Gurus do mercado afirmam: ainda é cedo para “declarar vitória” sobre a crise mundial

Enquanto Roubini avalia que economia dos EUA decepcionará este ano, El-Erian vê um bom 2014, mas ainda com bastante cautela

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Nouriel Roubini, conhecido como Dr. Catástrofe, e Mohamed El-Erian, fundador da Pimco, têm perfis bastante diferentes, assim como a forma como veem o mundo. Contudo, isso não quer dizer que o professor da Universidade de Nova York e o gestor não tenham alguns pontos em comum. 

Eles apontam um maior otimismo com a economia, inclusive a norte-americana. Contudo, enquanto Roubini está um pouco mais otimista sobre os EUA, avalia que o gigante mundial deve decepcionar em 2014, dada a elevação de projeções. Enquanto isso, El-Erian também ressalta que este ano deve ser melhor para a economia global, provavelmente o melhor desde a crise financeira global de 2008. Mas então, eles estão mesmos cautelosos?

Uma leitura mais aprofundada de suas falas aponta que sim. Roubini afirmou em um evento que este será mais um ano decepcionante para a economia norte-americana, como destacou a CNN Money. Com essa declaração, é fato de que a visão finalmente positiva do economista parece ter ficado para trás? Aparentemente não, uma vez que Roubini está realmente um pouco mais otimista sobre os EUA que têm sido nos anos anteriores. Porém, à medida que as perspectivas melhoraram e a estagnação em Washington diminuiu um pouco, outros economistas elevaram os seus prognósticos econômicos.

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De uma certa forma, El-Erian possui uma visão parecida. Ele avalia que o crescimento global e dos países avançados está avançando, que as taxas de desemprego estão caindo nas nações desenvolvidas e que há esperança que as empresas usem o seu lucro em equipamentos e investimentos em instalações. Porém, ele avalia que é muito cedo para declarar vitória sobre o período de crescimento lento, desemprego persistentemente elevado, desigualdades e as preocupações sobre a dívida e déficit em determinados países.

Um dos motivos é o apontado pelo próprio Roubini, de que o crescimento vai decepcionar, ficando aquém da chamada “velocidade de escape”‘, sendo  insuficiente para mitigar os problemas de alto desemprego, além de não travar a deterioração excessiva das desigualdades de renda, riqueza e oportunidades e ainda não é forte o suficiente para permitir que as economias se livrem do seu alto endividamento. Além disso, o Fed está em um movimento de transição, com a redução do QE3 (Quantitative Easing 3) e as economias emergentes importantes, como o Brasil e Turquia, ainda não mostraram envergadura para “navegar” em meio às mudanças das políticas do Fed. Por outro lado, o mercado tem que lidar ainda com a polarização política de Washington, enquanto ainda há riscos na Europa. 

“Tudo isso sugere que um dos principais desafios que enfrenta a economia mundial em 2014 é converter a melhoria econômica atual em um trampolim para uma recuperação ainda mais forte a médio prazo”, avalia El-Erian.

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Já Roubini ressalta que o crescimento vai existir, mas não o suficiente para produzir melhoras para os trabalhadores americanos médios. Isso vai limitar a capacidade dos norte-americanos para fazer compras e pagar dívidas, dois quesitos aos quais a economia necessita para registrar um crescimento sustentável. Ao mesmo tempo, os lucros das empresas estão diminuindo e, enquanto o mercado de ações não está numa bolha, as ações parecem caras. “A questão é se nós estamos tendo um crescimento sustentável que não é baseado em bolhas”, diz o economista, ressaltando que “ainda não”.

Roubini também sustenta que os EUA estão subinvestindo em infraestrutura e educação, argumentando que o trabalhador médio norte-americano nos próximos anos vai ser deixado para trás. Como resultado, a desigualdade só tende a piorar. Porém, o maior problema está com o Federal Reserve, que está preso no dilema entre ajudar a economia e evitar a criação de bolhas. Em mais dois ou três anos, Roubini avalia que poderia haver uma nova crise financeira com os novos problemas criados pelo Fed.

Por isso, deve ressaltar que há espaço para animação sim. Porém, com certa cautela. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.