“História” do Ibovespa mostra que pode ser um ótimo momento para comprar ações

Índice fechou julho em alta após cair por 6 meses; sequência negativa tão longa foi vista antes em 1994, 2008 e 2011 e em todos os casos o mercado subiu forte logo depois

Felipe Moreno

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SÃO PAULO – Pela 4ª vez nos últimos 20 anos, o Ibovespa recuou por seis meses seguidos – e isso pode ser uma oportunidade de ouro para o investidor. Entre janeiro e junho, o índice fechou no vermelho nos 6 meses, acumulando perdas de 22,14% no período – o último mês da série, aliás, terminou em 47.457 pontos, menor patamar desde abril de 2009. Contudo, no mês de julho, o benchmark parece ter encontrado o “fundo do poço”, aos 44.107 pontos, quando a queda acumulada anual seria de 27,64%. A recuperação veio logo em seguida, com o índice engatando um movimento de alta capaz de fazer com que terminasse o mês de julho no azul, com alta de 1,64%, aos 48.234 pontos.

Se julgar pelo passado, a recuperação pode ser boa: todas as outras vezes que o índice teve esse comportamento, iniciou um forte processo de recuperação logo depois. Isso ocorreu em 1994, 2008 e 2011 – anos em que a economia enfrentou graves crises externas. Talvez esse seja o grande “risco” para o momento atual, já que dessa vez o principal problema está voltada para a economia brasileira.

Caminhando para o terceiro ano consecutivo de PIB (Produto Interno Brasileiro) decepcionante, a economia nacional parece não estar no ponto ideal para resgatar o desempenho do índice acionário nacional – e não dá grandes sinais de retomada da aceleração da atividade econômica. Além disso, o Brasil tem perdido credibilidade perante o investidor nacional, que reclama contra a política “unilateral” do governo e a “criatividade contábil” do governo. Mas isso, também, já pode estar precificado, já que enquanto as bolsas estrangeiras registraram grandes altas no início do ano – com os Estados Unidos operando atualmente em seus maiores níveis da história -, o Ibovespa recuou.

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O movimento também é muito mais fraco do que o índice viu nas últimas vezes. O recuo acumulado nos seis meses de 1994/1995 foi de 45,70%, enquanto que em 2008 a queda foi de 49,59% e em 2011, 23,71%. A queda máxima de 2013 foi de 27,64%, enquanto que em 1994, 2008 e 2011 essa variação negativa chegou a 61,52%, 59,45% e 30,32%, respectivamente.

Período Pontuação
inicial
Pontuação
Final 
Queda Mínima
do período 
O que ocorreu depois?
Outubro 1994 – Março 1995 5.484 2.970 45,70% 2.110
(-61,52%)
Alta em 24 dos próximos 28 meses.
Do fechamento do último mês até o topo, em julho, alta chegou a ser de 370,28%, para 14.005 pontos.  
Junho 2008 – Dezembro 2008 72.592 36.595 49,59% 29.435
(-51,45%)
Índice subiu 9 dos próximos 12 meses, registrando alta de 90,70% até o topo em dezembro de 2009, aos 69.785 pontos. 
Abril 2011 – Setembro 2009 68.586 52.324 23,71% 47.793
(-30,32%)
Alta em 3 dos próximos 6 meses, batendo os 68.969 pontos, representando ganhos de 31,81%. 
Janeiro 2013 – Junho 2013 60.952 47.547 22,14% 44.107
(-27,64%)

1994/1995: crise do México
1994 e 1995 foram anos importantes para a economia brasileira. A estabilidade monetária era uma novidade para os brasileiros, com a inflação domada com o plano Real. Fernando Henrique Cardoso assumia a presidência e tinha grandes desafios pela frente. Um deles era diminuir a vulnerabilidade externa que do Brasil, fortalecendo as reservas internacionais brasileiras. 

