Guerra cambial: o próximo passo da disputa entre gigantes está nas mãos de Trump

A China decidiu deixar sua moeda desvalorizar, algo que Trump sempre acusou o país de fazer. Agora ele tem um argumento para fazer o mesmo com o dólar

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Na última segunda-feira (5), a China deu um passo na guerra comercial com os Estados Unidos ao desvalorizar sua moeda, o que elevou consideravelmente um risco apontado há meses por alguns analistas, de uma guerra cambial.

Apesar de ser algo dito desde que se tornou presidente, Donald Trump elevou o tom no mês passado acusando os chineses de manipulação do câmbio. E após Pequim permitir a desvalorização de sua moeda para 7 yuans por dólar, o governo americano decidiu classificar oficialmente a China como manipulador de câmbio pela primeira vez em 25 anos.

Não é de hoje que Trump acusa a China de manipular sua moeda. Ele já havia tentado mais de uma vez oficializar os asiáticos como manipuladores, mas não havia conseguido. Nos últimos meses, o presidente americano também voltou suas críticas para o Banco Central Europeu (BCE), fazendo as mesmas acusações e pedindo para que o Federal Reserve (banco central dos EUA) para agir a ponto de desvalorizar o dólar.

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A estratégia usada pela China de derrubar a cotação do yuan ainda se dá no âmbito apenas de uma guerra comercial. A ideia é tornar o seu produto mais barato, ganhando na competitividade contra outras nações no comércio global. Mas dando este passo, Pequim deixou na mão de Trump elevar esta disputa para uma guerra cambial oficial.

Em relatório, os analistas do Bank of America Merrill Lynch afirmam que os EUA poderiam ver a atitude da China como uma abertura para intervir no câmbio, em um esforço para enfraquecer o dólar. “Este seria especialmente o caso se houvesse uma maior volatilidade no mercado de câmbio, uma vez que a alegação poderia ser feita de que a intervenção é para fins de estabilidade”, avaliam.

Apesar disso, o BofA diz que ainda não vê esta ação do governo americano como algo iminente, mas que “os riscos estão aumentando”. O banco não acredita que a China irá reagir sobre ser rotulada como manipuladora, mas se Trump decidir elevar ainda mais as tarifas contra produtos chineses, o clima poderia piorar muito.

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Antes mesmo desta escalada na tensão, Thanos Vamvakidis, diretor global da estratégia de câmbio do G-10 no BofA, dizia que o mundo já passa por uma guerra cambial, mas que ninguém assumiu isto ainda.

“É tudo sobre equilíbrio, porque quando todo mundo está fazendo isso, as moedas não se movem, você não beneficia nada porque acaba gastando munição de política monetária muito limitada e não tem resultado”, disse o analista sobre a chance de não só EUA e China, mas União Europeia e outras grandes nações desvalorizarem suas moedas.

Vamvakidis argumentou que, embora, em teoria, os governos possam intervir quando as moedas estão supervalorizadas, a forma como tais intervenções estão se desdobrando atualmente está produzindo mais efeitos colaterais negativos.

“Todo mundo está tentando mudar suas moedas, mas todo mundo está tentando ao mesmo tempo, e no final, ninguém se beneficia”, disse ele. “O dano colateral de tudo isso é que a coordenação política internacional sofre”.

A desvalorização do yuan nesta semana tem grande impacto sobre moedas emergentes e acabam pesando ainda para o Banco do Japão e o Banco Central Europeu, por exemplo, que em meio a um cenário de economias enfraquecidas, não querem que suas moedas (iene e euro) fiquem mais fortes.

“A guerra comercial EUA-China prepara o cenário para uma guerra cambial que pode acabar envolvendo muitos dos principais bancos centrais ao redor do mundo”, disse Eswar Prasad, ex-chefe da divisão do FMI na China e autor de “Gaining Currency: The Rise of the Renminbi”, para a Bloomberg.

Uma guerra cambial ainda não está tão próxima. Trump tem outras “armas” que pode usar em sua disputa contra os chineses e seu argumento perdeu um pouco de força neste momento.

Se por um lado ele pode tentar manipular o câmbio argumentando que Pequim está fazendo o mesmo, por outro não faz sentido ele reclamar da China e fazer a mesma coisa. Está nas mãos do presidente americano evoluir a guerra comercial para uma cambial, e o mercado não tem nenhuma certeza de que ele não fará isso.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.