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Um remédio amargo após diversas mudanças anunciadas na noite de sexta-feira (18). A companhia farmacêutica Hypera (HYPE3) anunciou um processo de melhoria do capital de giro, descontinuando seu guidance para 2024 e divulgando uma prévia para o terceiro trimestre de 2024 (3T24). Com as medidas, as ações HYPE3 eram destaque de baixa do Ibovespa, com queda de 17,37% (R$ 21,21) às 10h22 (horário de Brasília) e depois entrando em leilão; às 10h30, a queda era de 14,92%, a R$ 21,84.
De acordo com o comunicado, a empresa passará a ser mais rigorosa em relação aos prazos de pagamento aos clientes, com o objetivo de gerar um caixa adicional de R$ 2,5 bilhões até 2028. Além disso, a companhia descontinuou seu guidance para 2024 e divulgou números prévios para o último trimestre, com receitas, Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) e lucro bem abaixo das estimativas da XP.
A XP avaliou a iniciativa como negativa, uma vez que a mudança substancial nas políticas comerciais da empresa devem ter um grande impacto na receita e, consequentemente, no Ebitda e nos lucros – mesmo em períodos futuros. Portanto, já esperava uma reação negativa do mercado nesta segunda-feira (21).
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Na mesma linha que a XP, o Goldman Sachs vê o efeito líquido dos anúncios como negativo para a ação.
O Goldman Sachs comenta que já era cético quanto à possibilidade da Hypera cumprir sua orientação para 2024, o que foi realmente um dos principais motivos pelos quais rebaixou a ação para neutra em agosto. No entanto, essa preocupação se materializou não apenas mais cedo do que o esperado, mas também com uma quebra muito maior, pois a orientação preliminar ao mercado implica uma redução preliminar de 30% no Ebitda do terceiro trimestre de 2024 em relação ao consenso, principalmente devido a uma queda de 16% ano a ano nas receitas líquidas, enquanto as vendas aumentam 11%, destacando altos níveis de estoque no canal de varejo.
Além disso, embora a mudança estratégica para melhorar a geração de fluxo de caixa reduzindo as contas a receber e os níveis de estoque dos clientes pareça adequada, os analistas do Goldman acreditam que esse conjunto de anúncios provavelmente desancorará as estimativas para 2025, dada a magnitude da perda de lucros de curto prazo.
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Em termos de avaliação, o banco vê as ações da HYPE3 negociando a 10 vezes o Preço/Lucro contábil de fim de 2025 (13,3 vezes em um cenário pessimista de benefícios fiscais), o que parece exigente à luz da visibilidade de lucros mais fracos e do ambiente competitivo estruturalmente mais feroz.
O Bradesco BBI, por sua vez, classifica as notícias como positivas em geral, mas mantém recomendação neutra por enquanto devido a (i) momentum negativo dos lucros, (ii) riscos de execução e (iii) potencial tributação de benefícios fiscais de ICMS (25% do lucro líquido estimado pelo Bradesco BBI para 2026). HYPE3 está sendo negociada a 10,4 vezes e 7,4 vezes o múltiplo P/L esperado para 2025 e 2026 (15x e 10x assumindo tributação potencial e sem considerar nenhuma contrapartida) contra 12 vezes de sua média histórica.
O BBI também elevou o preço-alvo para 2025 de R$ 34 para R$ 35 após incorporar a melhora no ciclo de caixa (172 dias versus 202 anteriormente e 240 no 2T24) e menor EBITDA, dada uma visão mais conservadora sobre o crescimento da receita e margem bruta mais fraca.
Analistas do BBI ainda reduziram a expectativa de lucro líquido de 2025 em 25% e de 2026 em 7%.
O JPMorgan disse ter opiniões mistas sobre o anúncio, enquanto esperava uma reação negativa ao anúncio. Por um lado, a Hypera se retira de sua orientação pelo segundo ano consecutivo, enquanto mais uma vez traz “preocupações” ao mercado sobre os níveis de estoque do canal e desfocando a visibilidade em torno dos resultados de curto prazo em um mercado que é orientado para o curto prazo e focado no impulso do lucro por ação.
Por outro lado, segundo JPMorgan, sinaliza um foco crescente no crescimento sustentável por meio da redução do capital de giro, o que deve impulsionar uma melhor geração de fluxo de caixa livre. Ainda assim, olhando para a redução pretendida de contas a receber e contas a pagar para os principais players do setor, o banco acredita que o plano é ambicioso e improvável de ser levado ao pé da letra pelo mercado, embora haja espaço para melhorias materiais.
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Com as iniciativas anunciadas, o JPMorgan reduziu suas estimativas de lucro por ação para 2024 e 2025 em 15% e 26%, respectivamente, o que coloca a ação a 10,3 vezes o P/L para 2025.
Olhando para o desempenho do papel na Bolsa, o JPMorgan acredita que a avaliação permanece pouco exigente e mantém recomendação equivalente à compra para Hypera, pois ainda enxerga um sólido potencial de valorização intrínseca em relação ao preço-alvo revisado para baixo de R$ 43 para R$ 36.
Já o Morgan Stanley projeta que os lucros da Hypera em 2025 provavelmente serão afetados pela potencial redução do sell-in, o que deve se traduzir em um P/L de 2025 mais alto aos preços atuais. A empresa já foi rebaixada para neutra e preço-alvo de R$ 34, após preocupações com crescimento, tributação potencial e, mais recentemente, o mercado parece já estar precificando uma revisão negativa do lucro por ação, já que a empresa agora está sendo negociada a 8 vezes P/L (preço sobre lucro), muito abaixo da média de 2 anos de 12 vezes.
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“Embora inconsistente com uma empresa farmacêutica que se beneficia do crescimento estrutural positivo, os múltiplos atuais já parecem abranger os riscos da empresa e algumas das revisões negativas que este anúncio pode causar”, destaca Morgan Stanley.
O Itaú BBA, apesar das características de longo prazo ainda convincentes na tese de investimento da Hypera, optou por adotar uma abordagem mais cautelosa no curto prazo e cortou a recomendação de “compra” para neutra (desempenho em linha com a média do mercado) HYPE3, com um valor justo para o ano de 2025 de R$ 29 (de R$ 37 anteriormente).