Grendene (GRND3) vende menos calçados, e receita e lucro caem; ‘Foi um 1º trimestre piorado’, afirma CFO

Exportações despencam 50% no 2º trimestre e pesam no balanço; resultado só não foi pior devido a repasse de preço e melhora da margem bruta

Lucas Sampaio

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A Grendene (GRND3) vendeu 15,4% menos calçados no segundo trimestre deste ano e, apesar de a receita bruta por par ter subido 8,1%, devido principalmente ao reajuste de preços no mercado interno, a receita líquida caiu 10,4% na comparação anual (de R$ 517,2 milhões para R$ 463,6 milhões).

Com isso, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos depreciação e amortização) recuou 13,1%, de R$ 28,0 milhões para R$ 24,3 milhões, e o lucro líquido da companhia foi 12,9% menor (uma redução de R$ 65,7 milhões para R$ 57,2 milhões entre o 2T22 e o 2T23).

O grande “vilão” do resultado da empresa, que é dona das marcas Melissa, Rider e Ipanema (e tem o licenciamento de marcas como Azaleia e Mormaii), foram as exportações (veja mais abaixo). O resultado só não foi pior devido à estabilidade da receita no mercado interno, com o repasse de preço, e à melhora da margem bruta, que aumentou 6,7 pontos percentuais (de 34,2% para 40,9%).

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“Foi um trimestre bem complicado. O segundo trimestre foi um primeiro trimestre piorado”, resume o diretor financeiro e de relações com investidores, Alceu Albuquerque, ao InfoMoney. O executivo, no entanto, projeta uma segunda metade do ano mais positiva.

“O segundo semestre é o mais importante para nós, é quando vendemos 60% do nosso volume. A inflação começou a recuar de forma consistente, os juros começaram a cair, o desemprego vem melhorando… Tudo contribui para um aumento da renda do consumidor, o que deve impactar o consumo”, afirma Albuquerque. “Sabemos do cenário desafiador, mas vemos um semestre positivo”.

Além disso, a empresa diz que, tirando efeitos não recorrentes, o resultado operacional foi melhor: o Ebitda recorrente subiu 48,4%, de R$ 35,8 milhões para R$ 53,1 milhões, e o lucro líquido recorrente aumentou 15,4%, de R$ 73,4 milhões para R$ 84,7 milhões (o resultado recorrente exclui R$ 28,7 milhões da conta, incluindo R$ 20 milhões de equivalência patrimonial e R$ 5,1 milhões de provisões de perdas com “grandes varejistas”).

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Albuquerque atribui os números ruins do segundo trimestre ao cenário macroeconômico. “A inflação continuou, apesar da desaceleração, o desemprego continuou elevado e as taxas de juros ainda estavam elevadas. Tudo isso acabou afetando a renda do consumidor final, prejudicando o consumo. Além disso, o varejo tem passado por um período difícil – não só o setor de calçados”.

Ele diz também que o inverno mais ameno afetou indiretamente a companhia, apesar de a Grendene ser focada em “produtos de calor” (como chinelos e sandálias), porque a queda nas vendas do varejo em geral afetou o capital de giro dos lojistas. “Tanto é que o desempenho do sell-out foi positivo, cresceu 4,8%, mas o sell-in – o que a gente vende para o lojista – recuou 4,5%. Então o lojista vendeu mais produtos da Grendene do que comprou e está com menos estoque dos nossos produtos”.

Exportações pesam negativamente

O resultado do segundo trimestre foi impactado principalmente pelo mercado internacional. O volume de pares exportados despencou 50,7% no trimestre e a receita bruta caiu 39,1%, mesmo com o aumento de 23,5% na receita bruta por par.

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O CFO da Grendene diz que 60% das exportações são para a América Latina e diversos países da região estão com dificuldades. Segundo o executivo, 3/4 da queda nas vendas vieram de apenas 3 países: Argentina, Bolívia e Paraguai.

O resultado só não foi pior porque, no mercado interno, a receita permaneceu estável, em R$ 499,3 milhões (+0,1% vs. 2T22). O número de pares vendidos caiu 4,7%, mas a receita bruta por par aumentou 5,1% e compensou a queda, devido a um reajuste em fevereiro. A alta nos preços inclusive melhorou a margem bruta da companhia, mas Albuquerque não vê espaço para novos reajustes no curto prazo.

O destaque positivo das vendas no Brasil foi o segmento feminino (composto por Zaxy, Grendha e Azaleia), que teve estabilidade no volume (-0,2%) e uma alta de 15,1% na receita bruta devido ao repasse de preço e à venda de produtos de maior valor agregado (a receita bruta por par aumentou 15,4%).

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Já o destaque negativo no mercado interno foi a Melissa, a marca mais conhecida da empresa, que teve retração tanto em receita bruta (-3,6%) quanto volume (-9,5%).

“O encolhimento da renda disponível dos consumidores da classe C, a elevação do price point dos produtos – fruto dos reajustes realizados durante a pandemia – e a ausência de produtos ‘hits’ são os principais fatores que explicam o sell-out mais fraco dos clubes Melissa”, afirma Albuquerque.

Indicador 2T22 2T23 Variação
Receita líquida 517,2 463,6 -10,40%
Receita bruta 641,4 586,2 -8,60%
– Mercado interno 498,6 499,3 0,10%
– Exportação 142,8 86,9 -39,10%
Despesas operacionais -173,6 -189,5 9,20%
Ebitda 28 24,3 -13,10%
Ebitda recorrente 35,8 53,1 48,40%
Margem bruta 34,20% 40,90% 6,7 p.p.
Lucro financeiro líquido 67,6 72,4 7,00%
Lucro líquido 65,7 57,2 -12,90%
Lucro líquido recorrente 73,4 84,7 15,40%

A Grendene

Fundada em 1971 em Farroupilha (RS), a Grendene é uma das maiores produtoras de calçado do mundo, com 4 unidades industriais em 2 estados (Ceará e Rio Grande do Sul) e cerca de 15 mil funcionários. Dona das marcas Melissa, Rider e Ipanema, a companhia tem o licenciamento de nomes como Azaleia e Mormaii e capacidade de produzir 250 milhões de pares por ano.

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A família Bartelle detém cerca de 70% do capital da Grendene e os outros 30% são negociados em bolsa (o 3G radar tem cerca 9% das ações da empresa, o que diminui a liquidez do free float). Os papéis da empresa acumulam alta de 1,62% no mês e 22,88% no ano, mas ainda estão bem abaixo do pico histórico, atingido em 3 de janeiro de 2019 (R$ 12,43).

Lucas Sampaio

Jornalista com 12 anos de experiência nos principais grupos de comunicação do Brasil (TV Globo, Folha, Estadão e Grupo Abril), em diversas funções (editor, repórter, produtor e redator) e editorias (economia, internacional, tecnologia, política e cidades). Graduado pela UFSC com intercâmbio na Universidade Nova de Lisboa.