Ibovespa dispara 6% em fevereiro e tem melhor mês em quase um ano

Dia foi de alta, com a Bolsa se descolando dos índices europeus e dos futuros das bolsas norte-americanas

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – O Ibovespa fechou com forte alta nesta segunda-feira (29), descolando-se das quedas registradas em Wall Street. Com os ganhos desta sessão, o índice encerrou fevereiro com alta de 5,92%, aos 42.793 pontos, favorecido muito pelo cenário externo, atingindo assim seu melhor mês dede abril do ano passado, quando disparou 9,93%.

O benchmark da Bolsa brasileira subiu 2,89%, a 42.793 pontos. Já o dólar comercial registrou leves ganhos de 0,15% a R$ 4,0035 na venda, ao mesmo tempo em que o dólar futuro para março fechou em queda de 0,44% a R$ 3,979. No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2017 recuou 4 pontos-base a 14,18%, ao passo que o DI para janeiro de 2021 caiu 10 pontos-base a 15,63%.

Bastante favorecido pelo cenário exterior por conta de medidas na China e com uma recuperação dos preços do petróleo, o Ibovespa também viu a política interna voltar ao radar com o fim do recesso do Congresso e ajudando a trazer um pouco de ânimo para os investidores. Veja abaixo os 3 motivos que ajudaram na alta da Bolsa em fevereiro:

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1) Estímulos na China
O gigante asiático anunciou diversas medidas durante o mês, o que por diversas vezes levou ânimo para os mercados no mundo todo. No dia 15, por exemplo, a Bolsa subiu após a ação do People’s Bank of China de elevar o valor fixo do yuan em 0,3%, se estendendo no dia seguinte com uma alta de mais de 2% após dados mostrarem uma expansão de crédito maior do que o previsto no país asiático.

A mesma explicação ajuda a entender os ganhos deste último pregão, com o Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês) anunciando um corte no compulsório para todos os bancos, de 0,5 ponto porcentual. De acordo com o PBoC, a medida é tomada com o objetivo de fornecer ampla liquidez para o sistema financeiro e manter estável o crescimento do crédito. Vale lembrar que estímulos na China são bons para ações de empresas ligadas a commodities, como é o caso da Vale e Petrobras.

2) Recuperação do petróleo
A commodity teve um mês bastante agitado, culminando numa leve recuperação dos preços, que fecham o mês próximos de US$ 34 por barril, o que favorece os papéis da Petrobras, por exemplo.

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Em destaque ficou o debate sobre uma possível paralisação da produção em alguns países da Opep, o que levou o petróleo a disparar mais de 6% em algumas sessões. Apesar de informações desencontradas, os investidores estão otimistas que Rússia, Irã e Arábia Saudita consigam chegar a um acordo sobre suas produções, o que pode ajudar bastante em uma disparada do petróleo. A expectativa inicial era que este acordo fosse atingido até dia 1º março, resta saber se irá realmente acontecer.

3) Política e a Lava Jato
Por fim, a volta do Congresso reacendeu o debate de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Porém, a recente prisão do marqueteiro do PT, João Santana e outras operações deflagradas pela Lava Jato trouxeram mais otimismo ao mercado já que seu impacto pode trazer mudanças no governo, incluindo a saída da presidente. Além disso, o ex-presidente Lula passou a ser alvo de diversos ataques e investigações, o que mais uma vez enfraquece o governo e anima os investidores.

Brasil rebaixado duas vezes
Porém, nem só de notícias positivas passou o mês de fevereiro. Apenas neste último mês o Brasil sofreu dois rebaixamentos por agências de rating diferentes. Primeiro foi a S&P, que passou a nota do País de “BB+” para “BB”, mantendo a perspectiva negativa. Em relatório, a agência disse que vê este mais um ano de intensa contração econômica, sendo que o crescimento deve retornar em 2017. Segundo a S&P, os desafios econômicos e políticos do Brasil continuam “consideráveis” e agora a expectativa é de um processo de ajuste mais longo.

