Ibovespa fecha em queda de 2,6% em dia de baixa recorde nas bolsas dos EUA com coronavírus; dólar vai a R$ 4,47

Mercado continuou repercutindo os temores em torno do avanço do vírus que surgiu na China

Ricardo Bomfim

Painel de ações (Crédito: Shutterstock)

Publicidade

SÃO PAULO – O Ibovespa fechou em forte queda nesta quinta-feira (27) após um pregão muito volátil, em que a Bolsa chegou a apagar perdas de mais de 2% e subir 0,89% na máxima, mas acabou sofrendo no leilão de fechamento, quando terminou na mínima do dia.

Apesar de mais essa baixa hoje, o índice brasileiro ainda ficou longe do desempenho desastroso das bolsas dos Estados Unidos, que desabaram mais de 4% nesta quinta. Foi a maior queda em pontos de toda a história do índice Dow Jones, que tem 124 anos. Foram 1.192 pontos perdidos em uma só sessão. Em percentual, foi a maior perda desde agosto de 2011, caindo 4,4%.

Entre as novidades sobre o coronavírus, estão sendo monitoradas mais de 8 mil pessoas na Califórnia. No Brasil, são 85 casos suspeitos só em São Paulo, com mais de 100 no País inteiro.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

O Ibovespa terminou em queda de 2,59%, aos 102.983 pontos com volume financeiro negociado de R$ 39,4 bilhões. Já o dólar comercial teve alta de 0,69%, a R$ 4,4746 na compra e R$ 4,4751 na venda, em um novo recorde nominal.

Hoje, o Banco Central ofertou mais 20 mil contratos de swap cambial, que se somam aos 10 mil vendidos ontem. Todos foram colocados no leilão.

Na véspera, a Bolsa teve seu pior pregão desde 18 de maio de 2017 no “Joesley Day”. O coronavírus segue como principal driver dos mercados globais, derrubando as bolsas asiáticas, europeias dos Estados Unidos.

Continua depois da publicidade

Um dos desdobramentos do noticiário sobre a doença hoje foi a informação trazida pelo governo americano de um caso de origem desconhecida no Condado de Solano, Estado da Califórnia.

A Coreia do Sul, onde o surto ganhou força, informou 505 novos casos do coronavírus nesta quinta-feira, elevando para 1.766 o número de pessoas infectadas. Com os novos casos de hoje, a Coreia do Sul ultrapassou a China no número de casos diários – a China reportou ter tido hoje 452 novos casos, informa a CNBC.

Na Itália, onde o surto se instalou principalmente no Norte do país, o governador da rica região da Lombardia, Attilio Fontana, informou que ficará recolhido em quarentena, após um assessor ter contraído o coronavírus. O número de casos na Itália ultrapassa 400, com 12 mortes.

Ontem à noite, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou que seu vice-presidente, Mike Pence, irá coordenar os esforços de combate ao coronavírus no país. Trump admitiu, porém, que a disseminação do coronavírus nos EUA não é inevitável. A Microsoft se somou à Apple e HP ao rebaixar perspectiva de resultado devido ao vírus.

No mercado de commodities, o petróleo tem 5ª baixa seguida, para menos de US$ 49, com receio de que uma pandemia afete o crescimento global, enquanto os metais recuam em Londres e minério de ferro tem 4ª baixa em Cingapura.

Entre os indicadores, o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA cresceu 2,1% no quarto trimestre, em linha com a expectativa mediana dos economistas de acordo com o consenso Bloomberg. No terceiro trimestre, o PIB dos EUA também avançou 2,1%.

Já o Tesouro Nacional brasileiro divulgou o resultado primário do governo central de janeiro, que mostrou superávit primário de R$ 44,124 bilhões. A expectativa era de um superávit de R$ 40,4 bilhões. O governo também reduziu a previsão da dívida bruta de 2020 de 78,2% para 77,9% do PIB.

