Ibovespa Futuro cai seguindo exterior e em meio a crise na Educação; dólar e DIs sobem

Mercado reage mal a confusão do governo e primeiros protestos massivos do governo Bolsonaro

Ricardo Bomfim

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SÃO PAULO – O Ibovespa Futuro abre em queda nesta quarta-feira (15), acompanhando o desempenho das bolsas internacionais, que recuam após dados fracos da China e em meio a preocupações com o desenrolar das negociações para um acordo comercial entre chineses e norte-americanos. Por aqui, preocupa o mercado a crise no Ministério da Educação. Protestos em todo o sistema de ensino são esperados para hoje como resposta ao corte de 30% nas verbas discricionárias das universidades federais proposto pelo ministro Abraham Weintraub.

Às 9h05 (horário de Brasília), o contrato futuro do índice para junho recuava 0,75% a 91.575 pontos enquanto o dólar futuro com o mesmo vencimento sobe 0,48% a R$ 4,0025. Nos juros futuros, o DI para janeiro de 2021 registrava ganhos de quatro pontos-base a 6,88%, ao passo que o DI para janeiro de 2023 tem alta de seis pontos-base a 8,05%. 

Ontem, deputados aprovaram a convocação de Weintraub para explicar na Câmara os cortes. A convocação rendeu críticas ao governo, já que a ida do ministro foi articulada por líderes do Centrão. Causou confusão ainda o desmentido da Casa Civil, MEC e Economia às declarações de parlamentares, da base de Bolsonaro, que garantiram que o presidente teria determinado o cancelamento dos cortes.

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Mais de um parlamentar da base diz ter ouvido do próprio presidente a ordem, mas o rumor acabou sendo desmentido, o que evidencia, no mínimo, problemas na comunicação do governo. O tamanho das manifestações hoje pode aprofundar a crise. 

Entre os indicadores, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) mostrou que a economia brasileira teve uma retração de 0,68% no primeiro trimestre de 2019 em comparação com o quarto trimestre de 2018. O dado tem ajuste sazonal para compensar os efeitos de diferentes períodos do ano. 

Em relação ao primeiro trimestre do ano passado, por outro lado, houve crescimento de 0,23% sem ajuste sazonal. Também sem ajuste, o IBC-Br de março foi 2,52% menor que o do mesmo mês do ano anterior e com ajuste, foi 0,28% menor que o do mês passado. 

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Lá fora, a produção industrial e as vendas do varejo da China vieram abaixo das expectativas. Alguns analistas classificaram os resultados como “deprimentes e decepcionantes”, segundo a CNBC. As vendas no varejo desaceleraram para crescimento de 7,2% em abril na comparação ano a ano, bem abaixo do consenso dos analistas, que esperavam 8,6%. Foi o menor dado desde 2003.

A produção industrial também desaqueceu, avançando 5,4% em abril, ante expectativas de 6,5%, com impacto negativo dos setores de exportação. Por outro lado, isso levou a expectativas de que a China vá realizar novos estímulos econômicos em breve, o que explica a alta nas bolsas asiáticas. 

Noticiário Político

Em mais um sinal de falta de articulação, deputados aprovaram ontem por 307 votos favoráveis a 82 contrários a convocação do ministro da Educação, Abraham Weintraub, a explicar o corte de 30% no orçamento da pasta no Congresso. A convocação passou pela articulação de líderes do Centrão, às vésperas de Bolsonaro viajar para os EUA.

Deputados aliados ao presidente, que o encontraram ontem à tarde, afirmaram que ele iria rever o bloqueio de recursos no MEC. A informação, porém, foram desmentidos em seguida por Casa Civil, MEC e Economia. Líderes de PSL, Novo, Podemos e Cidadania, além de parlamentares de PV, PSC e Patriotas, disseram que Bolsonaro ligou a Weintraub, na frente deles, determinando a revogação do corte.

O corte no orçamento da Educação levou pelo menos 75 das 102 universidades federais do Brasil e institutos federais a convocarem protestos para hoje, com o apoio de universidades públicas estaduais. Segundo o Estadão, ao menos 33 escolas da rede privada de São Paulo também devem aderir à paralisação. A Folha pontua que a paralisação deve ter a adesão ainda de estudantes e trabalhadores das redes pública e privada de ensino fundamental e médio. A exposição de Weintraub no Congresso e as consequências da greve deixam o governo em alerta máximo.

Outra derrota no radar do governo vem da MP da reforma administrativa, que poderá perder sua validade no dia 3 de junho, caso a medida não seja aprovada pelo Congresso. O governo já avalia a necessidade de recriar até dez pastas. Editada em janeiro, a MP 870 reduziu 29 para 22 o total de ministérios.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que a falta de clareza na agenda do governo Bolsonaro atrapalha a reforma da Previdência. A investidores, Maia acrescentou que o projeto não resolve os problemas de desemprego e desigualdade, mas disse que o Congresso aprovará a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) até setembro.

Ainda na política, O Globo informa que 55 pessoas da Alerj deverão ter os seus sigilos quebrados na investigação que apura suposto esquema de “rachadinha” dos salários no gabinete do senador Flávio Bolsonaro, quando era deputado estadual. Em outra frente o MP apura a origem do dinheiro em transações imobiliárias de Flávio.

Por fim, a sexta turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu por unanimidade conceder a liberdade ao ex-presidente Michel Temer e o seu ex-assessor Coronel Lima. Eles cumprirão medidas cautelares, com a entrega dos passaportes.

Noticiário Econômico

As declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que “a realidade é de que estamos no fundo do poço”, durante audiência da Comissão Mista do Orçamento do Congresso, foram destaques nos jornais. Segundo Guedes, o Brasil está aprisionado na armadilha do baixo crescimento e “à beira do abismo fiscal”. Ele acrescentou que o governo já trabalha com uma meta de alta do PIB de 1,5%, o que deverá gerar um novo corte no orçamento.

