Ibovespa cai 3%, dólar vai a R$ 4,04: os números que causaram um desastre no mercado global

Mercado viveu uma tempestade perfeita com números econômicos da China e da Europa renovando temores de recessão global, o que se refletiu nas bolsas dos EUA

Ricardo Bomfim

Painel de cotações indicando forte queda (Crédito: Shutterstock)

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SÃO PAULO – O Ibovespa teve sua pior queda desde março nesta quarta-feira (14) após o mercado ser atingido em cheio por uma tempestade perfeita.

Foram dados econômicos fracos na Europa e na China, curva de juros dos Estados Unidos sinalizando uma recessão e vencimento dos futuros sobre o nosso índice dando ainda mais força aos vendidos. 

Essa conjunção dos astros e das esferas não poderia dar em outra. O Ibovespa caiu 2,94% a 100.258 pontos com um impressionante volume financeiro negociado de R$ 40,246 bilhões, claramente influenciado pelo vencimento de opções sobre o índice. Foi a maior baixa em um só dia desde 27 de março, quando o benchmark recuou 3,57%.

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Já o dólar comercial subiu 1,86% a R$ 4,0397 na compra e a R$ 4,0405 na venda, no maior patamar desde 23 de maio deste ano, dia em que fechou cotado a R$ 4,0474. Enquanto isso, o dólar futuro com vencimento em setembro registra ganhos de 1,97%, voltando a superar os R$ 4,0455. 

Lá fora, as bolsas caíram forte. O índice norte-americano Dow Jones despencou 3,05%, no seu pior pregão em um ano. S&P 500 e Nasdaq tiveram perdas parecidas. 

No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2021 avança seis pontos-base a 5,46%, ao passo que o DI para janeiro de 2023 tem alta de oito pontos-base a 6,46%.

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De acordo com Ari Santos, gerente de operações da H.Commcor, apesar da forte queda de hoje, não dá para falar em uma inversão do cenário de alta que tem prevalecido na Bolsa em 2019. 

“O exterior se consolida como principal problema. O mundo se acostumou com a China crescendo 10% na era Lula. Vai crescer entre 5% e 6% daqui para a frente. Além disso, os comércios mundiais e a Europa estão colocando receio de recessão mundial”, explica. 

Entretanto, Santos entende que os preços das ações no Brasil especificamente estão baratos, com o Ibovespa voltando para patamares próximos a 100 mil pontos e o dólar a R$ 4,00. “A nossa Bolsa fica mais atrativa. Nosso País tem boas reservas e se tiver uma crise mundial nós conseguiremos nos sustentar”, avalia. 

Os dados

A produção industrial chinesa teve uma expansão de 4,8% em julho na base anual, ante expectativas de 5,9%.

Já na zona do euro, o Produto Interno Bruto (PIB) da Alemanha teve contração de 0,1% no 2º trimestre. A produção industrial no bloco de moeda única recuou 1,6% em junho na comparação com maio – retração acima da esperada pelo mercado, de 1,2%.

O PIB da zona do euro, com ajuste sazonal, subiu 0,2% no segundo trimestre em relação ao mesmo período do ano passado. Na comparação anual, o PIB ajustado sazonalmente cresceu 1,1% na área do euro.

Os números vieram em linha com as expectativas. Ainda segundo a Eurostat, o número de pessoas ocupadas aumentou 0,2% no segundo trimestre ante o primeiro, enquanto na comparação anual subiu 1,1%.

Em mais um sinal de alerta para a economia global, o yield (rendimento) dos títulos do Tesouro norte-americano de curto prazo, de 2 anos, ficou novamente acima do yield (a 1,634%) do título de longo prazo (10 anos), que ficou a 1,623%.

Essa mudança é vista uma indicação de recessão na economia; vale destacar que a última inversão nesta parte da curva foi em dezembro de 2005, dois anos antes da recessão causada pela crise do subprime. 