Onda de revisões

O Bank of America reduziu, por conta do coronavírus, pela segunda vez no mês, a projeção de crescimento do Brasil em 2020, que passou de 2,2% para 1,9%. Ontem, o JP Morgan cortou a estimativa para o PIB brasileiro neste ano de 1,9% para 1,8%.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) já afirmou que deve reduzir sua perspectiva de crescimento global nos próximos dias, em decorrência do agravamento do surto de coronavírus no mundo. Muitas companhias multinacionais já estão anunciando queda em receitas por causa da doença, como a Paypal, a AB Inbev e a Apple.

Tensão com Congresso

Além do noticiário sobre o coronavírus, as notícias vindas de Brasília também não são  animadoras. Conforme destaca o jornal O Estado de S. Paulo, a equipe econômica já começa a ver riscos de não avançarem rapidamente, neste primeiro semestre, as três pautas que eram dadas como certas para aprovação pelo Congresso: o projeto de autonomia do Banco Central e as Propostas de Emenda à Constituição (PECs) Emergencial e dos fundos públicos.

Os ânimos mais acirrados com o Parlamento, depois que o presidente Jair Bolsonaro disparou de seu celular um vídeo convocando apoiadores a irem às ruas para defendê-lo contra o Congresso, colocou a pauta em suspense e ampliou as incertezas da agenda econômica.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, é o mais cobrado pelas lideranças partidárias da Câmara e do Senado, que o acusam de ter descumprido o acordo do Orçamento impositivo, que amplia poderes dos parlamentares na destinação dos recursos para programas e ações do governo.

A notícia também contribuiu para aumentar o CDS (seguro contra calote da dívida pública). O receio do mercado é que isso possa de alguma forma atrasar a agenda de reformas do país, essencial para que o Brasil retome o crescimento e ganhe créditos com as agências de classificação de risco mais para frente.

Depois de ter atingido a máxima de 126,9 pontos na máxima da sessão de hoje, o CDS de cinco anos do Brasil recuou um pouco para a casa de 123 pontos por volta de 17h30 (de Brasília). Ainda assim, representava um avanço de 12,5% sobre o fechamento de ontem (109,4 pontos). Na semana, o indicador sobe 25%.

Crédito

O crédito alocado livremente a pessoas físicas teve alta de 12,2% em janeiro na base anual, ante alta de 11,9% em dezembro de 2019. As taxas de empréstimos para empresas aumentaram 130 pontos-base em janeiro (para 17,6%).

“Os empréstimos de bancos públicos e o crédito a empresas permanecem fracos (principalmente o crédito direcionado), mas destacamos que as empresas vêm substituindo o crédito bancário por outras fontes de financiamento baseadas no mercado de capitais. Finalmente, as inadimplências de empréstimos corporativos aumentaram 20 pontos-base, para 2,3%, ainda baixos, mas as inadimplências de empréstimos a pessoas físicas caíram 10 pontos-base, para 4,9%”, avalia o banco.

Assim, o banco espera que as condições de crédito melhorem levemente nos próximos meses, à medida que o risco de crédito modere com a recuperação econômica gradual prevista, e a demanda de crédito seja sustentada pela melhoria gradual prevista no cenário do mercado de trabalho e por um declínio nas taxas.

A notícia sustentou o desempenho um pouco melhor que a média das ações de bancos.

Noticiário corporativo 

A Eletrobras comunicou na noite de ontem que o CPPI, órgão federal ligado à presidência da República, recomendou que a estatal seja excluída do Plano Nacional de Desestatização, comandado pelo Ministério da Economia.

Segundo a empresa, a recomendação foi publicada na Resolução 109 de 19 de fevereiro. Já o Banco do Nordeste informou que planeja aumentar o seu capital social em R$ 1,7 bilhão, com a incorporação de lucros dos exercícios anteriores. A medida depende de aprovação em Assembleia no dia 27 de março.

No noticiário corporativo nacional, foram divulgados os dados da Ambev: a maior fabricante de cerveja e refrigerantes da América Latina teve lucro líquido de R$ 12,188 bilhões em 2019, 7,4% acima dos R$ 11,347 bilhões registrados em 2018. Com isso, as ações caíram mais de 8%.

Quer investir melhor o seu dinheiro? Clique aqui e abra a sua conta na XP Investimentos

Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.