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Uma semana depois foi a vez da Moody’s rebaixar a nota soberana do Brasil para dois degraus, sendo a última das três grandes a cortar o Brasil para grau especulativo, ou “junk”. A nota foi cortada de Baa3 para Ba2. A perspectiva é negativa. Segundo destacou a agência, o corte da nota foi catalisado pela perspectiva de deterioração adicional das métricas da dívida do País em um cenário de baixo crescimento. Os desafios políticos também são citados pela agência, que destacou a falta de progresso do governo em alcançar seus objetivos de reformas fiscais e econômicas e a expectativa de que atual dinâmica política seja mantida nesse período. 

Pregão desta segunda-feira
Para o analista da Appia, Luiz Felipe Mello, o movimento da Bolsa hoje é um reflexo tanto do corte do compulsório da China – que ajudou a manter em alta as commodities – quanto do noticiário político. Para ele, os investidores começam a ficar mais otimistas com a possibilidade de uma cassação da presidente Dilma Rousseff após as notícias de que executivos da Odebrecht estudam fazer uma delação premiada. “Acho que por fundamento o cenário permanece horroroso, mas em um cenário de cassação da Dilma a credibilidade melhora”, diz Mello.

Também teve algum peso por aqui o Relatório Focus, com a mediana das projeções de diversos economistas, casas de análise e instituições financeiras para os principais indicadores macroeconômicos. A previsão para o PIB (Produto Interno Bruto) em 2016 caiu de uma contração de 3,40% para uma de 3,45%. Já no caso do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que é o medidor oficial de inflação utilizado pelo governo, as projeções são de que haja um avanço de 7,57% este ano, contra 7,62% projetados anteriormente.

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Ações em destaque
Os papéis da Petrobras (PETR3, R$ 7,35, +6,68%; PETR4, R$ 5,14, +5,54%) registram ganhos impulsionados pela alta do petróleo. O barril do WTI (West Texas Intermediate) tem alta de 2,53% a US$ 33,61, enquanto o Brent avança 2,93% a US$ 36,48.

A companhia assinou um termo de compromisso com o banco chinês China Development Bank (CDB) para financiamento de US$ 10 bilhões, informou a empresa. A Petrobras destacou que em paralelo à assinatura já estão em negociação as minutas dos contratos do financiamento, que preveem a execução de um acordo comercial de fornecimento de petróleo para empresas chinesas, em bases similares ao executado pelas partes em 2009.  Sobre a “captação”, elas ajudam a empresa a passar pelo ano de 2016, pois posterga uma necessidade de capital no curto prazo para a companhia. Adiando essa necessidade para anos seguintes.

Também sobem as ações da Vale (VALE3, R$ 11,81, +7,36%; VALE5, R$ 8,56, +5,94%). Elas acompanham o minério de ferro, que subiu 2,75% o minério à vista com 62% de pureza e entrega no porto de Qingdao. O preço da tonelada da commodity ficou em US$ 49,62.

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As maiores altas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 RUMO3 RUMO LOG ON 2,63 +12,39 -57,85 10,77M
 VALE3 VALE ON 11,81 +7,36 -9,36 146,71M
 PETR3 PETROBRAS ON 7,35 +6,68 -14,24 129,05M
 SUZB5 SUZANO PAPELPNA 16,50 +6,38 -11,72 90,78M
 SMLE3 SMILES ON 29,12 +6,20 -16,32 33,05M

Também entre os destaques de alta estão os bancos. Sobem Itaú Unibanco (ITUB4, R$ 25,40, +2,83%), Bradesco (BBDC3, R$ 23,27, +3,51%; BBDC4, R$ 21,34, +3,19%) e Banco do Brasil (BBAS3, R$ 13,54, +2,58%). Juntos, estes quatro papéis respondem por 21,82% da participação da carteira teórica do Ibovespa. 

