O Ibovespa fechou em queda de 1,39% nesta quinta-feira (1), primeiro pregão do último mês de 2022, aos 110.925 pontos. O principal índice da Bolsa brasileira teve performance pior do que seus pares americanos, com investidores ainda monitorando a questão fiscal e as sinalizações sobre a equipe econômica do governo eleito.
Em Nova York, o Dow Jones caiu 0,56%, aos 34.395 pontos, e o S&P 500, 0,09%, aos 4.076 pontos. O Nasdaq, no entanto, subiu 0,13%, aos 11.482 pontos. Este último índice, que é muito ligado à performance dos juros, por ser composto de companhias de crescimento, surfou no recuo dos treasuries yields – os títulos para dez anos perderam 18,5 pontos-base, a 3,516%, e os para dois anos, 13,4 pontos, a 4,238%.
“Nos Estados Unidos, hoje tivemos a publicação de dados que vieram ruins quando o ponto é a atividade econômica, mas positivos quando a perspectiva é de baixa dos juros”, explica Felipe Cima, operador de renda variável da Manchester Investimentos.
Mais cedo, foi divulgado que o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) teve alta de 0,3% em outubro, ante 0,5% do consenso. A inflação aquém do esperado reforça a tese de que o Federal Reserve pode diminuir o ritmo de altas da fed funds.
Investidores, por lá, ignoraram o fato de que o PMI industrial de novembro teve leitura de 47,7, um pouco acima do consenso de 47,6. Os pedidos iniciais de seguro desemprego da semana encerrada no último dia 26 ficaram em 225 mil, ante 235 mil do consenso, também sinalizando que a maior economia do mundo pode estar mais aquecida do que o esperado.
O DXY, índice que mede a força do dólar frente a outras divisas de países desenvolvidos, recuou 1,16%, aos 104,72 pontos, uma vez que menores prêmios dos títulos do tesouro americano tendem a diminuir o fluxo de capital para o país. Frente ao real, a queda da moeda americana foi mais fraca, de 0,09%, a R$ 5,196 na compra e a R$ 5,197 na venda.
“O DXY, que mede o dólar contra pares, desvalorizou. Mas, frente ao real, o dólar ficou no zero a zero, por conta da questão fiscal, com a indefinição da PEC de transição e nova equipe econômica”, acrescenta Felipe Steiman, Gerente de Desenvolvimento de Negócios da B&T Câmbio.
Os especialistas explicam ainda que investidores brasileiros se posicionaram com mais cautela nessa quinta – uma vez que a sexta-feira é marcada por um jogo do Brasil na Copa do Mundo, tornando o dia mais esvaziado.
“Dá para perceber, de qualquer forma, que a bolsa brasileira tem dificuldade para sair do [noticiário] local e tem passado por bastante volatilidade e ficado lateralizada à espera do que a gente vai ter de decisões de novas notícias da PEC quanto a valores e prazos”, discute Apolo Duarte, head da mesa de renda variável da AVG Capital.
Na contramão do exterior, com o risco fiscal, a curva de juros brasileira avançou. Os DIs para 2024 ganharam 6,5 pontos-base, a 13,98%, e os para 2025, 10 pontos, a 13,13%. Os DIs para 2027 foram a 12,75%, com mais dez pontos, e os para 2029, a 12,75%, ganhando 11 pontos. Por fim, os contratos para 2031 fecharam em 12,74%, com mais 12 pontos.
“Aqui no Brasil, tivemos o risco fiscal e ainda a divulgação de um produto interno bruto (PIB) abaixo das estimativas. Mercado abriu em queda e ficou assim durante o dia. Small Caps e varejistas sofrem um pouco mais, como resposta a alta da curva de juros e a menor atividade econômica”, diz Bruno Madruga, head de renda variável da Monte Bravo Investimentos.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a economia brasileira cresceu apenas 0,4% no terceiro trimestre de 2022, ante projeção de alta de 0,7%.
“O Ibovespa chegou a atingir mínimas ao redor de 110.500 pontos, com ampliação dos riscos fiscais, PIB com crescimento menor evidenciando que o aperto monetário começa a impactar a atividade econômica”, diz Alexsandro Nishimura, economista e sócio da BRA BS.
A combinação entre crescimento menor do que o esperado e curva de juros em alta, por conta do risco fiscal, aumenta o temor de investidores.
Entre as maiores quedas do Ibovespa, com isso, companhias ligadas ao mercado interno: as ações ordinárias da Magazine Luiza (MGLU3) caíram 9,02%, as preferenciais da Alpargatas (ALPA4), 6,98%. e as ordinárias da Americanas (AMER3), 6,91%.
Foi destaque negativo também, entre as principais quedas por peso, as ações ordinárias e preferenciais da Petrobras (PETR3;PETR4), com menos 3,75% e 4,01% – a despeito da alta do petróleo, na esteira das ameaças de corte de produção da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP).
“Hoje teve o investor day da empresa e, mesmo com o petróleo subindo em torno de 1%, temos a empresa caindo forte. Essa queda está ligada a um certo medo dos investidores de ter no próximo ano mudanças no plano de investimentos da companhia. E a diretoria hoje não conseguiu afastar esse medo como um todo”, pontua Duarte.