Ibovespa fecha em queda de 1,13% com aumento das tensões entre EUA e China; dólar tem primeira alta em 7 pregões

Mercado encerrou o pregão em tom pessimista diante do recrudescimento das tensões entre as duas maiores potências do mundo

Ricardo Bomfim

Painel de ações (Crédito: Shutterstock)

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SÃO PAULO – O Ibovespa fechou em queda nesta quinta-feira (28) pressionado pela piora no humor dos investidores lá fora após o presidente americano, Donald Trump, afirmar que concederá amanhã entrevista coletiva para falar sobre a China. Hoje, o país asiático dobrou a aposta e elevou as tensões com os EUA ao aprovar a controversa lei de segurança nacional para Hong Kong, cidade que teve uma série de protestos contra o governo de Pequim no início do ano.

As bolsas americanas, que passaram a maior parte da sessão em alta, fecharam em quedas entre 0,21% (do índice S&P 500) e 0,58% (do índice Dow Jones) repercutindo o anúncio do Trump.

Por aqui, os investidores desde cedo pareciam buscar um motivo para embolsar lucros em uma correção depois das fortes altas recentes. Desde o dia 19 de maio, o principal índice da B3 saiu de 80 mil para 87 mil pontos.

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Houve também um movimento de “sobe no boato, cai no fato” após o presidente da República, Jair Bolsonaro, sancionar o pacote de ajuda a estados e municípios vetando o dispositivo que aumentava os salários de servidores públicos. Nas últimas sessões, o índice subiu de maneira relevante na expectativa pelo veto.

Apesar do alívio com o veto ao reajuste, também é monitorado de perto o ambiente de maior tensão entre os poderes no Brasil após a operação da Polícia Federal autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que atingiu apoiadores do governo. O presidente Jair Bolsonaro criticou a ação do STF em investigação contra fake news: “ontem foi o último dia”. Ele falou ainda que “não dá para admitir mais atitudes de certas pessoas individuais, tomando de forma quase que pessoal certas ações”.

Já o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), falou em vídeo de “ruptura” ao criticar o inquérito das fake news. “Suspender esse inquérito não basta. A gente vai ter que punir, isso é abuso de autoridade”, defendeu.

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Com isso, o Ibovespa teve baixa de 1,13% a 86.949 pontos com volume financeiro negociado de R$ 23,683 bilhões.

Já o dólar comercial registrou alta de 1,95%, a R$ 5,384 na compra e R$ 5,386 na venda. Foi a primeira valorização da moeda dos EUA sobre o real em sete pregões. O dólar futuro para junho subia 1,96% a R$ 5,379 no after-market.

No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 caiu dois pontos-base a 3,20%, o DI para janeiro de 2023 ficou estável a 4,29% e o DI para janeiro de 2025 avançou cinco pontos-base a 6,04%.

Saíram dois indicadores americanos importantes às 9h30 (horário de Brasília). O primeiro foi o número de pedidos de auxílio-desemprego nos EUA, que na semana passada foi de 2,12 milhões, em linha com a expectativa mediana dos economistas compilada pelo consenso Bloomberg, que apontava para 2,1 milhões de pedidos. O número de pedidos na semana anterior foi de 2,44 milhões.

O segundo foi o Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos, que registrou queda anualizada de 5% no primeiro trimestre deste ano de acordo com a segunda estimativa do indicador, resultado pior que o recuo de 4,8% projetado pelos analistas consultados pela Bloomberg.

Este foi o pior desempenho da economia americana desde 2008, durante a crise financeira, confirmando o forte impacto da pandemia na atividade conforme o país teve que fechar estabelecimentos e parar os negócios.

Esta também foi a primeira queda do PIB dos EUA desde o recuo de 1,1% no primeiro trimestre de 2014.

Já no Brasil, a taxa de desemprego subiu para 12,6% no trimestre até abril, apontou a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A expectativa, segundo consenso Bloomberg, era de que a taxa de desemprego no Brasil iria acelerar para 13,3% no mês passado.

