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Ibovespa fecha em leve alta, mas abaixo dos 109 mil pontos, e dólar sobe a R$ 5,17: o que tem elevado a aversão ao risco do mercado?

Risco fiscal, juros nos Estados Unidos e impactos posteriores de política de Covid Zero na economia chinesa são fatores acompanhados por investidores

Vitor Azevedo

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O Ibovespa começou 2023 bem. Nos primeiros 25 dias do ano, o índice chegou a acumular uma alta de quase 4% (apesar da queda nos pregões iniciais do ano), indo aos 114 mil pontos, mas a tendência não se manteve e, na última semana, boa parte dela foi apagada.

Agora, no entanto, o índice apagou os ganhos, tendo queda de 0,92%. Nesta segunda, o índice fechou aos 108.721 pontos, com leve alta de 0,18% no dia, após chegar a uma mínima de 107.415 pontos, com as ações da Petrobras (PETR3;PETR4) evitando perdas maiores.

A mesma coisa aconteceu com o câmbio. De R$ 5,279 na abertura do primeiro pregão do ano, o dólar foi para abaixo dos R$ 5 na última semana e hoje encerrou o pregão negociado a R$ 5,173, com alta de 0,51%, chegando a R$ 5,21 na máxima do dia.

O otimismo que se instalou, então, foi anulado – e há uma série de fatores para isso, tanto no cenário interno quanto no externo.

No Brasil, os ruídos políticos voltaram a pesar sobre o benchmark, principalmente devido ao fim do recesso do Congresso e às novas sinalizações do presidente da República recém empossado, o petista Luiz Inácio Lula da Silva. No exterior, a taxa de juros nos Estados Unidos e a economia da China também estão nos holofotes dos investidores.

“O Ibovespa fica à mercê das declarações dos políticos locais, com o peso do lado fiscal e da questão de como ficará a meta de inflação do Banco Central”, explica Enrico Cozzolino, sócio e head de análise da Levante Investimentos.

Nesta segunda-feira (6), Lula, em meio à posse de Aloizio Mercadante (PT) como presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), voltou a atacar o atual nível das taxas de juros no Brasil. Já há algumas semanas, principalmente na última, o presidente vem com um discurso nessa linha, atacando também, diversas vezes, o Banco Central e sua independência.

“A questão da independência do Banco Central foi colocada em xeque e isso fez peso no Ibovespa, com investidores de olho em 2024, quando acaba o mandato do Roberto Campos Neto, atual presidente”, diz Anderson Meneses, CEO & Fundador da Alkin Research.

A sensação dos investidores é que o Governo Federal pretende “baixar o juros na canetada”, ignorando o perigo de alta da inflação que isso traz ao país. O próprio Lula falou que “o Brasil não tem de buscar uma inflação no padrão europeu”.

“A canetada não funciona. As medidas, que visam baixar o juros de forma indisciplinada, vão acabar subindo a inflação. O mercado sabe disso e aumenta o prêmio de risco na curva”, acrescenta Meneses. “Qualquer economia desenvolvida e mercado maduro tem um banco central independente”.

A curva de juros brasileira vem, por isso, sendo impulsionada para cima. Os DIs para 2027 abriram o primeiro pregão do ano negociados a uma taxa de 12,60% e agora estão próximos a uma taxa de 13,05%. Os para 2029 saíram de 12,65% para quase 13,20%. Os para 2031, de 12,65% para 13,30%.

Isso pesa, principalmente nas ações de companhias ligadas ao mercado interno e de crescimento. Entre as maiores baixas de 2023 até então, estão os papéis ordinários da Locaweb (LWSA3), com menos 17,38% e os da MRV (MRVE3), com menos 15%. As preferenciais da Alpargatas caem 17,77%.

EUA e China também pesam em Ibovespa

Além do cenário interno, houve também uma reversão parcial do otimismo com a economia americana.

O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), na última quarta, aumentou a fed funds, taxa básica de juros dos Estados Unidos, em 25 pontos-base, para o intervalo entre 4,50% e 4,75%. Após o anúncio, Jerome Powell, presidente do Fed, em coletiva, falou que a economia americana dava sinais de estar desacelerando e chegou a sinalizar que o ciclo de altas poderia ser encerrado ainda neste ano.

