,243 para R$ 9,49 por cada 100 kwh consumidos, em meio a impactos do baixo nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas.

A bandeira tarifária é acionada para repassar aos consumidores aumentos de custos ocasionados pelo uso mais intenso de usinas termelétricas. Em junho, a bandeira tarifária já se situou em nível 2, o mais caro. Mas a Aneel decidiu agora elevar em 52% o valor do patamar mais custoso.

A revisão do valor das bandeiras para 2021/2022, iniciada em consulta pública, coincidiu com as mais baixas afluências nas principais bacias hidrográficas do Sistema Interligado Nacional (SIN), fortemente baseado na geração hidrelétrica.

O diretor-geral da Aneel, André Pepitone, que proclamou o valor após aprovação da diretoria, lembrou durante a audiência que a conta das bandeiras tarifárias já está deficitária em cerca de R$ 1,5 bilhão, defendendo o aumento do valor, assim como a maioria dos outros diretores.

Ele comentou que “ninguém gosta de anunciar aumento de preços” e destacou que a Aneel tem feito um “trabalho intenso” para desonerar tarifa. Mas ponderou também a situação hídrica. O adiamento da decisão poderia tornar o cenário “muito desafiador”, disse ele.

Além disso, na terça o ministro da Economia Paulo Guedes afirmou que o governo estuda alterar sua proposta de redução da alíquota do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) para promover um corte de 5 pontos percentuais na taxação já em 2022.

Pelo projeto de reforma tributária apresentada pelo governo na sexta, a alíquota do IRPJ, que hoje é de 15%, cairia em 2,5 pontos em 2022, para 12,5%, e em mais 2,5 pontos no ano seguinte, para 10%.

“Estamos estudando se ao invés de 2,5 em um ano e 2,5 no outro de queda no IRPJ, nós podemos baixar 5% já, imediatamente, no ano que vem”, disse Paulo Guedes em entrevista à imprensa para comentar dados divulgados pela Receita Federal que mostraram uma arrecadação recorde em maio.

“Estamos fazendo os cálculos para baixar os 5 (pontos) exatamente para que esse aumento de arrecadação forte que está vindo aí desonere mais as empresas”, disse Guedes.

Ele ressaltou que ganhos de arrecadação que sejam “cíclicos” não podem ser repassados, mas aqueles que sejam “estruturais e orgânicos”, sim.

Com o segundo capítulo da proposta de reforma tributária apresentado na semana passada, o governo transmitiu três recados, disse Guedes: a decisão de reduzir a tributação sobre as empresas, a de tributar dividendos e a de reduzir o limite para a isenção do Imposto de Renda da Pessoa Física, sob o entendimento de que o Brasil é um país de renda média baixa.

“Repito, não temos compromisso com erros eventuais de calibragem na dose desses movimentos, o importante é o que nós estamos sinalizando, menos impostos para as empresas, mais impostos para os rendimentos de capital, menos impostos para os assalariados, principalmente os salários baixos”, disse o ministro.

Para Guedes, os dados da arrecadação de maio, que cresceu quase 70% sobre 2020 e foi recorde para o mês, mostram que a economia “está em pé novamente”.

Ainda em destaque, o Tesouro Nacional emitiu US$ 2,25 bilhões em dois tipos de bônus soberanos em dólar na terça. As taxas de retorno asseguradas aos investidores ficaram maiores do que na última vez que o Brasil acessou o mercado internacional. Isso significa que o Tesouro precisou oferecer uma remuneração maior aos investidores. Ainda assim, elas são menores do que em algumas emissões realizadas quando o País tinha grau de investimento, o selo de bom pagador perdido em 2015. O resultado da emissão é considerado uma “janela bem aproveitada”.

A emissão foi feita com um novo vencimento de 10 anos (Global 2031) e a reabertura do papel de 30 anos (Global 2050), inaugurado em 2019 e que já havia tido uma nova emissão em dezembro do ano passado.

Radar corporativo

O presidente da Petrobras, general da reserva Joaquim Silva e Luna, se reuniu na terça na sede da estatal com a diretoria do Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC), grupo que reúne representantes de caminhoneiros, para ouvir demandas da entidade, informou a petroleira em nota à imprensa. Em maio, o CNTRC havia defendido em carta aberta ao presidente Jair Bolsonaro que o governo deveria taxar exportações de petróleo e utilizar a arrecadação para reduzir impostos sobre combustíveis. Ainda no radar da petroleira, ela se desfaz das ações que ainda detém na BR Distribuidora nesta data.

No radar corporativo, a Klabin informou nesta terça-feira que seu conselho de administração aprovou 23 projetos especiais e expansões de capacidade em suas instalações que devem consumir investimentos totais de R$ 342 milhões entre este ano e 2022. Do total orçado, R$ 125 milhões serão desembolsados este ano e o restante será em 2022, afirmou a fabricante de papel para embalagens e celulose.

A Localiza assinou acordo de leniência com MPF sobre controlada Car Rental. A companhia disse que o acordo envolve a fatos relacionados à controlada em 2010 e não implica em pagamento adicional de valores.

A CCR assinou nesta terça-feira acordo preliminar sobre disputas judiciais com o Estado de São Paulo envolvendo aditivos de concessões acertados em 2006. Pelo acordo, controladas da companhia se comprometeram com pagamento total de R$ 1,2 bilhão ao governo paulista. O pagamento, dividido em R$ 352 milhões pela AutoBAn, R$ 263 milhões pela SPVias e R$ 585 milhões pela ViaOeste, deverá ocorrer em 15 dias.

A Ânima anunciou na terça-feira venda de três escolas em Santa Catarina para a Bahema Educação, em uma operação que incluiu compromisso de sublocação de espaços em campi da companhia de ensino superior.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.