Na mesma audiência, Guedes desmentiu declaração de Bolsonaro à uma rádio no domingo e disse que não faria sentido corrigir a tabela do Imposto de Renda em um momento em que o governo tenta aprovar a reforma da previdência para cortar gastos. Segundo Guedes, a correção da tabela defasada custaria de R$ 50 bilhões a R$ 60 bilhões, o que seria um gasto muito grande.

Hoje, o ministro da Economia acompanhará o presidente Jair Bolsonaro em viagem à Dallas, no Texas. Ambos embarcam à noite para os Estados Unidos. Inicialmente, Guedes deve se ater a acompanhar o presidente. Bolsonaro tem agenda na capital texana entre os dias 16 e 18. O chefe do Executivo deve se encontrar com empresários, sobretudo no setor petroleiro, e também com o ex-presidente americano George W. Bush.

Diante dos fracos números da economia, economistas consultados pelo jornal O Estado de S.Paulo dizem haver espaço até para um corte de um ponto percentual na taxa Selic, atualmente em 6,5%. Em editorial, o jornal afirma que o País está novamente “à beira da recessão” e que “um grande fiasco pode marcar o primeiro ano do governo Bolsonaro”, com recuperação econômica interrompida e o “futuro continuando ameaçado”.

Ainda na economia, o governo Bolsonaro estuda o uso de mais recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para cobrir gastos com subsídios elevados do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV). Segundo a Folha, sem verbas para manter o MCMV, a intenção é reduzir de 10% para 3% sua participação no subsídio de algumas faixas do programa, com o FGTS sendo usado para repor essa diferença. A manobra seria uma estratégia para destravar o projeto e permitir a contratação de novas obras.

O Valor Econômico destaca que o governo está elaborando um novo programa de subsídio para substituir o MCMV. Segundo a publicação, de quebra, o programa poderá ajudar a União a desovar parte do seu patrimônio imobiliário, avaliado em quase R$ 950 bilhões. Previsto para ser lançado em julho, o subsídio está vinculado à doação de áreas do governo em regiões mais centrais das cidades. No Rio e em São Paulo, o governo conta com imóveis desocupados. Só da União, estão mapeados 700 mil imóveis no País, acrescenta o jornal.

Noticiário corporativo

O Valor traz informação de que a Vale (VALE3) estuda aumentar a sua produção na Serra Sul de Carajás, no Pará, para 150 milhões de toneladas por ano depois de 2020, representando uma alta de quase 70% ante o patamar atual, de 90 milhões. As declarações do presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo, ocorreram em evento com investidores em Barcelona (Espanha). Das 150 milhões de toneladas, 100 milhões serão asseguradas pelo S11D, que passará por expansão de 10 milhões de toneladas até 2022. Outros 50 milhões serão desenvolvidos em outras áreas da Serra Sul de Carajás.

A Petrobras (PETR3; PETR4) ajustou as regras do processo de desinvestimento da Liquigás e elevou as restrições à venda da distribuidora de gás GLP para as concorrentes e líderes do mercado Ultragas, SHV e Nacional Gás. Segundo o Valor, o movimento ocorre um ano após o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) vetar a venda da Liquigás para o Grupo Ultra, por R$ 2,8 bilhões. A Petrobras retomou o processo de venda em março e para garantir que o processo saia do papel decidiu que as principais empresas não poderão fazer ofertas sozinhas pelo ativo.

A Cosan está interessada nos ativos da Petrobras, como de suas refinarias – mesmo que a decisão de participação ainda não tenha sido tomada, afirmaram executivos ontem durante teleconferência. A Cosan atua na distribuição de combustíveis, lubrificantes, energia e infraestrutura.

A fabricante brasileira de aeronaves Embraer (EMBR3) registrou um prejuízo líquido de R$ 160,8 milhões no primeiro trimestre de 2019, pior que a mediana das expectativas dos analistas consultados pela Bloomberg, que era de prejuízo de R$ 93,21 milhões. A última linha do resultado também foi bem mais fraca que a do primeiro trimestre de 2018, quando a Embraer teve prejuízo de R$ 130,4 milhões. 

O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações, na sigla em inglês) ajustado da companhia ficou em R$ 120,3 milhões, bem menor que os R$ 177,1 milhões registrados no mesmo período do ano passado e também mais baixo que os R$ 317,7 milhões projetados no consenso Bloomberg.

A receita líquida da empresa seguiu o mesmo caminho e decepcionou, terminando o os três primeiros meses deste ano em R$ 3,121 bilhões, menor que os R$ 4,012 bilhões estimados no consenso Bloomberg, mas maior que os R$ 3,111 bilhões registrados no primeiro trimestre do ano passado. 

Já a Kroton (KROT3) apresentou um lucro líquido ajustado de R$ 318,692 milhões no primeiro trimestre deste ano, representando uma queda de 34,2% na comparação com o mesmo período de 2018. A queda, diz a empresa, ocorreu pelo impacto das despesas financeiras e pela amortização do intangível decorrentes da aquisição de Somos. O Ebitda somou R$ 750,818 milhões, uma alta de 12,5%. A receita líquida atingiu R$ 1,837 bilhão, cifra 34,8% superior à reportada no mesmo intervalo do ano passado – influenciada pelos números da aquisição de Somos.

A empresa revisou ainda seus guidances para este ano. Em fato relevante, a companhia informou que, considerando o resultado de 80 dias da Somos, a receita Líquida deve crescer 21,4%, o Ebitda ajustado subir 12,9% e a geração de caixa operacional após capex avançar 63,9%.

Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.