Na sexta-feira, contudo, a publicação do relatório Payroll de janeiro, com a criação de 517 mil vagas no setor não agrícola, ante 185 mil do consenso, deu um banho de água fria nos investidores.

“O Federal Reserve até deu um alívio, com esperança do final do ciclo de juros. O Payroll, no entanto, mostrou que a economia americana está muito forte, fortalecendo a possibilidade de que a autoridade monetária terá de ser muito mais agressiva para derrubar a economia e a inflação”, debate o especialista da Alkim.

A curva de juros nos Estados Unidos, então, também avançou – os treasuries yields para dois anos saíram de 4,09% na quinta passada para fechar em 4,483% e os para dez anos, de 3,35% para 3,649%.

A dinâmica das taxas na maior economia do mundo acaba pesando sobre o mercado brasileiro, com investidores cobrando prêmios maiores para investir no país, seja na renda fixa ou em ativos de risco. Isso faz minguar a entrada de dólares no Brasil, o que também explica a recente desvalorização do real.

“Estamos sendo muito influenciados pelo humor do mercado externo. Principalmente em relação à queda de juros nos Estados Unidos e na União Europeia. Os acontecimentos da semana passada trouxeram a perspectiva de que o juros não irá voltar a cair tão rápido”, acrescenta Acilio Marinello, coordenador da Trevisan Escola de Negócios.

A expectativa de juros maiores nos EUA também acaba impactando negativamente, como um todo, as projeções para a economia mundial.

Por fim, o Ibovespa e o real foram impactados também pelo que acontece na China, segunda maior economia do mundo e principal parceiro comercial do país.

A reabertura do gigante asiático, com o fim das restrições implementadas pela política de Covid Zero, vinha aumentando o ânimo com as commodities, principais produtos da pauta de exportação do Brasil, desde novembro, mas a economia do país deu sinais de que pode estar um pouco baqueada.

“O fluxo estrangeiro para o Brasil, motor para o bom desempenho dos ativos, foi motivado principalmente pela reabertura da China, com impacto geral. No entanto, há incertezas na frente de como a economia do país ficou após os lockdowns”, contextualiza Meneses.

Na última semana, por exemplo, foi publicado que índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) Caixin teve leitura de 49,2 em janeiro, ante consenso de 49,5 e ainda sinalizando contração.

O preço do minério se afastou das máximas. A tonelada da commodity negociada na Bolsa de Dalian fechou a US$ 125,85, no menor nível em três semanas. As ações ordinárias da Vale (VALE3), com peso importante no Ibovespa, acompanharam e fecharam em queda de 1,25 %, agora com recuo de 1,17% no ano.

O petróleo vai na mesma linha. O barril Brent foi negociado a mais de US$ 88 no dia 23 de janeiro e agora está mais próximo dos US$ 81 – tendo alta, ainda, de 1,55% hoje, sendo que as ações ordinárias e preferenciais da Petrobras subiram 3,63% e 3,99%, ajudando, como já mencionado, o Ibovespa a não cair.

Para Anderson Meneses, o mercado, no que tange às commodities, irá demorar um pouco para calcular quais foram os impactos negativos dos lockdowns na economia da China e continuará de olho em como será sua recuperação.

“Já o cenário interno, com Lula no governo, está desafiador. As surpresas podem ser muitas. Uma hora a compensação para todo esse problema fiscal vai chegar e não será fraca. Estamos muito mais otimistas por enquanto com a bolsa americana com a tese firme de um soft landing”, diz o CEO da Alkim.

Já Enrico Cozzolino define que é difícil traçar como o Ibovespa e o real se portarão no futuro.

“É uma leitura complexa. Olhando o fundamento, poderíamos por exemplo ter um dólar abaixo de R$ 5, sem uma retórica política conturbada e desancoragem de expectativa de inflação”, defende. “No cenário externo, há uma melhora. A preocupação com EUA é que o Payroll forte afasta o soft landing e a China, dado a reabertura, a questão que fica é se a demanda se torna sustentável”.