No cenário externo fora dos EUA, as bolsas tiveram mais um dia de alta, ainda que com ganhos mais modestos em relação às últimas sessões. Os principais drivers do otimismo ainda são as esperanças de um reaquecimento da economia global em meio à reabertura dos comércios em diversos países e dos avanços da ciência no desenvolvimento de uma vacina contra o coronavírus.

Na Europa, os investidores também comemoraram o pacote de estímulo que totaliza 2,4 trilhões de euros (o equivalente a US$ 2,6 trilhões) em gastos totais para combater os impactos do coronavírus na economia.

Tensão política

O tom político em Brasília sobe novamente após a operação da Polícia Federal autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que atingiu apoiadores do governo. Após reunião com ministros na noite de quarta-feira, Bolsonaro disse em tom de ameaça que não haverá mais um dia como ontem.

Segundo o jornal “Folha de S. Paulo“, o presidente teria dito a auxiliares que o Executivo não poderia aceitar essa operação calado. Uma das medidas definidas é que a Advocacia-Geral da União (AGU) entre com um pedido de habeas corpus para impedir o depoimento do ministro da Educação, Abraham Weintraub, ao STF.

A sua intimação faz parte do mesmo inquérito que apura o disparo de fake news investigado pelo STF e que levou a uma onda de mandados de busca e apreensão ao longo da quarta-feira envolvendo deputados apoiadores do governo, empresários e blogueiros.

Veto confirmado

A lei de socorro a estados e municípios foi sancionada na quarta-feira à noite e publicada na edição desta quinta do “Diário Oficial da União”. Entre os principais vetos está o que impede o aumento do salário de servidores até o fim de 2021, que era bastante esperado pelo mercado.

Esse veto foi pedido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, como contrapartida para ajudar Estados e municípios e lidar com as perdas causadas pela pandemia do coronavírus.

Na mensagem de veto, Jair Bolsonaro afirmou que o dispositivo aprovado “viola o interesse público por acarretar em alteração da economia potencial estimada”.

Panorama corporativo

Apesar da incerteza causada pela pandemia do novo coronavírus, os investidores têm demonstrado apetite pelo risco, o que favorece a emissão de títulos e outros valores mobiliários pelas empresas.

Foi esse apetite por risco que garantiu à Petrobras a emissão de US$ 3,25 bilhões em títulos de dívida externos por meio da subsidiária Petrobras Global Finance B.V..

A operação foi dividida em duas operações. Um total de US$ 1,5 bilhão com vencimento em 2021 e rendimento ao investidor (yield) de 5,6% ao ano. Já uma parcela de US$ 1,75 bilhão irá vencer em 2050 com um retorno ao investidor de 6,9% ao ano.

Segundo o jornal “O Estado de São Paulo”, a demanda chegou a US$ 15 bilhões e fez com que a companhia suspendesse os planos para a emissão de R$ 3 bilhões em debêntures.

Já na área operacional, a estatal informou que iniciou os procedimentos para dar acessos aos demais produtores de gás no Brasil às suas unidades de processamento do insumo. A medida atende o plano do governo federal Novo Mercado de Gás, que busca atrair investidores para o setor.

Dentro da temporada de balanço, a varejista C&A registrou no primeiro trimestre do ano um prejuízo líquido de R$ 55,4 milhões, ante lucro de R$ 751 milhões nos primeiros três meses de 2019. Após a conclusão do primeiro trimestre, a C&A emitiu R$ 500 milhões em notas promissórias pelo prazo de três anos, além de R$ 350 milhões em CCBs (Cédula de Crédito Bancário) pelo prazo de um ano.

Já a Arezzo registrou lucro líquido de R$ 26 milhões no primeiro trimestre do ano, uma alta de 12% na comparação com igual período de 2020. O melhor resultado decorre da ativação de créditos tributários que geraram um efeito líquido de R$ 20 milhões.

A Rumo registrou no primeiro trimestre um prejuízo líquido de R$ 274 milhões, ante um lucro líquido de R$ 27 milhões em igual período de 2019.

Fora da temporada de balanços, o Tribunal de Contas da União (TCU) proibiu, na quarta-feira, o Banco do Brasil em fazer anúncios em sites que veiculem fakenews. A decisão atende a um pedido do Ministério Público.

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(Com Bloomberg)

Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.