FHC, porém, aterrisou em um momento de crise: o México encontrava-se em um difícil crise política, que alastrou para os outros países da América Latina, principalmente os que seguiam as reformas do chamado “consenso de Washington”, dos quais o México era um exemplo. Nesse momento, os investidores estrangeiros iniciaram uma fuga de capitais dos outros países da região, incluindo o Brasil, derrubando as bolsas por aqui.

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A (nova) estabilidade econômica brasileira e as reformas pretendidas por FHC, como as privatizações, prevaleceram e o Ibovespa iniciou uma forte recuperação nos próximos anos, que só parou com a crise asiática de 1997 e russa de 1998, que derrubaram a bolsa por aqui. O Ibovespa, porém, já estava em outro patamar. 

Ibovespa 1994

*Ibovespa 1994-1998: cada candlestick representa um mês

2008: o subprime norte-americano
A crise de 2008 foi provavelmente o momento mais complicado para a economia mundial desde o crash de 1929 – que iniciou a grande depressão. Títulos imobiliários “podres” de crédito fácil estouraram nos EUA, estourando uma bolha imobiliária que era alimentada a mais de uma década. Alguns bancos e instituições financeiras tidas como “grandes demais para quebrar” passaram por grandes dificuldades, como a AIG e o Lehmann Brothers – que chegou a quebrar.

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Em certos momentos, a expectativa era que o sistema financeiro mundial iria derreter, causando efeitos terríveis sobre a economia e a bolsa – membros do Federal Reserve, o Banco Central norte-americano, chegaram a ser vistos sacando grandes quantias de dinheiro em caixas eletrônicos depois de reuniões com grandes bancos. Contra essa crise, duas respostas, uma interna e uma externa. 

Por aqui, o presidente Lula prometeu que a crise seria “apenas uma marolinha” e aumentou os estímulos ao consumo – pedindo, publicamente, para que os brasileiros não deixassem de consumir. Depois de uma breve recessão em 2009, o País viu o PIB crescer 7,5% em 2010, sepultando a crise – movimento este antecipado pela bolsa de valores, um ano antes.

Lá fora, Ben Bernanke, presidente do Fed, prometeu que iria garantir a liquidez da economia mundial – através de programas de compras de títulos de dívida, os chamados Quantitative Easing. Bernanke chegou a afirmar que seria preferível jogar dinheiro de helicópteros em grandes centros a deixar o mercado padecer de falta de liquidez, erro que teria sido cometido pelo Fed em 1929. Mais de US$ 2,1 trilhões foram injetados na economia apenas em 2009.

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Ibovespa 2008
*Ibovespa 2007-2010: cada candlestick representa um mês

2011: tensão na Europa e Estados Unidos
Mais branda que o normal, a crise de 2011 se parece muito mais com a atual que as outras duas. Mas como aquelas, a causa era externa. A crise na Europa apertava no início daquele ano, com a expectativa de uma moratória grega e o alastramento da crise para outros PIIGS (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha, na sigla em inglês). Governos europeus passavam por grande instabilidade e até mesmo o presidente do FMI (Fundo Monetário Internacional) chegou a ser derrubado, por conta de um escândalo sexual. 

Quando a situação na Europa pareceu sair de cena – mas não resolvida -, os Estados Unidos entraram em foco. Em agosto, o congresso norte-americano chegou a um impasse sobre o teto da dívida do país, o que poderia provocar uma breve moratória dos EUA, maiores devedores do mundo. Embora, um acordo de postergação tenha sido alcançado, o evento fez com que, pela primeira vez na história, uma das três grandes agências de rating, a Standard & Poor’s, rebaixassem os EUA de AAA, a nota máxima. 

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Com a solução da crise política nos EUA e com a gradual melhora do panorama europeu, os mercados mundiais se recuperaram. Foi quando o Brasil começou a entrar em cena: o crescimento do PIB nacional em 2011 foi fraco e a recuperação esperada para 2012 não veio, mesmo com a confiança absoluta da equipe econômica do governo, cujo expoente máximo, Guido Mantega, chegou a chamar as projeções pessimistas de “piada” – e elas acabaram se concretizando. 

Ibovespa 2011

*Ibovespa 2009-2013: cada candlestick representa um mês