Ibovespa cai mais de 2% com aceleração do coronavírus na Europa e escândalo de bancos internacionais

Mercado mostra perdas em dia de vencimento de opções sobre ações

Ricardo Bomfim

(Getty Images)

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SÃO PAULO – O Ibovespa cai forte nesta segunda-feira (21) acompanhando o desempenho das bolsas internacionais. O pessimismo ocorre por conta das notícias de que o Reino Unido está considerando realizar um novo lockdown devido ao aumento no número de novos casos de coronavírus. Na Europa, as ações de bancos ainda caem forte em meio a escândalo global.

Segundo reportagem publicada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), documentos do governo dos Estados Unidos mostram que bancos desafiaram leis contra a lavagem de dinheiro, transferindo grandes quantias de origem ilícita para contas obscuras e redes criminosas. A investigação revelou US$ 2 trilhões em operações suspeitas envolvendo bancos entre 1999 e 2017.

Na Bolsa de Londres, a ação do HSBC fechou em queda 4,9% e a do Standard Chartered recuou 5,2%. De acordo com o FactSet, no início do pregão, as ações do HSBC haviam caído para o menor nível em mais de 25 anos. Em Hong Kong, os papéis do HSBC e do Standard Chartered tiveram quedas respectivas de 5,33% e 6,18%, atingindo os menores níveis desde 1995 e 2002.

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A perda se alastrou por outras instituições nas bolsas europeias, uma vez que também há indícios de operações ilegais semelhantes em relação a outros bancos do continente, como o Barclays (-6,76%) e o Deutsche Bank (-9,63%), por exemplo.

Em relação ao coronavírus, a Espanha já limitou o deslocamento de 850 mil moradores da zona Sul de Madri, só permitindo que eles saiam de casa para trabalhar, ir ao médico ou levar filhos à escola.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) a pandemia persiste, e ainda mata 50 mil pessoas por semana.

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Às 12h40 (horário de Brasília) o Ibovespa tinha queda de 2,28%, aos 96.047 pontos. Vale lembrar que hoje é dia de vencimento de opções sobre ações, o que aumenta a volatilidade por conta da tradicional disputa entre comprados e vendidos.

Enquanto isso, o dólar comercial sobe 1,27% a R$ 5,4442 na compra e a R$ 5,445 na venda. O dólar futuro para outubro tem alta de 0,95%, a R$ 5,444.

No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 sobe seis pontos-base a 3,06%, o DI para janeiro de 2023 ganha nove pontos-base a 4,52%, o DI para janeiro de 2025 avança 10 pontos-base a 6,45% e o DI para janeiro de 2027 varia positivamente sete pontos-base a 7,42%.

Também não ajuda nada a animar os investidores a análise de que a morte da ministra da Suprema Corte dos EUA, Ruth Bader Ginsburg, poderia dificultar ainda mais as negociações entre democratas e republicanos no Congresso para aprovar um novo pacote de estímulos econômicos para combater os impactos da pandemia.

O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que indicará esta semana alguém para ocupar o lugar de Bader Ginsburg, algo que deve colocar mais uma vez os dois partidos em conflito.

Para Fernando Genta, economista-chefe da XP Asset, muitos não acreditavam na segunda onda do coronavírus, mas o número crescente de mortes em Israel e na Europa às vésperas do desenvolvimento de uma vacina voltam a trazer preocupações.

Genta ressalta ainda que o pacote fiscal americano está cada vez mais distante de ser aprovado antes das eleições, que ele acredita que serão conturbadas. “O mix de coronavírus mais votações por correio e cenário polarizado pode judicializar a disputa”, explicou durante live realizada pelo Stock Pickers na manhã desta segunda-feira.

Ainda no front internacional, chamou atenção no sábado a aprovação do acordo entre a Oracle e a Tik Tok pelo presidente Donald Trump. O acordo pretende evitar o banimento do aplicativo em solo americano.

No Brasil, segue o desconforto com o cenário fiscal no país em meio a dúvidas crescentes sobre a capacidade do Tesouro Nacional de refinanciar a dívida pública.

Membros do governo debateram neste final de semana o Pacto Federativo com o senador Márcio Bittar (MDB-AC).

Segundo a Folha de S.Paulo, a proposta reduz gastos obrigatórios e abre caminho para novas despesas a partir do ano que vem. Os cálculos atualizados sinalizam uma economia maior que R$ 30 bilhões em 2021, enquanto a versão mais enxuta economizaria cerca de R$ 20 bilhões.