A JBS (JBSS3, R$ 11,40, +1,97%), dona da marca Friboi, vira para alta após a operação que uniu a empresa à Bertin ser questionada pela Receita Federal, como informa o jornal O Estado de S. Paulo. Para o Fisco, a estrutura societária do negócio, que ajudou a criar a maior empresa de proteína animal do mundo, em 2009, foi “fraudulenta”. O caso está destrinchado em um procedimento fiscal feito em uma das empresas do grupo Bertin, que foi autuado em R$ 3 bilhões, em impostos e multas. Apesar de a Receita se preocupar em cobrar tributos, ela aponta outras irregularidades. Houve a transferência, a “preço vil”, de participações para um investidor desconhecido. Os acionistas minoritários também foram prejudicados

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As irregularidades, avalia a Receita, foram possíveis graças a uma estratégia particular. Apesar de sempre se falar em fusão, o JBS comprou o Bertin, diz a Receita. A aquisição ocorreu com uma troca de ações, sendo que os Bertin entregaram as suas para a holding da JBS – mas de maneira indireta. No negócio, o Bertin foi representado por um fundo de investimento, o FIP Bertin.

As maiores baixas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 OIBR4 OI PN 1,21 -9,70 -37,95 7,54M
 CESP6 CESP PNB 13,78 -1,57 +2,84 14,96M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram :

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN EDJ 25,40 +2,83 527,70M 387,18M 31.041 
 PETR4 PETROBRAS PN 5,14 +5,54 427,54M 327,98M 36.275 
 BBDC4 BRADESCO PN 21,34 +3,19 399,68M 311,26M 27.283 
 BRFS3 BRF SA ON 51,40 +2,80 279,25M 118,22M 17.630 
 ABEV3 AMBEV S/A ON 17,64 +0,06 270,97M 242,59M 26.365 
 CIEL3 CIELO ON 31,01 +1,74 258,77M 229,72M 15.319 
 VALE5 VALE PNA 8,56 +5,94 251,21M 266,34M 30.400 
 BBAS3 BRASIL ON 13,54 +2,58 217,06M 111,79M 17.996 
 ITSA4 ITAUSA PN EDJ 6,82 +2,56 155,06M 130,08M 28.692 
 BBSE3 BBSEGURIDADEON ED 24,12 +2,20 147,59M 134,54M 16.080 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
 

Dilma vs. PT
Dilma defendeu que a população trabalhe um pouco mais e insiste na necessidade de reformas fiscal e previdenciária, em viagem ao Chile. Enquanto isso, o PT quer “expansão imediata dos gastos sociais”, em plano de estímulos.

Lula
O ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, diz que será candidato em 2018 se for necessário, em discurso no evento do PT. Em um discurso de quase 40 minutos, Lula criticou a oposição e a imprensa que, segundo ele, estão tentando atingi-lo “com mentiras, com vazamento de informações e a criminalização” por meio de notícias, sem que haja qualquer julgamento. Segundo informações da Folha de S. Paulo, Lula recorre ao STF (Supremo Tribunal Federal) para suspender as investigações que caem sobre ele.

O ex-presidente negou que seja o dono do triplex no Guarujá e do sítio em Atibaia – imóveis investigados pela Justiça e que tiveram destaque na imprensa nos últimos dias. Segundo ele, o sítio, por exemplo, foi comprado por seu amigo Jacó Bittar. O acordo era que a família de Lula também usufruísse da propriedade quando ele deixasse a Presidência.

“Ele inventou de comprar uma chácara para que eu pudesse utilizar quando eu deixasse a Presidência. Fizeram uma surpresa pra mim até o dia 15 de janeiro [de 2011]”, afirmou. “A chácara não é minha”.

Pesquisa Datafolha
O impeachment de Dilma tem apoio de 60%, diz pesquisa. Além disso, a maioria (62%) acredita que empreiteiras beneficiaram Lula. A pesquisa apontou ainda que 76% dos eleitores defendem que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), renuncie à função.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.