Grécia: um acordo que não veio para ficar

O acordo grego terá efeitos positivos no curto prazo. Todavia, logo se verá que é inexequível

Francisco Petros

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O pacote de 86 bilhões de euros pode ser qualificado como humilhante para o primeiro-ministro grego Alexis Tsipras. De fato, Angela Merkel não teve maiores dificuldades para pisar no pescoço dos gregos por meio do premiê grego. Foi mais fácil que quando os franceses e ingleses impuseram o Acordo de Versalhes ao final da Primeira Guerra Mundial, em 1919 e engendrou a Segunda por força das pesadas somas de recursos que os alemães teriam de restituir aos aliados e que, de fato, eram impagáveis. Ocorre que a Grécia é pequenina (2% do PIB europeu) e Tsipras blefou demasiadamente.

Até quarta-feira o parlamento grego tem de aprovar o plano. Senão, tudo vai à bancarrota e é o fim da Grécia no euro. Esta é a regra germânica que, diga-se, ainda parece ter sido suavizada pelo insosso presidente francês François Hollande. Para se ter uma noção das regras impostas por Berlim, o governo de Atenas terá de cortar ainda mais as pensões, aumentar tributos, formar um fundo com ativos públicos de 50 bilhões de euros – Merkel quis que tais ativos fossem depositados em Luxemburgo o que afetaria ainda mais a soberania grega -, além de medidas e aumento de eficiência na arrecadação e nos serviços públicos.

Tudo isso em meio a 25% de desemprego (50% entre os jovens), escassez de matéria-prima, hospitais fechados, falta de combustíveis, etc. Note-se que do lado dos credores, nada ficou compromissado em relação à capitalização dos bancos e dos juros, bem como em termos do corte da dívida total, o que era essencial para Alexis Tsipras.

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Ocorre que isto tudo é apenas uma negociação formal. Daqui para frente vem a realidade e esta é implacável. Não é certo que o parlamento aprove o tal pacote. Nesta hipótese o que ocorreria na sequência é imprevisível, pois não há hoje na Grécia nenhuma força política centrista capaz de ascender ao poder e estabelecer mínimas condições de governabilidade. Isto é a tragédia que a Europa assiste de forma vergonhosa, como se isso fosse algo meritório para a “estadista” Angela Merkel a qual não passa de coveira de uma Europa unida.

Não há possibilidade mínima de a atividade econômica da Grécia ser retomada em patamares razoáveis para que saia em prazo igualmente razoável do quadro depressivo que vigora.

No contexto atual, a capitulação grega vai afetar positivamente os mercados no curto prazo e será notícia por um longo período, pois os termos duros impostos restabelecerá as incertezas em pouco tempo. A dívida grega é impagável, o país está em colapso, o povo está em frangalhos e nada tem a perder. A Velha Europa assiste a tudo impassível.

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Interessante em tudo isso é verificar que mesmo a periferia da Europa está contra a Grécia, no caso Portugal, Espanha, Polônia, Irlanda (essa em menor medida). Nesse isolamento total não é de se imaginar que os gregos possam ir longe. Mesmo que não estejam muito errados quanto ao fato de que a saída parece bem estreita.