Entre os indicadores, os economistas do mercado financeiro preveem esta semana uma queda menor do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020 do que previam na semana passada, mostrou o Relatório Focus do Banco Central. A projeção mediana para o PIB deste ano foi de -5,11% para -5,05%. Já para 2021 a expectativa segue em crescimento de 3,50%.

Em relação ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2020 a estimativa mediana dos economistas subiu de 1,94% na semana passada para 1,99% esta semana. A projeção para 2021 se manteve em 3,01%.

A previsão para o dólar ao fim de 2020 continuou em R$ 5,25 e para 2021 continuou em R$ 5,00.

Por fim, a expectativa para a taxa básica de juros, Selic, seguiu em 2,00% ao ano para 2020 e em 2,50% ao ano para 2021.

Pacto Federativo

De acordo com reportagem da Folha, os cálculos atualizados sinalizam uma economia maior que R$ 30 bilhões em 2021, enquanto a versão mais enxuta economizaria cerca de R$ 20 bilhões. Os números dependem de aprovação do presidente Jair Bolsonaro.

Está sendo estudada a possibilidade de o corte de despesas ser ocupado por um novo programa social, embora o presidente tenha afirmado na semana passada que o Renda Brasil está fora de cogitação.

Segundo o jornal, aliados do presidente defendem que seja criada uma iniciativa para baixa renda, mesmo que seja usado outro nome. O relatório do Bittar sobre a PEC do Pacto Federativo está quase pronto, e o texto agora está sendo analisado com membros do Executivo.

Além disso, foi noticiado que deputados pretendem cortar benefícios de juízes, procuradores e promotores na reforma administrativa. De acordo com o Estado de S. Paulo, devem ser incluídas na PEC emendas que limitam as férias de todos os agentes públicos a 30 dias por ano, inclusive para juízes, além do fim de privilégios, como aposentadoria compulsória como punição para quem já está trabalhando.

Ainda sobre a reforma administrativa, existe a expectativa de que deve ser criado um órgão independente para gestão do serviço público federal, que funcionaria como uma agência de recursos humanos.

Segundo a Folha, a agência seria responsável pela criação de critérios para ocupação de cargos comissionados, mapeamento para realocar pessoas e avaliação de desempenho. Essa última pode resultar na demissão de servidores, inclusive aqueles que já estão no cargo atualmente.

Ao mesmo tempo, o governo está preparando um decreto para regulamentar novas concessões do Benefício de Prestação Continuada (BPC), pago a idosos e pessoas com deficiência de baixa renda, a partir de 2021. Segundo o Estado de S. Paulo, a mudança vai permitir a inclusão de quase 500 mil pessoas no BPC.

O custo adicional, de R$ 5,8 bilhões, será compensado com a redução de custos com a judicialização e com medidas de combate às fraudes, que podem poupar até R$ 10 bilhões. Ou seja, o efeito líquido ainda seria uma economia de R$ 4,2 bilhões.

Substituição de Waldery Rodrigues

Outro destaque é a informação de que o Ministério da Economia está analisando três nomes para ocupar o cargo de Waldery Rodrigues, secretário especial da Fazenda. Segundo a Folha de S.Paulo, são eles Esteves Colnago e Jeferson Bittencourt, assessores especiais do ministro da Economia Paulo Guedes, e Bruno Funchal, secretário do Tesouro Nacional.

A troca deve levar algum tempo para ocorrer porque ele é tido como um nome relevante no ministério, mas todos os nomes cogitados são bem avaliados pelo ministro, segundo o jornal.

Ainda no radar, o ministro da Economia Paulo Guedes foi condenado a pagar R$ 50 mil em indenizações ao Sindicato dos Policiais Federais da Bahia (Sindipol-BA) por comparar servidores públicos a ‘parasitas’ em evento em fevereiro deste ano. A Advocacia-Geral da União anunciou que irá recorrer da sentença, proferida pela 4ª Vara Federal Cível da Seção Judiciária da Bahia (SJBA).

Radar Corporativo

Na esfera corporativa, os investidores acompanham hoje a estreia da construtora e incorporadora Cury na bolsa de valores. A empresa é subsidiária da Cyrela. O mercado também reagirá à compra de uma faculdade pela Ser Educacional no Ceará, por R$ 24 milhões.

Além disso, o Banco do Brasil divulgou planos de que pretende estar entre os três maiores bancos no mercado de capitais do Brasil em até quatro anos, enquanto a Latam recebeu aprovação do Tribunal do Distrito Sul de Nova York para a proposta de financiamento modificada, dentro do processo de recuperação judicial.

Também na sexta-feira, a Suzano informou que o BNDES Participações está realizando uma oferta pública de distribuição secundária de ações, de emissão da Suzano e de titularidade da BNDESPar.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.