“Normalmente, a taxa do título mais longo oferece um retorno maior, como uma maneira de compensar o risco de longo prazo. Contudo, como vemos hoje que o título de curto prazo pagando mais que o de longo prazo, podemos concluir que há mais risco num título de curto prazo do que no de longo prazo, ou então que a economia precisará de constantes estímulos ao longo deste intervalo de tempo. Por isso, esse movimento tem sido um indicador antecedente de recessões muito preciso”, destacam em relatório Thiago Salomão e Matheus Soares, analistas da Rico Investimentos. 

Noticiário corporativo

A Bolsa ainda reflete o último dia da temporada de resultados, que tem como destaques nesta manhã os números de  Embraer e Kroton.

A Embraer (EMBR3) teve um lucro líquido atribuído aos acionistas de R$ 26,1 milhões no segundo trimestre, revertendo perdas de R$ 485,0 milhões do mesmo período do ano passado. Já o resultado ajustado, onde excluem-se impostos diferidos e itens especiais apresentou prejuízo de R$ 57,6 milhões, ante perdas de R$ 21,4 milhões de um ano antes.

Já a  Kroton (KROT3) apresentou um lucro líquido ajustado de R$ 266,696 milhões no segundo trimestre deste ano, representando queda de 44,2% na comparação com o mesmo período do ano passado. Segundo a empresa, o resultado foi impactado, especialmente, por despesas financeiras decorrentes da aquisição da Somos e um maior nível de depreciação derivado de investimentos realizados nos últimos anos.

Após o fechamento, empresas como JBS (JBSS3), Marfrig (MRFG3), Natura (NATU3), Sabesp (SBSP3), Gafisa (GFSA3) e Via Varejo (VVAR3) também divulgam balanços.

Congresso

O Plenário da Câmara aprovou o texto-base à Medida Provisória (MP) da Liberdade Econômica, que estabelece garantias para a atividade econômica de livre mercado, impõe restrições ao poder regulatório do Estado, cria direitos de liberdade econômica e regula a atuação do Fisco federal.

A versão aprovada libera pessoas físicas e empresas para desenvolver negócios considerados de baixo risco, que poderão contar com dispensa total de atos como licenças, autorizações, inscrições, registros ou alvarás.

Na proposta, foram incluídos temas como a instituição da carteira de trabalho digital; agilidade na abertura e fechamento de empresas e a substituição dos sistemas de Escrituração Digital de Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas (eSocial). Por outro lado, do texto final foram retirados diversos temas que não faziam parte na MP original, como taxas de conselhos de farmácia e isenção de multas por descumprimento da tabela de frete rodoviário.

Entretanto, entre os pontos mantidos na MP está o fim das restrições de trabalho aos domingos e feriados, dispensando o pagamento em dobro do tempo trabalhado nesses dias, se a folga for determinada para outro dia da semana. Pelo texto, o trabalhador poderá trabalhar até quatro domingos seguidos, quando lhe será garantida uma folga neste dia. Originalmente, a proposta era de até sete semanas ante do trabalhador ter uma folga dominical.

Para a votação dos destaques nesta quarta-feira, houve um acordo com a oposição para que não houvesse obstrução, como ocorreu na noite de hoje. Em troca haverá a votação nominal, pelo sistema eletrônico, em todos os destaques.

Ainda no âmbito legislativo, os líderes de partidos do Senado definiram o calendário da tramitação da proposta de reforma da Previdência. A agenda divulgada prevê que a Proposta de Emenda à Constituição seja votada no plenário em primeiro turno em 18 de setembro e, em segundo turno, no dia 2 de outubro.

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) descartou que o prazo de 60 dias previsto para tramitação da PEC seja “atropelado” como tem criticado parlamentares contrários à medida. Segundo ele, uma comissão especial já atua a cerca de cinco meses na Casa.

“Um calendário de 60 dias é muito razoável dentro do que o Brasil aguarda do Senado Federal e dentro do que, tendo em vista do que nós fizemos com a comissão especial, é sem dúvida a possibilidade dentro do Senado Federal de continuarmos debatendo essa matéria”, disse Alcolumbre.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.